segunda-feira, 29 de julho de 2013

Refutando Uma Refutação ao Dragão na Garagem de Carl Sagan


"A história vai assim: alguém ALEGA para outra pessoa que possui um Dragão na sua garagem."

Da mesma forma que um crente retardado TAMBÉM ALEGA que existe um ser invisível que criou o universo, fez um monte de merda, mas, para encobrir as merdas que ele próprio fez, assassina o próprio filho com uma cruz de madeira enfiada no rabo para que ele ressuscite três dias depois de morto. OK. Até agora, NENHUMA diferença entre o mito deus e o mito dragão. Ambos são alegações sem provas.

"O outro vai até lá e não vê nada. Ele sugere alguns testes, mas a primeira pessoa tem alguma desculpa para os testes não funcionarem. Dessa forma, no fim, fica impossível verificar se o Dragão existe ou não."

Assim como deuses de merda como o YHWH hebraico. Qual é a desculpa esfarrapada que os crentes dão para que o deusinho mequetrefe deles não passe pelo método científico? "Ah, Deus é um ser metafísico, sua existência não pode ser provada por meios materiais, e sim pela filosofia". Olha só, podemos aplicar a mesmíssima desculpa para o dragão invisível! Isso, porque através de "argumentos filosóficos" pode-se "provar" as coisas mais absurdas, desde a existência de deuses até a honestidade da maioria dos políticos do Brasil.

"A conclusão retirada pelo neo-ateu é que se trata do mesmo caso para a existência de Deus."

Não só do deusinho de quinta categoria da mitologia hebraica como de todos os outros deuses de todas as outras mitologias.

"O primeiro erro crasso da história é fazer uma analogia entre um ser FÍSICO por definição (um dragão) e um ser metafísico – Deus."

Como é que é? O dragão é um ser físico POR DEFINIÇÃO? Se for, QUEM definiu isso? Com base EM QUÊ? DESDE QUANDO alguém já conseguiu provar cientificamente que dragões existem ou já existiram? Onde está o artigo científico que PROVA a existência FÍSICA de dragões? Com respeito à metafísica, trata-se de algo tão útil quanto papel higiênico usado. Sabem qual o valor da metafísica na comunidade científica? NENHUM! Portanto, essa conversa fiada de "ser metafísico" não tem qualquer embasamento científico. Cientistas se guiam por evidências, não por "argumentos metafísicos".

"Essa é a falácia da Inversão de Planos."

A falácia aqui, por parte do crente, é a da comparação indevida. Como eu deixei claro acima, dragões e deuses são seres mitológicos. Portanto, estão SIM no mesmo plano. Se alguém praticou falácia aqui, foi o crente. Além disso, ainda afirmou que um dragão é um "ser físico" sem apresentar provas.

"A alegação da existência de algo físico é verificada empiricamente."

Ele não provou que dragões são seres físicos e continua insistindo com essa bobagem.

"Já a discussão sobre a existência de algo metafísico é discutido no plano FILOSÓFICO, que está um nível acima do científico."

Quer dizer que a metafísica está "acima" da ciência, não é mesmo? Um afirmação dessa só pode ser piada. Não existe o que os crentes chamam de "prova filosófica". Tente passar um artigo científico baseado apenas em "argumentos metafísicos" em um processo de revisão de pares. Só vai conseguir arrancar risadas da bancada de cientistas que revisarem o artigo.

"Nesse caso, a ausência de evidências empíricas esperadas para algo empírico é suficiente para dizer que esse algo não existe."

Um dragão invisível é algo empírico? O crente só pode estar de brincadeira...

"Claro que a refutação, seguindo a linha da história de Sagan, que vem em 95% dos casos é: 'Mas esse Dragão não é um Dragão comum; é um Dragão imaterial e espiritual'. Mas um ser que não tenha forma nem características físicas pode sequer ser chamado de Dragão?"

É a fé daquele que acredita no dragão. Ele vê e conversa com o dragão, e a fé dele não pode ser questionada. Os desígnios do dragão são misteriosos. Abra o seu coração para o dragão, tenha fé nele e você entenderá os mistérios da fé. Lembre-se que o dragão é invisível, ele é um ser "metafísico", "espiritual", e, portanto, "as coisas espirituais se discernem espiritualmente". Não seja ateu, creia no dragão e você o verá.

"Esse é o estratagema erístico da Distinção de Emergência. Palavras e nomes não surgem sem causa do nada; eles se referem a entes específicos de acordo com a necessidade de indicar historicamente, sendo que cada nome possibilita o entendimento e a diferenciação dos entes. E o que diferencia os seres físicos um dos outros são suas características essenciais de forma e etc. Como sabemos que uma flor não é uma pedra? Pelas suas características físicas. Mas se um ente X perde TODAS suas características físicas, como ainda podemos chamá-lo pelo seu nome físico? Essa seria uma violação absurda de qualquer noção de identidade."

Ué, mas o personagem YHWH é antropomorfizado no Gênesis, quando se diz que "o homem foi feito à sua imagem e semelhança". Geralmente ele não recebe representações pictóricas, mas isso não é uma regra. Pela descrição do Gênesis já é possível formar uma imagem mental do personagem em questão, como o fez, por exemplo, Michelangelo em sua pintura da Capela Sistina. Por mais que os crentes esperneiem, o personagem YHWH tem características físicas, sim, pois é uma representação antropomorfizada do próprio homem.

"E o que diferencia os seres físicos um dos outros são suas características essenciais de forma e etc. Como sabemos que uma flor não é uma pedra? Pelas suas características físicas. Mas se um ente X perde TODAS suas características físicas, como ainda podemos chamá-lo pelo seu nome físico? Essa seria uma violação absurda de qualquer noção de identidade."

Baseado em quê pode-se afirmar com 100% de certeza que um "espírito" não possui características físicas? O crente em YHWH é um ateu, pois ele não acredita no dragão. Esses ateus...
"Então se ele alegou que era um Dragão com 'fogo' e 'ventas', deveria ser físico; se não é físico, então é outra coisa e a história já poderia terminar por aí."

Termina na usa cabeça. Na cabeça de quem acredita no dragão só está começando. Por que DEVERIA ser físico, o crente não explica, pois o "fogo" pode ser um fogo espiritual, e as "ventas" igualmente.

"Nessa hora, ele pode desistir de chamá-lo de Dragão e dizer: 'Ok, realmente não tem lógica chamar um ser imaterial de Dragão. Mas como você sabe que não existe algo imaterial na minha garagem?'."
Também não tem o menor cabimento afirmar a existência de um ser invisível que, hipoteticamente, teria criado tudo no universo sem apresentar uma única prova. E outra: esse crente está comprando briga com o kardecismo, já que essa doutrina afirma existir representações perfeitas no "mundo espiritual" de tudo o que existe no "mundo material". Por que não existiria um dragão, mesmo que esse personagem não passe de ficção por aqui, no que os kardecistas chamam de "mundo material"?

"Como eu expliquei, aí entramos em uma discussão que é filosófica, não científica."

Claro, crentes precisam da masturbação mental oferecida pela filosofia para dar um verniz de seriedade aos seus delírios. Eles sabem que não conseguem empregar o método científico para provar as suas alegações, por isso apelam para esse joguinho de falácias que só a filosofia pode oferecer.

"E temos que providenciar justificativas filosóficas para a alegação."

Lá vem mais do mesmo, quer ver?

"A resposta deveria ser uma de três: '(a) Eu sei que não há, porque eu tenho argumentos CONTRA a existência do ser sem forma imaterial na sua garagem;' '(b) Eu não sei se há, pois eu não tenho argumentos contra, nem a favor;' '(c) Eu sei que há, pois eu tenho argumentos a favor da existência desse ser;'."

Talvez o crente no dragão respondesse assim:
(a) Eu não quero argumentos, quero PROVAS. Não sabe a diferença entre um e outro?
(b) Eu sei que há, e argumentos de ateus como você não me interessam. Você precisa ter FÉ para saber que o dragão existe.
(c) Sim, você tem fé, assim como eu. Esqueça esses ateus e esse papo furado de "método científico".

"No caso de Deus, temos livros e livros de filosofia que tratam da racionalidade da crença em Deus e da Sua existência."

Livro qualquer um pode escrever sobre qualquer coisa. Troque a palavra "deus" e coloque "saci pererê" no lugar, e vai dar na mesma. Existe algum artigo científico que passou por revisão de pares e que foi publicado em periódico indexado que comprove a existência desse deusinho de merda que gosta de brincar de esconde-esconde e que precisa de gente tosca pra defendê-lo? E crenças não são certezas. A existência do personagem da preferência do crente continua dependendo de fé.

"E o ser sem forma e imaterial na garagem dele? Fica difícil citar qualquer livro na história da Filosofia falando do pseudo-Dragão na garagem."

Ué, mas em determinado momento na História alguém decidiu começar a escrever sobre deuses (e não "deus", no singular, pois o monoteísmo é uma invenção bem recente). O crente no dragão pode querer desenvolver toda uma "dragonologia" em cima de sua crença e começar a escrever livros, já que o "argumento" usado aqui é a falta de uma bibliografia.

"Só por aí já dá para ver que a situação epistêmica para o conhecimento de Deus é DIFERENTE para o conhecimento do pseudo-Dragão. Logo, o pseudo-Dragão NÃO pode ser comparado a Deus."

Entre epistemologia e um monte de esterco, o segundo é muito mais útil. Deuses e dragões, por mais que crentes esperneiem, são seres para os quais não existe a menor evidência de existência objetiva. Não são "livros de filosofia" que determinam se algo existe ou não, pois não existe o que os crentes chamam de "prova filosófica". Através de masturbações mentais filosóficas pode-se "provar" a existência das coisas mais absurdas.

"Detalhe que esse sequer é um argumento CONTRA a existência de Deus."

Não, não é. E nem é contra a existência de Shiva ou de qualquer outro personagem. Mas explicita o absurdo das crenças pessoais que querem se impor como se fossem conhecimento. E que o método para se obter conhecimento não passa nem por perto disso que os crentes chamam de "fé".

"No máximo, teríamos que adotar uma postura agnóstica sobre o assunto até ter justificativa contra."

Não faz a menor diferença.

"Mas talvez o objetivo fosse dizer que a crença em Deus é injustificada do ponto de vista do conhecimento e algo como 'alegações que não podem ser testadas e afirmações imunes a refutações não possuem caráter verídico'."

Poderiam até ser verdade, mas quantas coisas que nem sequer supomos existir podem existir sem que sequer imaginemos que existam? Ficar com masturbação mental, cogitando coisas improváveis é pura perda de tempo e leva ao fanatismo, por querer impor uma mera crença como se fosse uma verdade absoluta.

"Mas como foi visto, tal idéia é falsa."

Não, não foi. Os critérios usados são MUITO duvidosos.

"EXISTE uma base para justificar a crença em Deus."

Sim, existem VÁRIAS bases. Esquizofrenia é uma delas. Outra (a mais usada) é a pura vontade de acreditar, a vontade de que seja verdade. Mas nem sempre o mundo é do jeito que gostaríamos que fosse.

"Da mesma forma, também não é verdade que toda crença sem justificativa ou irrefutável é injustificada ou 'não possui caráter verídico'."

Possui caráter duvidoso.

"Eu tenho várias crenças que não posso justificar"

Eu também, e guardo as mesmas para mim. Ideias que não podem ser justificadas devem ou cair no limbo do esquecimento ou ser guardadas para si próprio.

"mas nem por isso elas são irracionais."

Depende. Uma crença em imortalidade, por exemplo, pode ser derivada da simples vontade de viver para sempre, que, por sua vez, é derivada do instinto de sobrevivência. E instintos são impulsos irracionais.

"Por exemplo: não posso provar que existem outras mentes em outras pessoas. Não posso provar que o mundo externo realmente existe – no máximo, posso adotar isso como uma postura prática."

Masturbação mental ('mental", aqui, no sentido de "cerebral"). Primeiro, o conceito de "mente" é muito controverso. Depois, é preciso conceituar o que é existência, já que a mesma se manifesta em dois sentidos: o subjetivo e o objetivo. No sentido subjetivo, deuses existem, sim. No objetivo, essa existência é duvidosa. Quanto ao mundo, existe objetivamente, embora no nível subjetivo possamos duvidar de sua existência.

"E por isso, eu devo achar que a alegação 'outras mentes existem' não tem valor de verdade? Dificilmente."

"Dificilmente" já diz tudo.

"Essa é uma crença que tenho, que faz sentido com minhas experiências e que, mesmo não tendo justificativa, é útil para meu entendimento do mundo."

"Minhas experiências": evidência anedótica.

"Não há nada de irracional em aceitar essa idéia e muito menos em acreditar que só porque não tenho uma prova disso ela é falsa (lembra a falácia Se não há provas que existe, então não existe)."

Tentou esculachar Carl Sagan, mas se aproveitou de um conceito que foi muito usado por ele: ausência de evidência não significa necessariamente evidência de ausência.

"Enfim, os pontos principais:"

Vamos a eles...

"(1) A comparação de Deus com um Dragão é inversão de planos;"

Não, não é, já que ambos possuem existência duvidosa.

"(2) Se a alegação for de um Dragão imaterial, então é a falácia da Distinção de Emergência, pois algo imaterial não é um Dragão;"

Eu posso formar a imagem mental do que eu imagino que seja um dragão. E uma imagem mental não é algo material.

"(3) Se a alegação for sobre a existência de coisas imateriais, então podemos ir para argumentos contra e a favor da existência;"

Argumentos abundam e invariavelmente desabam em bate-bocas inúteis. O que falta são evidências.

"(4) Há argumentos para a existência de Deus e não há para o pseudo-Dragão, o que os coloca em situações DIFERENTES;"

Há "argumentos" para a existência de qualquer personagem que o crente quiser. Só não há evidências. Nisso, deuses e dragões se igualam.

"(5) Portanto, a analogia falha;"

Wishful thinking.

"Conclusão: O estratagema falha em todos os pontos. O que se dá para tirar daí é que a mentalidade cientificista ainda anda em voga e que o básico de filosofia já é um bom antídoto contra esses erros."

Não, não falha. "Cientificismo" não passa de espantalho de crente. E o "básico de filosofia" não serve para absolutamente nada. Cientistas não perdem tempo com masturbações mentais. Eles possuem algo infinitamente superior para auxiliá-los no árduo caminho em busca do conhecimento: o método científico.

O Crente Que Urubuzou O Jornalista Paulo Lopes


Como é de conhecimento público, o jornalista Paulo Lopes sofreu um infarto. Ele, que mantém há anos um blog onde denuncia as atrocidades cometidas por fundamentalistas religiosos e a irracionalidade das religiões. Como não poderia deixar de ser, os urubus do fundamentalismo se aproveitaram desse lamentável fato para tentar converter o jornalista. Num texto bisonho, o leitor Claudecir começa dizendo que ficou comovido com o triste acontecimento. Até aí, tudo bem.

Em seguida, ele diz que, para um ateu, a doutrina cristã da "salvação" é ofensiva. Não, não é. É apenas idiota. Não existe NENHUMA comprovação científica de que exista vida depois da morte. E, mesmo que existisse, caberia ao crente PROVAR àquele que ele está a fim de "converter" de que a "realidade sobrenatural" por ele defendida é mais "verdadeira" do que a "realidade sobrenatural" defendida, por exemplo, pelos kardecistas. Caberia ao crente cristão provar que, ao invés de "evolução espiritual através de sucessivas reencarnações", o "espírito" passaria pelo que está descrito literalmente na bíblia.

Para o leitor em questão, quem não entende o primitivo texto do NT está com o "coração armado". Típico argumento falacioso de apelo à emoção. Céticos e ateus são racionais, coisa que a maioria dos fundamentalistas parece desconhecer. Tanto é, que ele sugere que o jornalista "desligue" o intelecto para poder "entender" a mensagem da bíblia. Só assim para um crente rebaixar um cético ou um ateu à condição do esgoto intelectual do fundamentalismo. Pura falácia ad hoc na frase: "as coisas espirituais não podem ser discernidas intelectualmente."

A falta de respeito começa no terceiro parágrafo. O crente afirma que a perspectiva do jornalista acerca da vida é "pobre". E o que seria, na visão do crente, uma perspectiva "rica"? Viver confiando em uma mitologia ancestral, que nem um esquizofrênico? Comportar-se igual um retardado que confia em uma ilusão? Depois de se julgar superior ao jornalista, o crente faz as costumeiras ameaças de crédulo desesperado e sem argumentos racionais. Ele parece delirar e diz que o jornalista será "prisioneiro das consequências de suas escolhas."

Em seguida, vem a "aula" de cosmologia e biologia: "Acha mesmo que um universo tão complexo surgiu do nada e evoluiu até a existência do homem no único planeta do sistema solar em condições exatas para a vida? Se estudar o cosmo, verá uma imensidão de galáxias, se estudar os seres vivos encontrará uma complexidade de tipos e tamanhos (do macro ao micro) e o que dizer da flora?!!". Sabe o que isso quer dizer? NADA! Ele pergunta "acha", mas ateus não acham nada, ateus estudam, pesquisam e duvidam. Quem costuma "achar" é fundamentalista, achando chifre em cabeça de gato e desprezando a Navalha de Ockham ao formular ideias idiotas como essa de "criacionismo", adicionando complexidades sem resolvê-las.

Se o crente REALMENTE estudasse cosmologia para valer, saberia que buracos negros (os objetos mais monstruosos do universo) engolem tudo num raio de alguns trilhões de quilômetros; saberia que galáxias colidem; saberia que supernovas explodem liberando quantidades absurdas de energia devastadoramente destruidora; saberia que planetas saem de suas órbitas e colidem com outros (a nossa lua foi formada assim); saberia que, na natureza, predadores estraçalham suas presas, fisicamente inferiores e vítimas fáceis de um ciclo cruel de morte que mantém a vida; saberia que a vida humana é tão frágil que pode ser aniquilada por uma simples bactéria. Se tudo isso é obra de um "planejador inteligente", parece que ele não é tão inteligente assim... Ou deve ser um sádico de marca maior.

Em seguida, o crente não se conforma com a realidade de que tudo acaba. Pobre ser humano... Se agarra a ilusões tão débeis... Mas o pior é o tipo fundamentalista, que, além de se alienar no mar da ilusão religiosa, ainda tenta arrastar outros para essa cadeia de delusão, nessa hedionda godelusion. Que tipo de doença mental é essa em que a vítima ainda deseja que outros sofram do mesmo mal, que fiquem delirando que existe uma "outra realidade" (coisa de esquizofrênico), que sigam mitos ancestrais inventados por povos sanguinários e genocidas?

Prosseguindo, o crente dispara a sua máquina de achismos: "Tem que existir um criador que tem um plano para tudo isso e nós somos seu foco principal. Tem que existir uma eternidade, caso contrário essa vida temporal não teria sentido." Como vemos, a vida TEM que ser como o crente quer, ele não aceita a realidade e adota uma "realidade alternativa". E novamente o papo furado de que para tudo TEM que ter um sentido. É curioso ver a falta de sofisticação de alguns crentes em adotar ideias ingênuas e tentar moldar a realidade de acordo com os seus desejos íntimos. Nem vou me aprofundar muito nesse assunto porque não sou psiquiatra...

No final, uma tirada que eu não sei se é ironia ou ingenuidade... Acho que a segunda opção é a certa: "ter fé em Deus é uma questão de pura inteligência". Obviamente ele se refere ao personagem bíblico. Mas, obviamente, se esquece de que a humanidade já inventou milhares de outros deuses e que esse deusinho hebraico YHVW é apenas um dentre todos eles. Ou seja, ter fé nesse deus que ele escolheu não é uma questão de inteligência, é uma questão geográfica. Se ele tivesse nascido na Índia, provavelmente estaria rezando para Shiva. Ou Ganesha. Ou Krishna. Ou todos eles.

A cereja do bolo fecal evangélico vem bem no final. Deve ser a milionésima vez que eu vejo um crente disparar a imbecil "aposta de Pascal". Além de ser uma aposta que privilegia uma única religião (existe UMA religião certa? Ou TODAS? Ou NENHUMA?), ainda lança uma falsa dicotomia ("céu e inferno"). Depois de tantas falácias, mais uma para finalizar, desta vez um ad baculum: "Pense nisso pois ainda dá tempo de fazer a escolha certa." Mas quem disse ao crente que ELE PRÓPRIO fez isso que ele chama de "escolha certa"? Algum crente diria que é a "voz de deus" e eu diria que já ouvi isso antes em algum filme ("i see dead people...").

O que mais choca é essa coisa de ficar urubuzando um ser humano que está passando por uma situação delicada em sua vida. E eu não deveria ficar chocado, pois já estive hospitalizado e já tive a chance de testemunhar crentes fanáticos entrando no quarto dos pacientes não para ajudar, mas para tentar empurrar abobrinhas bíblicas para pessoas que passam por situações nada fáceis. É um comportamento nem um pouco ético, mas é impossível fazer com que um fanático religioso entenda o quanto está sendo inconveniente. De minha parte, desejo melhoras ao jornalista Paulo Lopes.

Resposta ao Vídeo "Sobre 'Neo ateus' de Facebook" da Julia Jolie


"Quem que já viu alguém se converter por causa de alguma postagem no Facebook?"

Postagens ateístas no Facebook não precisam ter necessariamente essa intenção. Geralmente essas postagens são feitas mais para marcar posição.

"Eu, sinceramente, não entendo esse movimento de neoateus que tomou conta da internet"

Não tomou conta, é impressão sua. Se todos os segmentos estão hoje representados, é sinal da democracia da internet. E o termo "neoateu" já tomou ares de pejorativo, pois é muito usado por muitos fanáticos religiosos raivosos. É estranho que alguém que queira fazer uma crítica construtiva (como parece ser o caso da Julia) se utilize desse termo.

"Sério mesmo que vocês acham que xingando as pessoas, que sendo tão radicais quanto os próprios religiosos que vocês criticam e usando argumentos totalmente sem fundamento ou piadinhas vocês vão conseguir mudar alguma coisa no mundo?"

Radicais os ateus precisam ser. O contrário de radical é superficial. Radical, como a própria etimologia do termo diz, é quem vai às raízes, quem aborda algo profundamente. Talvez a Julia tenha querido usar o termo "extremista", mas eu nunca vi um ateu ameaçar de morte ou com o inferno alguém que não concorda com suas ideias. E a "treta" dos ateus não é com religiosos, mas com fundamentalistas. São esses que enchem o saco e atrapalham a democracia. A Julia não cita exatamente qual argumento ateísta é "sem fundamento", portanto, não dá para fazer uma réplica sobre isso. Com relação ao que ela chama de "piadinhas", isso não é feito com a intenção de "mudar alguma coisa no mundo". É apenas reflexo da natureza esdrúxula das doutrinas religiosas. Um dos melhores documentários dos últimos anos aborda justamente esse assunto. O humorista Bill Maher escancara o lado risível das doutrinas religiosas no excelente "Religulous - Religiões Ridículas". Vale a pena conferir esse documentário.

"Sério mesmo. Eu, sinceramente, acho que esse tipo de ataque às religiões chega até a fortalecer a crença de algumas pessoas"

A Julia se esqueceu de dizer que o contrário também é verdade: a postura ridícula, intransigente, intolerante, medieval, burra e extremista dos fundamentalistas fortalece cada vez mais a descrença de céticos, ateus e de alguns agnósticos. E até de muitos religiosos. Conheço religiosos que não gostam dessa corja de fanáticos que tentam impor as suas crenças como se fossem verdades. E o "objetivo" dos ateus, volto a repetir, não é o de "converter" ninguém, pois proselitismo é coisa de fanático religioso. Para um ateu pouco ou nada importa se alguém resolveu ser ateu ou continuar religiosa, pois nós respeitamos o direito individual de crença de cada um.

"Vocês criam uma espécie de inimigo contra as religiões e esperam que as pessoas magicamente passem a acreditar na Teoria do Big Bang."

Teoria do Big Bang nada tem a ver com ateísmo. É ciência pura. Inclusive, foi formulada por um padre. Há religiosos que a defendem ferrenhamente (inclusive fundamentalistas, basta pesquisar em vários fóruns antigos do Orkut). Ateus defendem a ciência e o método científico. E como o big bang é corroborado pelo método científico, não há por quê considerá-lo falso, caso contrário, não seria nem teoria.

"Vocês criticam a crença dos outros por eles não terem embasamento teórico para isso, mas, sinceramente, a maioria de vocês não estudou o suficiente para ter embasamento teórico para a Teoria do Big Bang também."

Não, Julia, a Teoria do Big Bang é a ÚNICA teoria que explica satisfatoriamente a expansão contínua do universo. E ela foi comprovada por algo chamado RED SHIFT. Só religiosos mais estúpidos fecham os olhos para as evidências. Religiosos mais esclarecidos e até alguns fundamentalistas aceitam tranquilamente a Teoria do Big Bang (e, mesmo que não aceitassem, não faria a menor diferença, pois não estamos mais na Idade Média e os cientistas não precisam mais do aval de religiosos para publicarem seus trabalhos). Quando você fala de "maioria", eu fico meio na dúvida, não sei de onde você tirou essas estatísticas...

"Eu, particularmente, sou ateia".

Que bom.

"Eu, sinceramente, não sei o que faria uma pessoa se converter, mas eu sei que isso não tá funcionando."

Sinto muito que você pense que postagens ateístas no Facebook são feitas para "converter" as pessoas...

"E eu acho que são, é uma coisa que tem quer ser, partir de dentro da pessoa"

É assim que acontece. É a consciência de que a religião é uma criação cultural humana, inútil e ridícula. Mas isso não impede que as pessoas que já conquistaram essa consciência não possam declarar isso sem medo. Estamos numa democracia, não?

"Muita gente é religiosa por causa de coisas que elas passaram na vida, por, pela forma como elas foram criadas e isso é muito difícil de você tirar delas."

Sim, entra nisso a lavagem cerebral, a evidência anedótica e o desamparo do ser humano diante do vazio da existência. Mas quem disse que TODOS os ateus se preocupam em "mudar" o pensamento desse tipo de gente?

"Aliás, a religião, na maioria dos casos, não interfere tanto assim em como ela se comporta ou como ela age, ou os valores morais dela."

Concordo.

"A maioria das pessoas só retira da bíblia o que convém para ela"

Nisso, a bíblia não difere de nenhum livro best seller de autoajuda.

"São poucos, são poucas as pessoas hoje em dia que vão seguir a bíblia ao pé da letra".

A essas, damos o nome de "fundamentalistas". Interpretam os fundamentos de seus "livros sagrados" literalmente, ao pé da letra. Esses são os chatos, os ameaçadores, os terroristas de cristo. Como você disse, são poucos, mas fazem um estrago muito grande. Por isso, devem ser desmascarados publicamente em suas falácias.

"Vocês ficam atacando certas partes da bíblia que não fazem mais sentido hoje em dia."

É justamente por isso que precisam ser atacadas, porque, por incrível que pareça, ainda existem fundamentalistas que enganam pessoas mais ingênuas dizendo que coisas absurdas como "o dia parado de Josué" são a mais pura verdade. A intenção não é nem de abrir os olhos dessas pessoas ingênuas, pois você mesmo afirmou que é muito difícil fazer uma pessoa assim despertar de seu sono dogmático, mas para desmascarar o cinismo dos fundamentalistas, que continuam insistindo com essa postura ridícula em afirmar que foi verdade que Jonas foi engolido por uma baleia (ou por um "peixe grande"). O nível de retardo mental de alguns crentes é tão enorme que eu já ouvi certa vez um crente dizer que se estivesse escrito na bíblia que foi Jonas quem engoliu a baleia, ele iria considerar verdade, só porque está na bíblia, veja só que absurdo.

"Os próprios religiosos já devem estar cansados de ouvir as incoerências da bíblia. Mas não é isso que faz eles acreditarem, não é isso que vai deixar de fazer eles acreditarem."

Não é essa a intenção. A luta contra o fanatismo religioso é como a luta contra as drogas. O fanático que já tem o cérebro cauterizado pelas doutrinas que segue nem vai prestar atenção em argumentos racionais. É como chegar em um viciado em cocaína e dizer: "Hei, pare de cheirar cocaína, isso vai detonar o seu cérebro!". É por isso que afirmei logo acima que a intenção das postagens ateístas no Facebook não é a de "converter" ninguém, pois concordamos que é perda de tempo. É claro que todos gostaríamos de viver em um mundo mais racional, sem fanatismo religioso, sem fundamentalistas, mas sabemos que isso é impossível. Portanto, apenas marcamos posição com nossas postagens não só no Facebook, mas na maioria dos veículos de comunicação que conseguirmos atingir.

"É uma coisa muito complexa, e não é com postagem no Facebook e xingando e chamando eles de imbecis e fazendo ataques à inteligência dessas pessoas que vocês vão conseguir fazer alguma diferença no mundo."

Isso me lembra da piada do cara que era efeminado e perguntou ao amigo: "Quando é que você vai parar de me chamar de viado?". E o amigo respondeu: "Ué, quando você parar de dar o...". Se algum crente der uma demonstração pública de imbecilidade eu vou chamá-lo de quê? De gênio? E lembrando que essa postura de atacar a pouca inteligência da outra parte não tem nenhuma intenção de "fazer alguma diferença no mundo", apenas demonstra que alguns ateus têm tolerância zero com pessoas que querem discutir sobre algo que não entendem.

"A gente tem que lutar por coisas que realmente façam sentido e que mudam o nosso dia a dia, que interferem na nossa vida e na nossa sociedade."

Uma das questões em pauta hoje em dia no Congresso é a luta contra a homofobia. Qual é o segmento que mais nutre ódio contra homossexuais? O dos evangélicos fundamentalistas, como o deputado Feliciano. E sabe por que eles odeiam os homossexuais? PORQUE ESTÁ NA BÍBLIA! Percebeu agora, como o fundamentalismo é algo escroto e que deve ser combatido? O fundamentalismo, ao contrário do que você deixa transparecer, interfere SIM na nossa sociedade e merece ser combatido e desmascarado em suas falácias.

"Na hora de compartilhar as barbaridades da bíblia, está todo mundo lá".

Claro. Quem é a favor de atrocidades?

"Mas na hora de assinar petição contra a invasão da religião no Estado laico... Cadê?"

Isso gera uma grande discussão. Qual é o valor prático de petições? E quem disse que a luta pela manutenção da laicidade do Estado não pode se dar através de outros meios, inclusive por meios virtuais?

"As pessoas deveriam se manifestar por coisas que fazem sentido".

Ateus se manifestam em favor da razão, contra a irracionalidade de crenças fundamentalistas.

"e lutar por um Estado laico e não agredir as pessoas e iniciar uma guerra contra a religião, isso não faz sentido."

Hipérbole da sua parte. Ninguém quer guerra contra religião. A luta pelo Estado laico passa necessariamente pela luta contra o fundamentalismo.

"Os ateus deveriam mostrar que o Estado laico é um direito e é um benefício para todos, para todas as religiões, não só para os ateus."

Sim, concordo, mas a teocracia velada do Brasil sufoca essa luta. Vide o episódio da tentativa de retirar aquela frase idiota das cédulas do real.

"Com essa guerra que vocês criaram, a imagem dos ateus, de uma forma geral, foi muito prejudicada".

Sempre esteve. Isso não é novidade. Não é por uma postura mais ou menos agressiva que isso iria mudar.

"E é difícil levar a sério pessoas que fazem parte de um grupo que deprecia outras pessoas."

Depreciação acontece de ambos os lados. O que você está dizendo pode ser aplicado PRINCIPALMENTE aos religiosos. Uma matéria do Yahoo que deu uma grande repercussão foi o slide "Eles não acreditam em deus". Na foto de Caetano Veloso, mais de dois mil comentários, sendo a maioria esmagadora de crentes. E o teor desses comentários, você reparou? As piores ofensas, e qual foi o "crime" que Caetano Veloso cometeu? Simples, ele só proferiu a frase "deus não existe". Só isso, nada mais. E essa mera frase desencadeou uma onda de fúria e irracionalidade por parte dessa corja de crentes raivosos e irracionais que sofrem dessa doença chamada fundamentalismo. Tem certeza que quer defender e "levar a sério" essa gentalha?

"Eu, sinceramente, gostaria de ver mais manifestações pacíficas e denúncias contra o Estado laico e menos estupidez e xingamentos e coisas do tipo. É isso."

Estupidez é especialidade dos fundamentalistas religiosos. Defesa do Estado laico é o que os ateus mais fazem.

Feliciano e as Suas Mentiras em Nome do Ódio


Feliciano começa as suas mentiras dizendo que é perseguido por um grupo. Mas não é justamente o deputado que vive escrevendo coisas no twitter contra determinados grupos? O que ele queria? Ficar escrevendo abobrinha e ficar sem respostas? É muito cinismo dele querer se colocar na posição de vítima agora. Depois ele faz uma acusação grave, sobre pedofilia. Ora, se ele tem tanta certeza de que ocorreu esse crime, por que ele não denunciou? E, se denunciou, a quantas anda esse processo? Ele não informou nada sobre isso, o que deixa um ar de dúvida sobre essa "denúncia". E, se ele sabe de uma coisa tão grave e não denuncia, ele também está sendo criminoso.

São mostradas cenas de manifestantes na CDH. Depois, o deputado diz que "a bandeira do PSC é a família". Mais uma mentira. Ele não defende a "instituição família", pois esta, como tudo na sociedade, também evolui. Hoje em dia, para que se esteja em consonância com os direitos humanos, é preciso defender TODOS os modelos de família. O deputado defende UM modelo de família, que, como bem escreveu o Robson, do blog Consciência, é o modelo cristão, heteronormativo, patriarcal e autoritário. Esse discursinho resvala na questão da intromissão da religião em assuntos que não lhe dizem respeito em um Estado laico.

Feliciano fala com menosprezo das manifestações, perguntando se havia "algum pai de família" no meio dos manifestantes. É o "brilhante" argumento que ele usa. Como se a ausência de "pais de família" invalidasse o protesto contra o péssimo parlamentar que ele é. Ele também se orgulha de ter, segundo ele, reunido vinte mil pessoas em uma palestra em Rondônia. É óbvio que ele atende à demanda de conservadores, que, infelizmente são a maioria no Brasil. Um tipo tosco, antidemocrático e fascista como Feliciano dificilmente prosperaria em um país desenvolvido, como a Suécia, por exemplo. Em um país miserável como o Brasil, onde a maioria das pessoas é formada por conservadores e analfabetos, tipos como Feliciano, Maluf, Renan Calheiros, Sarney, Collor e outros sempre irão prosperar.

Feliciano mostra as suas garras de mau caráter quando fala mal da classe artística brasileira. Ele tenta tomar cuidado para não generalizar, mas acaba generalizando, quando fala, no final, que não é "pautado" pela vida dos artistas, mas é pautado pela vida dos "trabalhadores" do Brasil. Ou seja, para esse escroto, artista não trabalha. Ele diz que foram "apenas cinco artistas" que protestaram contra ele, mas a classe artística em peso se declarou contra esse fanático religioso. Quando ele fala com menosprezo dos artistas, ele encarna tudo o que há de mais podre e retrógrado que já existiu no passado e só nos faz lamentar por viver em um país onde a maioria vive no esgoto da podridão intelectual e elege um tipo como esse para legislar em nome do povo.

O deputado fala de um suposto ataque de atentado ao pudor praticado por um grupo de degenerados. É um relato duvidoso. Veja bem que ele tem conhecimento de vários crimes, mas parece não denunciar nenhum. Depois, ele se faz de coitado (falácia de coitadismo, muito usada por fundamentalistas para se fazer de vítima e atacar seus detratores) e diz que a família dele está "sofrendo". Deveria ter pensado nisso antes de adotar uma postura fascista e intolerante. Mas o pior é que, ao "denunciar" o que os degenerados fizeram em vias públicas para provocá-lo, ele parece querer dar a entender que TODOS os militantes do movimento LGBT se comportam dessa maneira. É um absurdo como ele gosta de manipular e distorcer fatos...

Uma das falácias mais usadas por fanáticos religiosos em geral é a falácia ad populum. Ou seja, só porque a maioria da população defende uma determinada proposição não significa necessariamente que essa dada proposição esteja correta. Feliciano ataca com essa falácia ao afirmar que a maioria do povo brasileiro é contra o assim chamado "casamento gay". A bronca dos fanáticos é que esse assunto deveria ser resolvido pelo Congresso, mas isso é uma jogada mesquinha. Se ficasse a cargo do Congresso, isso NUNCA seria resolvido. Portanto, o STF, de maneira justa, decidiu uma pauta que o Congresso empurrava com a barriga e que, na maioria dos países de primeiro mundo já foi decidida, como nos Estados Unidos e na França.

Pergunta: "Pastor, eu gostaria de saber se o senhor concorda que quem segue a palavra de deus pode incentivar o ódio". Para "responder", ele comete falácia de inversão. Ele se faz de coitado, de perseguido, e diz que quem incentiva o ódio são as pessoas perseguidas pela irracionalidade do deputado. Outra pergunta: "Deputado Feliciano, eu gostaria de saber se o senhor respeita as opiniões que são diferentes das suas." Ele apenas cita a famosa frase de Voltaire sobre defender o direito ao contraditório. Terceira pergunta: "Pastor, o senhor já sofreu algum tipo de preconceito?". Ele aproveita para se fazer de vítima novamente e relata como já sofreu, já foi chamado de Capitão Caverna (para mim, seria um elogio, um dos meus personagens preferidos) etc.

Ratinho lê um twitt bisonho do deputado sobre "ditadura gay" e pergunta se existe mesmo essa ditadura. Feliciano responde que existe, baseado no fato de que há vários projetos que defendem a causa gay no Congresso. Mas não seria uma hipérbole por parte dele? Chamar de "ditadura" um movimento que não quer prejudicar ninguém, apenas garantir direitos individuais? Mas o pior vem em seguida. Ratinho cita o twitt em que Feliciano afirma que africanos descendem de ancestral amaldiçoado pelo personagem bíblico Noé. Além dessa historinha ser de uma imbecilidade sem tamanho que nem vale a pena ser discutida, é curioso saber quem é tão idiota a ponto de, em pleno século 21, fazer perguntas sobre a formação dos continentes a um teólogo ao invés de fazer essa pergunta a um geólogo...

Mais uma pergunta de uma pessoa nas ruas: "Senhor Feliciano, se o senhor tiver, um dia, um filho homossexual, qual será a sua reação?". Na resposta, Feliciano dá a entender que o lar no qual é formado um homossexual não é um lar sadio. Tamanha demonstração de preconceito não espanta vindo de um fundamentalista cheio de ódio, mas espanta saber que é alguém com esse perfil nojento que preside a comissão de DIREITOS HUMANOS. Como é de esperar, ele ataca o PL-122, algo que já virou lugar-comum entre fundamentalistas raivosos. Enfim, a questão desse projeto só diz respeito aos homossexuais. Mas, antes disso, ele se faz de vítima novamente e diz que a mídia distorce tudo o que ele fala e o coloca de "vilão". Eu é tenho pena da mídia, do tanto que ela apanha desse tipo de gente...

Ratinho lê uma mensagem de um telespectador de tendências nazistas que lança a expressão "heterofobia". O deputado, na maior cara de pau, concorda: "com certeza!". Restou perguntar ao deputado e ao nazista que fez a pergunta quantos grupos de gays que saem às ruas espancando e matando heterossexuais. Ele demoniza as pessoas que estão na luta verdadeira de direitos humanos e, novamente, se coloca na posição de vítima, dizendo que os ativistas estão lutando contra o "pensamento" dele. O pensamento dele é o seguinte: "A podridão dos sentimentos Dos homoafetivos levam ao ódio, ao crime, a rejeição." Um pensamento cheio de "amor", não é mesmo? Ele tenta contornar e dizer que essa declaração aconteceu devido à uma ameaça que ele sofreu, mas por que ele não apresentou o B.O. da ameaça às câmeras do SBT?

Em seguida, ele diz que a homossexualidade não é "normal". Claro, que não é, já que a "norma" estabelecida é a heterossexual. Mas também não é desvio, pois é natural, está na natureza, e não prejudica a terceiros. Depois, ele cita um caso de atentado ao pudor como se esse crime fosse exclusividade de gays. Ratinho coloca no ar vários twitts do deputado, um mais absurdo do que o outro. É absolutamente enojante o show de falácias do deputado que PENSA que representa a maioria. Triste pensar que o fundamentalismo religioso ganha cada vez mais espaço dentro do cenário político brasileiro...

Falácias de religiosos no Hora Brasil


O padre indaga: "O cérebro acaba, mas ele teve um começo. Então, de onde veio o cérebro, de onde veio os seus sentimentos, de onde veio a sua vida? Brotou do nada, caiu do céu de repente?". Não sei se o padre estava falando sério quando formulou esse "argumento", mas é risível, de tão infantil. Aqui ele usa a batida falácia de apelo à ignorância. Implicitamente ele quer dizer que quem fez o cérebro, os sentimentos, a vida, enfim, foi o personagem inverossímil defendido por ele.

Do outro lado, outro religioso completa: "É como dizer que teve uma explosão e aí tudo aconteceu". Outra afirmação extremamente tosca. Neste caso, estamos diante de um espantalho, pois o big bang não foi uma explosão. Típico caso de analfabetismo científico.

Os religiosos encerram com uma pérola: "quem acendeu o pavio [para a suposta explosão]?". Aqui, além de total ignorância científica, temos mais ad ignorantiam. Ou seja, mais do mesmo, nenhuma novidade. Total falta de argumentos racionais por parte dos religiosos.

Caricatura de um "Mundo Ateu" segundo a visão torta de um crente acéfalo


Em minhas prospecções pelo Youtube, encontrei um vídeo intitulado "Um Mundo Ateu". É um vídeo que apresenta uma caricatura do que seria, segundo a visão de um fundamentalista cristão, um mundo dominado por pessoas racionais, desprovidas de crenças em mitologias ancestrais. Como não poderia deixar de ser, o vídeo é um desfile de mentiras, distorções e falácias. Há predominância de imagens sombrias para ilustrar um texto eivado de preconceitos e "chutes". Não dá para levar a sério um vídeo que, na verdade, é um exercício ficcional que tem o intuito de levantar a bola do fundamentalismo religioso em detrimento de um mundo mais racional. Mas vale a pena conferir, nem que seja para ver onde chega o "talento" de alguns fundamentalistas de orientação cristã.

O vídeo é uma palhaçada. Começa com um exercício de imaginação que só pode passar pela cabeça podre de um fundamentalista quando expõe a seguinte frase: "Imagine um futuro distante onde o cristianismo foi esquecido e o mundo ignorou há muito a verdadeira moral que emana de Deus..." Ridículo. A "verdadeira moral" que emana desse deusinho podre referido pelo vídeo inclui apedrejar pessoas por adultério, matar sumariamente pessoas apóstatas, punição severa para pessoas que violem o "sábado sagrado" e outras barbaridades advindas de uma "moral absoluta". A verdadeira moral evolui junto com a sociedade. Na Idade Média, instituições religiosas consideravam moralmente correto matar pessoas na fogueira como punição para o que consideravam crimes. Hoje em dia, nenhuma instituição religiosa séria cogita em aplicar pena de morte a pessoas que desafiem seus dogmas. A moral humanista é infinitamente superior a essa "moral" assassina das doutrinas religiosas, principalmente da cristã.

Certamente uma pessoa civilizada e em sã consciência nem hesitaria em condenar a prática da escravidão. Mas, segundo a bíblia, é uma prática moralmente aceita. O personagem Jesus Cristo fez apologia da tortura de escravos na seguinte passagem: "Aquele servo (escravo) que sabia a vontade de seu senhor e não se preparou, nem fez segundo a sua vontade, será punido com muitos açoites". (Lucas 12:47). Jesus NUNCA admoestou a prática da escravidão, utilizando-se da relação senhor-escravo em muitas de suas parábolas. Uma das coisas que realmente ajudou a acabar com a escravidão foi a filosofia humanista que influenciou os ideais da revolução francesa, incorporando bandeiras como a liberdade, a igualdade e a fraternidade. A verdadeira moral evoluiu através de discussões racionais baseadas na empatia (um sentimento que é uma conquista da civilização) e na filosofia de orientação humanista e secular. Se dependêssemos da "moral religiosa" provavelmente ainda estaríamos na Idade das Trevas.

Em seguida, o texto idiota do vídeo tenta rebaixar a visão de mundo desprovida de crenças em divindades à condição da imbecilidade da fé. É óbvio que a fé é algo obsoleto para a ciência, onde o que importa são as evidências, mas um fundamentalista não possui inteligência ou honestidade intelectual para entender isso. Há um excelente texto de Richard Dawkins intitulado "A Ciência é uma Religião?" que joga luz sobre esse assunto. Para completar a caricatura, o crente que fez o vídeo ainda coloca a imagem de uma paisagem na penumbra, uma imagem sombria, que transmite a ideia de que pessoas desprovidas de fé em seres improváveis vivem "nas trevas". É exatamente isso que transmite o subtexto dessa passagem desse vídeo. Nessa mesma passagem, o texto afirma que o deus bíblico é apenas uma "lembrança de um outro tempo perdido na história". Apenas um exercício bobo de futurologia crental, sem mais o que acrescentar em termos de argumentos. Apenas bobagens de crente fundamentalista.

Na imagem seguinte, o crente define esse possível futuro como sendo "o império da razão" e o mostra como sendo um local escuro sob uma lua cheia. Isso diz muito sobre o pensamento de um fundamentalista. É uma inversão. Para um fundamentalista mais ferrenho, a razão realmente representa as trevas e a fé representa a luz. É justamente o contrário. O período histórico no qual a humanidade foi guiada pela fé ficou conhecido como Idade das Trevas, que só acabou quando a razão passou a ditar as regras, com o Iluminismo. Há um predomínio de imagens sombrias no vídeo para passar a ideia de que um futuro "mundo ateu" seria um "mundo escuro". Mais adiante, o texto continua insistindo na mentira de que existe uma "moral objetiva" e, o pior, seria advinda de um ser fictício. Como já demonstrei nos parágrafos anteriores, isso é uma mentira. A moral é construída através de valores seculares que também evoluem com a sociedade. Na verdade, a religião sequestrou a moral, tentando espalhar a mentira de que é uma exclusividade sua.

O texto toca no assunto do relativismo moral ao dizer que alguns "sentimentos que outrora eram vistos como inferiores e evitados, agora são aceitos em muitas situações e isso passa a ser visto de forma natural." Mais um show de mentiras. Aqui, talvez, o crente tenha querido se referir à homossexualidade, que em sociedades atrasadas era considerado crime e punido até mesmo com a morte, e hoje já é bastante tolerada. Mas o desavisado se esquece de que os próprios chefes do cristianismo tiveram que rever a sua posição diante da escravidão, mesmo com o "livro sagrado" apoiando-a. Isso prova que os cristãos também seguem um certo relativismo moral, caso contrário teriam que aceitar a escravidão como algo "normal", pois está lá, na bíblia, apoiada por figuras como Jesus e Paulo. E outra: muitos analfabetos funcionais confundem "natural" com "normal". Natural é o que está na natureza. Não é o homem que determina o que é "natural". Normal é o que é estabelecido como norma através de determinações prévias de determinada sociedade.

Mais adiante, o texto faz um espantalho sobre a seleção natural, o que não é de se admirar em se tratando de um texto escrito por um fundamentalista. Com criatividade de ficcionista distópico, o autor do texto molda uma sociedade futura ateísta com uma legislação baseada na seleção natural, uma caricatura bem exagerada. Parece ser um exercício infrutífero pensar em uma sociedade ateia sob a perspectiva de um fundamentalista. Hoje em dia temos sociedades cuja maioria da população é desprovida de crenças em divindades. A Suécia, por exemplo. Um país de primeiro mundo com mais de 80% da população que não está se importando muito com inutilidades como a fé religiosa. E daqui surge uma discussão interessante, pois os fanáticos costumam dizer que a Suécia tem altos índices de suicídio, mas se esquecem de dizer que o Brasil, com quase 95% da população formada por religiosos (a maioria, pessoas cristãs) possui altíssimos índices de criminalidade, com altas taxas de homicídio, latrocínio e outros.

A caricatura prossegue, dizendo que o homem desprovido de crenças em divindades vive com felicidade, mas a imagem que aparece é a de um palhaço chorando. Logo depois disso, o vídeo idiota termina de uma forma igualmente idiota, evocando a doutrina irracional do sacrifício, uma doutrina imbecil cultivada por povos primitivos, violentos e selvagens. Povos primitivos pensavam que derramando sangue, poderiam aplacar a ira dos deuses. O deus dos hebreus, então, teria mandado seu filho para morrer e apagar um erro imbecil que ele próprio teria cometido. Ou seja, nada inteligente para um deus perfeito. Mas essa é uma questão doutrinária interna dessa religião, muita gente considera plausível e nem vale a pena se estender nisso. Mas colocar uma doutrina estúpida como essa de "morte para salvar a humanidade" para fazer contraponto com uma sociedade racional é meio fora de propósito. Mas normal para um fundamentalista, tipo de gente que não prima muito pela inteligência.

O Papa Francisco e o Anacronismo da Igreja Católica


Eu não sei se a Igreja Católica tem que se modernizar, porque esse é um problema exclusivamente da instituição e daqueles que seguem a Igreja Católica e que ficam sempre com essa dúvida, se ela deve se modernizar ou não. O anacronismo da presença do Papa tem várias dimensões, e nós estamos vendo isso todos os dias. Por exemplo, o Papa fez uma pregação em que conclamou os jovens a se engajarem numa luta contra a corrupção (o que é muito correto, diga-se de passagem). Ele também tem um discurso de valorização da velhice, da infância, da juventude, da inclusão dos pobres etc. Mas, em momento algum ele incentivou os jovens católicos a vigiarem a própria Igreja Católica em seu atos de corrupção. A Igreja Católica está atravessada de corrupção, todo mundo sabe.

Em momento algum o Papa Francisco disse aos jovens da JMJ para ajudarem o Papa a combater a corrupção que emana da própria igreja. Em momento algum ele disse aos jovens para ficarem alertas em relação aos maus tratos da igreja com relação às crianças. Os casos de abuso sexual de padres contra crianças são notórios e conhecidos por todos. Ele tem que se manifestar SEMPRE contra isso e não apenas quando toma posse do cargo. Ele não pode simplesmente chegar em um país e se dirigir a multidões como se não estivesse acontecendo nada de grave nos bastidores da Igreja Católica. Ele tem por obrigação se dirigir a esses jovens e pedir que os mesmos ajudem a vigiar e combater as mazelas internas da própria Igreja Católica, vigiar a própria hierarquia da igreja nesse sentido.

O discurso do Papa Francisco é populista porque tenta ignorar toda a dimensão complexa e contraditória da própria instituição da Igreja Católica. Quando Bergoglio assumiu o Papado, ele até se comprometeu em combater a corrupção e os escândalos sexuais da igreja, mas o que ele não fez (e perdeu a chance de fazer durante a JMJ no Rio de Janeiro) foi conclamar a juventude católica a vigiar e combater esses males. Ele quer tratar esses problemas como sempre se tratou na igreja, como assunto que deve ser tratado internamente, sem uma partilha de responsabilidades com a própria comunidade eclesial. Talvez ele não tenha feito isso porque essas máculas ferem a imagem da igreja e mostram que essa instituição não é assim tão diferente de outras instituições humanas.

Todos esses problemas enfrentados pelo atual Papa (problemas que supostamente levaram o anterior a renunciar) mostram não apenas que a Igreja Católica é uma instituição falível, humana, que não tem absolutamente NADA de transcendente, mas também que, por ser MUITO hermética, muito fechada, os problemas internos podem ser até mais graves do que os de outras instituições humanas. Esse hermetismo da ordem eclesial mostra-se também como uma das faces que revela o gritante anacronismo dessa instituição medieval. Uma coisa é preservar os dogmas, que, por definição, são imutáveis. Outra coisa é tentar conciliar um discurso que tenta ser progressista com a manutenção desses mesmos dogmas ancestrais. Esse, talvez, seja o maior desafio que esse Papa possa enfrentar.

segunda-feira, 22 de julho de 2013

A Questão dos Médicos Estrangeiros no Brasil



A reclamação dos médicos com relação aos vetos da presidente Dilma ao Ato Médico não é simplesmente uma questão corporativista, mas há aí também um interesse de mercado. O governo errou em não ouvir mais a Federação Nacional dos Médicos, mas não apenas essa entidade. Quando você permite que a situação se estruture de um modo que tenha o Estado de um lado e essas entidades de outro, a coisa fica complicada. Essas entidades estão por aí há muito tempo e a representatividade das mesmas, muitas vezes, é discutível. Nesse cenário, a situação para impasses é muito clara quando o governo pretende realmente estabelecer mudanças, porque qualquer mudança vinda de cima para baixo mexe em situações acomodadas. E essas entidades, por definição, são representantes de situações acomodadas.

O governo quer uma transformação, quer uma mudança, e ele não pôs em prática o método mais razoável, que seria o de ouvir, mas não o de ouvir essas entidades em si, não apenas elas. A questão de trazer os médicos estrangeiros para trabalharem no Brasil acarreta problemas que ainda não estão sendo abordados. O problema principal, no qual até podem ser notados traços de corporativismo, é que trazer médicos de fora significa aumentar a ideia de que a medicina é quem governa a relação médico-paciente porque a barreira da língua vai transformar essa relação em uma relação ainda mais muda por parte do paciente. A anamnese, que é aquele momento em que o médico ouve o paciente, que tem o repertório da história do seu corpo, do seu sofrimento, das suas dores, da memória da sua trajetória clínica, vai ficar comprometida em nome de uma "ciência" que se aplica indistintamente sobre todo mundo que está doente, padecendo de uma doença específica. Não é assim.

Nós sabemos que a doença aterrissa no indivíduo, ela "nasce" no indivíduo, ele tem uma história. E ninguém fala disso. Ninguém está valorizando a discrepância que vai haver entre o exercício da ciência médica e o paciente como porta-voz de sua própria dor.

A Crise da Representatividade no Brasil e no Mundo




O status quo da política no Brasil só vai mudar se a pressão das ruas continuar, ainda que não continue com a mesma frequência, porque esses movimentos são sempre sazonais. Mas essas evidências internas de tendência à acomodação depois da pressão inicial podem nos levar a não considerar o fato de que essas movimentações que aconteceram no Brasil são coisas que têm relação com uma crise que é mundial. Esta é um crise mundial de representatividade. A representação exercida por profissionais é que está em crise aqui, na Espanha, no Egito. É essa crise que vem se alinhavando. E as respostas que vem sendo dadas internamente são respostas dadas pelos políticos profissionais.

Na verdade, os políticos não estão dando uma resposta, eles estão é se preparando para dar o troco, porque as reivindicações do povo não vão se sedimentar enquanto não houver um questionamento efetivo da ordem no Brasil, da ordem burocrático-profissional da política brasileira, que é semelhante à realidade de outros países. A situação não vai se resolver com pequenas reformas. Aliás, é curioso, porque em países que possuem o voto majoritário distrital, eles veem os impasses e ficam pensando que seria melhor o voto proporcional com lista aberta, como tem no Brasil. E, no Brasil, como temos os mesmos impasses, eles ficam pensando que seria melhor o voto distrital, como tem em outros países.

Isso é sinal de que o problema não está aí, e, portanto, o problema não está na ordem que os políticos profissionais podem nos dar, na resposta que eles podem nos dar. Não. A resposta está num plano muito diferente, que é o de questionar o fato da representação, não a gestão ou o judiciário, mas a representação, o fato da representação ser exercida por políticos profissionais que têm a possibilidade de se reeleger infinitamente. A quebra desse paradigma, desse fenômeno infeliz gerado pela representatividade, que é o carreirismo político, é que teria que ser o alvo principal dessa possível reforma política. E esse tipo de questão está nas mãos de quem não tem o menor interesse em que isso seja efetivado.

Vejamos o caso de Renan Calheiros. Renan diz que é representante e que o avião pode ser usado para o exercício da representação. Mas em um casamento de um correligionário? Eles estão absolutamente misturando a dimensão da representação, que eles incorporaram como uma profissão em qualquer atividade que eles tenham que desenvolver e nas quais eles empreguem o tempo deles. É evidente que essas quantias como a que foi gasta por Renan são irrisórias. O gasto do Renan foi o que apareceu, mas o que tem de viagem dá uma soma grande. Essa soma pode dar, provavelmente, alguns milhões. Esses alguns milhões não tapam sequer um buraco de cárie. Então por que isso tem importância? Não é pela razão econômica, é pela razão simbólica.

Uma postura como a do senador Renan Calheiros mostra o divórcio que há entre os políticos profissionais e o tipo de representante que o povo gostaria que estivesse lá. A representação é um fluxo da sociedade no sentido em que a sociedade se manifesta e precisa se reconhecer em seus representantes. Não é como no Executivo, onde o representante não é necessariamente um representante, mas um gestor. Ele não precisa ouvir a sociedade o tempo inteiro, mas o legislativo, sim. A sociedade é fluxo, mudança, e políticos como Renan transformaram isso numa rotina, numa estrutura própria totalmente separada. O bom desses privilégios é que a imprensa pode iluminar essa distância, essa ausência de fluxo.

A imprensa realmente explicita a existência de rotinas absolutamente cristalizadas que mostram como os políticos profissionais estão de costas para nós. Quando a repórter pergunta ao Renan Calheiros se é ético usar dinheiro público em viagens particulares, ele dá uma resposta absurda para ver se cola e, quando percebe que não cola, se vê obrigado a voltar atrás. Um político voltar atrás significa que nós, o povo, estamos ganhando terreno? Duvido muito. Os políticos é que estão tentando ganhar tempo, porque na hora em que houver um recuo nos protestos, políticos profissionais como o senador Renan Calheiros voltarão a desfrutar dos mesmos privilégios espúrios que desfrutam exatamente neste momento.

O primeiro impacto das manifestações não foi eleitoral, e sim de imagem pública (vide a popularidade da Dilma, que despencou vertiginosamente após os protestos), mas isso não conta para a eleição, onde o que vale é uma imagem que também é rotinizada. Se não houver desdobramentos das manifestações até 2014, poderemos ter uma regressão nos avanços. Discute-se muito sobre o plebiscito, mas deveria haver plebiscito E referendo. As duas coisas, pois há demandas que só o plebiscito poderá resolver, e o referendo servirá para a aprovação ou não do que foi decidido no plebiscito. O fato dos políticos profissionais se mostrarem interessados nessa discussão parece ser mais uma artimanha para empurrar as coisas com a barriga e fazer as pressões por mudança esfriarem.

A Resposta dos Políticos às Manifestações




O risco que corremos agora é o de que a resposta dos políticos às manifestações não seja uma resposta, seja um troco. Isso mesmo, Os políticos podem querer dar o troco. E dar o troco significa o seguinte: tomar medidas e adotar alternativas de mudança que vão se transformar numa reforma CONTRA a mudança, uma reforma que vai dificultar ações como essas que ocorreram, que vai dificultar a representação. Agora, sobre plebiscito e referendo, o ideal é que tivesse as duas coisas. O plebiscito é para perguntar antes o que o Congresso DEVE fazer e o referendo vem depois para perguntar se o Congresso FEZ aquilo que o plebiscito diz que o Congresso DEVERIA fazer. Por quê? Porque um plebiscito não deve se debruçar sobre detalhes.

A pergunta de um plebiscito, neste caso as perguntas, deve ser muito técnica. As perguntas devem ser muito técnicas. Então, os eleitores fazem uma escolha num plebiscito. O Congresso, como representante (vamos dar um voto de confiança nele), vai se sentar e, bem desconfiado, vai fazer um corte. Muito desconfiados, eles fazem uma mudança lá à luz do que o plebiscito decidiu e aí eles voltam com o referendo para que o eleitor diga se a mudança que eles fizeram tinha a ver com o que o plebiscito decidiu antes. Esse jogo de ida e volta é perfeitamente viável hoje. O referendo protege as reivindicações dos manifestantes e faz com que os eleitores se aproximem REALMENTE da ideia do que é um representante.

O problema do plebiscito nem é o plebiscito em si. O país que mais realiza plebiscitos é a Suíça, que é um belo exemplo de país de primeiro mundo. Aliás, Suíça e Estados Unidos são dois exemplos de países bem diferentes, mas que têm uma forte tendência à descentralização. A América Latina é supercentralizada. Alguém participa de uma manifestação e exibe um cartaz com a seguinte inscrição: "DILMA, ME TIRE DAQUI!". Esses países da América Latina fortemente centralizados possuem uma tendência igualmente forte de produzir fenômenos políticos como o caudilhismo, por exemplo. Já em um país descentralizado, como a Suíça, o plebiscito é uma forma autêntica de manifestação do desejo popular.

Essa discussão levanta outra questão: o quão repleto de mediações é o corpo político de uma sociedade. Quanto mais mediações tem, mais o plebiscito aterrissa na forma de debates laterais para depois afunilar. Em países de pouca mediação institucional, o que acontece é que o plebiscito se tornará uma ponte direta entre as autoridades e a massa. Nós temos que transformar a discussão sobre o plebiscito no Brasil em algo que se aproxime à discussão sobre uma telenovela de grande audiência. No Brasil, uma telenovela só é considerada um grande sucesso quando as pessoas começam a discutir sobre ela no trem, no trabalho, na escola etc. É a formação partilhada da preferência. Quanto mais partilhada for a formação, mais as pessoas conversam lateralmente, mais massa crítica tem. Quanto mais elas decidem sozinhas, olhando para cima, menos partilhado é.

As Manifestações de Junho de 2013 e a Homofobia de Marco Feliciano




Uma das bandeiras levantadas pelos manifestantes nos protestos feitos nas ruas foi a luta contra a homofobia e, em consequência, contra figuras nefastas que emporcalham o Congresso Nacional, como Marco Feliciano. Apesar de tosco, Feliciano é muito sagaz. Ele já percebeu que este momento, para ele, é uma oportunidade única. Os partidos comprometidos com os direitos humanos até então abandonaram a comissão de direitos humanos porque entenderam que ela é pouco rentável. Feliciano viu nisso uma oportunidade e se aferrou a ela como um náufrago se aferra a um toco de pau. E ele vai tirar desse pau seco o suco que ele conseguir tirar. Ele vai botar toda a pauta conservadora dele nessa comissão, dificilmente essas coisas vão prosperar e ele terá conseguido tudo o que ele queria.

Mas a pergunta que não quer calar é: por que ele está aprontando toda essa confusão? A minha resposta é que ele está aprontando toda essa confusão para ter concentrada na figura dele uma porção considerável do voto conservador, porque existe uma porção significativa do eleitorado conservador e religioso que se distribui por candidatos menores que nem têm chance de vencer. E essas pessoas, que antes estavam desorientadas, agora têm para onde olhar. Elas olham em direção ao Feliciano. Ele vai ter uma votação estrondosa nas próximas eleições por esse segmento e vai reconduzir a sua vidinha sem efetivamente poder provocar nenhum dano severo. Ele vai ser neutralizado pelo processo democrático brasileiro, não há a menor dúvida disso. Mas vai enxugar o voto de muita gente, com certeza.

É claro que ele vai se reeleger, pois grande parte dos eleitores dele compartilha de ideais homofóbicos e de ódio nutridos pelo deputado. A posição de Marco Feliciano dentro do cenário conservador é bem específica: ele é um evangélico fundamentalista que trava uma batalha contra os homossexuais (com a ajuda de outros excrementos como João Campos, do PSDB de Goiás) e que, portanto, tende a capitalizar muito esse tipo de voto. Há outras posições que podem ser elencadas como conservadoras do ponto de vista político que não têm nada a ver com essa postura ridícula de Feliciano. Por enquanto, os manifestantes venceram a primeira batalha, pois o projeto apelidado de "cura gay" foi retirado da pauta da comissão, embora seu criador, João Campos, não tenha admitido que tenha retirado por pressão popular.

O Trabalho da Imprensa Durante os Protestos




O trabalho da imprensa durante os protestos também foi muito difícil. Caco Barcellos, da Globo, foi muito hostilizado por manifestantes mais exaltados. Carros da Record, do SBT e da Bandeirantes foram incendiados. Isso, sem falar de repórteres que foram atingidos por projéteis de borracha disparados pela polícia. Nessa questão dos maus tratos à imprensa também é importante não misturar as coisas. Em primeiro lugar, a situação da Rede Globo é bem pior do que de todas as outras. A Rede Globo teve que inventar o jornalismo de edifício, porque já não conseguia caminhar nas ruas, no meio de outras pessoas. Essa hostilização da Globo por meio de outras pessoas acontecia por causa do papel que a TV Globo exercia no passado, de manutenção de uma ordem autoritária estabelecida.

Até hoje as pessoas não se esqueceram do papel de pelego que a Globo exercia durante a ditadura militar e, por isso, a emissora ainda paga o preço. Por outro lado, a Globo passou toda a sua cobertura tentando dirigir o movimento, tentando fazer ela uma interpretação do que era o movimento. Por isso os repórteres da Globo tiveram que esconder a logomarca da emissora várias vezes nas ruas. Outra coisa foi o que aconteceu com os outros repórteres, que não precisaram se esconder, nem esconder o logo das respectivas emissoras. Então, são coisas diferentes. Uma coisa é o sujeito ser hostilizado sem ser agredido, como foi o caso do Caco Barcellos, outra coisa é tiro da polícia e vandalismo. Estão juntando coisas que têm que ser desmembradas.

Agora, quem hostilizou Caco Barcellos, provavelmente, nunca leu Rota 66. Mas também talvez tenham hostilizado o Caco não em fator do repórter em si, mas em fator de quem paga o salário dele. O problema dos manifestantes é onde o Caco trabalha e, por isso, ele tem que pagar o ônus de ser hostilizado pelo fato de ele trabalhar nessa empresa. O Caco Barcellos é uma grande figura pública, mas foi hostilizado porque as pessoas não toleram a presença da Globo numa manifestação pública como essa. E essa antipatia foi sendo construída ao longo dos anos, tanto durante a ditadura militar quanto durante a agonia da mesma, quando parte significativa da população foi às ruas e exigiu eleições diretas para presidente da república.

O Perfil do Eleitor-Telespectador Brasileiro




No Brasil, eleitor e telespectador são a mesma pessoa, pelo menos na maior parte das vezes. No Brasil, que é um país de escolaridade tardia, com uma população de baixa escolaridade, sem a experiência da leitura, a imagem e a narrativa audiovisual têm um peso fundamental. Está aí o êxito da televisão, o êxito da TV Globo, o êxito dos vídeos do Youtube para confirmarem esse fato. Por isso, podemos dizer que o eleitor brasileiro também é um telespectador e também por isso também podemos dizer que ele é tão exigente com um político diante da televisão, porque ele transfere para a política a exigência que ele tem como telespectador. Então, a narrativa política tem que ser tão enfeitada e cheia de recursos de ourivesaria quanto é a narrativa jornalística e a narrativa teledramatúrgica.

O eleitor-telespectador tem um olho já treinado e, por isso, possui um alto nível de exigência nesse aspecto televisivo, de transmissão de imagem. Se juntarmos essa característica sociológica de nossa formação com a profissionalização da política, veremos que a combinação dessas duas coisas torna tudo muito técnico. A política deixa de ser representação e passa a ser uma técnica de reprodução. E é nesse cenário que os marqueteiros passam a ter um peso muito grande, totalmente desproporcional, porque eles são técnicos da reprodução de narrativas armadas. Mas essa relação não se dá apenas em países com maioria de analfabetos, como é o caso do Brasil.

Na década de 1960, quando houve a transmissão de um debate entre Nixon e Kennedy, quem ouviu pelo rádio, preferiu o Nixon. Mas quem viu o debate pela televisão preferiu o Kennedy. E por que isso aconteceu? Kennedy era bonitão, estiloso, charmoso, e isso chamou a atenção, pois a televisão é um veículo que privilegia a imagem e nem tanto a mensagem. Mas o rádio é uma mídia cega, onde o que vale é a mensagem e nunca a imagem. E, através dessa mídia cega, que é o rádio, quem venceu o debate foi Nixon (na opinião dos ouvintes). É evidente que num país de analfabetos esse contraste tende a ser mais gritante, mas a questão da imagem na sociedade contemporânea está muito presente, inclusive nos movimentos sociais. O marketing também está presente aí, como mostra, por exemplo, o documentário A Hora Mais Escura.

As Manifestações Populares de Junho de 2013 no Brasil




O pronunciamento da presidente Dilma a respeito das manifestações de junho de 2013 não foi muito incisivo. Em primeiro lugar, a Dilma nunca teve aquela imagem forte de estadista. Em seu pronunciamento na televisão, numa sexta-feira, ela dividiu os manifestantes em "do bem" e "do mal", e disse que vai dialogar com os manifestantes pacíficos. De uma forma geral, o depoimento da Dilma foi bem fraco e formal. Não teve nenhuma novidade e não ficou à altura do que está acontecendo nas ruas. Um depoimento em que ela reproduz o que os grandes veículos da mídia vêm divulgando, praticamente o que os editoriais dos grandes jornais impressos vêm alardeando.

Ao dizer que quer se reunir com os líderes do movimento, Dilma toma uma atitude inócua, pois ela chamou de líderes aqueles que não reconhecem a si mesmos como líderes. E, por outro lado, eles não podem ser líderes mesmo, porque o movimento extrapolou enormemente quaisquer tentativas que eles pudessem ter, tanto de representação quanto de controle. Isso aconteceu porque o movimento acabou incorporando um sem número de adesões que refletem o zeitgeist. Antes destas manifestações em 2013, como é que as pessoas se reuniam para participar de manifestações e para divulgá-las? Como se dava o processo de construção de uma manifestação? Através de dinâmicas institucionais muito claras: partidos, sindicatos, organizações previamente constituídas (basta lembrar de como começou a luta pela Anistia).

Antes do advento da internet e dos sites de relacionamento, qualquer tipo de engajamento tinha que necessariamente passar por algum tipo de dinâmica institucional, entendendo-se aqui o termo "institucional" como "pré-organizado", onde a pessoa, quando entra no processo, recebe um repertório, um legado, uma ordem (ordem no sentido de organização). Ela se encaixa em algo que está previamente instituído, que está institucionalizado. Hoje em dia, na era das Redes Sociais, vivemos exatamente o oposto: a institucionalização, se vier, virá depois. E o fato de não ter uma liderança se reflete na própria dinâmica da organização do movimento, pois a internet transforma um pouco essas práticas de comunicação em uma espécie de assembleia contínua: todo mundo fala o que quer, não tem um centro.

O fato de não ter uma ordem estabelecida faz com que o movimento acabe quase que de uma forma espontânea. A dimensão do instinto está muito mais presente do que a dimensão do pensamento. No que diz respeito à maioria das pessoas, sabemos que a relação com a internet é muito espontânea, instintiva, pouco reflexiva, e isso dificulta um pouco o processo. Quando a Dilma convoca os líderes do movimento, a impressão que dá é a de que ela desejasse que houvesse líderes. É como se a presidente realmente desejasse que houvesse por parte desse movimento de jovens revoltados com cobranças abusivas no transporte público uma liderança capaz de representar institucionalmente esse movimento.

Ao falar de corrupção e reforma política, Dilma pega aquilo que há de mais frágil nesse movimento e tenta canalizar em proveito próprio. A atitude de sair nas ruas e gritar que é contra a corrupção é inofensiva, pois não é assim que se combate a mesma. Contra a corrupção todos somos. Mas a corrupção é uma dinâmica institucional e o que precisa ser feito em relação a isso é uma mudança institucional. A corrupção só é um problema moral no momento em que você se indigna com ela. Depois, ela não é mais um problema moral, já passa ser um problema da ordem institucional do país. E a reforma política, se for isso que está em pauta há anos no Congresso, não vai adiantar em nada.
A única reforma política que pode dar certo no Brasil é acabar com a reeleição para os cargos legislativos como acontece hoje em dia no Brasil porque ela permite que se perpetue a classe política, transformando em profissão aquilo que deveria ser apenas representação, possibilitando essa excrescência que é o carreirismo político. 

O assassinato que aconteceu em Ribeirão Preto (SP) é algo que não pode voltar a acontecer. A população dá uma representação aos manifestantes. Mas essa mesma população pode retirar essa representação. A população pode chegar a um momento em que pode ficar irritada com esses bloqueios nas ruas. E aí pode ter violência. É muito difícil pensar num tipo de manifestação dessa magnitude e não pensar que não vá ocorrer algum tipo de violência como essa que ocorreu em Ribeirão Preto.

No que se refere às autoridades públicas, não foram só elas que tiveram que recuar em suas posições. Houve poucas pessoas que não precisaram trocar de posição. As pessoas foram mudando de posição, a mídia foi mudando, os governos foram mudando. Primeiro, porque as pessoas foram sendo recebidas de maneira muito conservadora. As manifestações foram assim recebidas. Depois, porque as manifestações acabaram tomando um impulso que não se esperava porque as autoridades acabaram reprimindo no início. O Alckmin botou a tropa de choque nas ruas e o José Eduardo Cardoso ofereceu reforço federal. O governador botou nas ruas uma PM fora de controle que atirou com balas de borracha e jogou bombas de gás lacrimogêneo e de efeito moral em manifestantes pacíficos.

O prefeito da cidade de São Paulo, Fernando Haddad, por sua vez, perdeu toda a autonomia que teria como prefeito da maior cidade do país porque ficou a reboque de um acordo político mal alinhavado com o governo do estado, e depois ficou sem autonomia para agir. E, no final, o recuo que ele fez foi típico de um governo sem alguma autonomia. Ao se renderem às reivindicações do movimento, as autoridades públicas não deram uma demonstração cabal de que reconhecem a democracia, pois foram pressionadas pela situação. E, por outro lado, também ficam devendo explicações sobre por que houve o aumento das passagens de ônibus, já que eles voltaram atrás.

O DATAFOLHA fez uma pesquisa entre os manifestantes sobre quem seriam os candidatos preferidos à presidência da República. O Joaquim Barbosa foi mencionado por 30% dos entrevistados contra 22% da ex-senadora Marina Silva e com 10% da Dilma, que está em terceiro lugar. O Aécio Neves está em quarto lugar, com 5%, e o Eduardo Azevedo está em quinto lugar, com 1%. O resultado dessa pesquisa é sintomático. A pesquisa foi realizada no cerne das manifestações, e, lá, uma das principais reivindicações foi a luta contra a corrupção. Por isso, é muito normal que em primeiro lugar apareça o "xerife" nessa luta contra a corrupção, porque o Barbosa está fortemente associado ao combate contra os mensaleiros.

Em segundo lugar, vem a Marina Silva, que passa a imagem de que é uma pessoa "do bem", que ela pode fazer uma ponte entre o alto empresariado e a classe C. Então essa pesquisa parece refletir tanto a expectativa quanto a ingenuidade, porque o Joaquim Barbosa sequer é candidato, ele nem é político. Com relação à presença dos políticos nesses eventos, as manifestações são assim mesmo. Nem toda manifestação que acontece em qualquer lugar precisa ser necessariamente e imediatamente aceita. Assim como toda a população foi se moldando e dando representação aos manifestantes, a polícia também está se saindo muito bem, pois no dia 13 de junho foi muito violenta e depois recuou. Esse é o jogo democrático.

No que concerne à pesquisa do DATAFOLHA, devemos lembrar que não foi por acaso que o Barbosa apareceu, porque a pesquisa foi estimulada. Havia lá uma lista exatamente com os nomes. Não é que as pessoas lembraram do Barbosa. É que, entre os nomes citados, 30% das pessoas entrevistadas escolheram o nome do Barbosa. Isso é reflexo do movimento em si mesmo, porque é um movimento totalmente ao arredio da ordem instituída. A ordem instituída é representada pela Dilma, pelos tucanos, pelo Aécio, no caso, que ficou mal na pesquisa, com 5%. E quais são os nomes que aparecem aí e que estão fora da ordem instituída, ou seja, fora do status quo? Os nomes do Barbosa e da Marina. Foi um lance bem sacado da Folha fazer isso para mostrar o perfil plural, o perfil aberto do tipo de pessoa que participa desse movimento. O movimento conseguiu reunir coisas muito díspares, muito diferentes.

No começo das manifestações, víamos a mídia ser contra o movimento. A mudança de posição foi devido ao grande número de adesões que o movimento passou a ter. A posição contrária se dava em relação ao vandalismo. Mas há muita controvérsia em relação ao uso dessa palavra "vândalo". Isso não contribui para um entendimento sobre o que está acontecendo. O sujeito que matou o estudante em Ribeirão Preto não é vândalo. Ele é um sujeito orientado, que estava sozinho e contra o movimento. Ele não estava envolvido pelo movimento. As pessoas não estavam atrapalhando o trânsito em Ribeirão Preto, elas estavam ocupando as ruas. A coisa já estava tão massiva que já não eram apenas três ou quatro atrapalhando o trânsito. Eram milhares de pessoas no meio da rua, o cara resolveu acelerar e matou uma pessoa. Ele é um criminoso, ele não é um vândalo. E ele não é alguém que estava no movimento.

A moça que morreu no Pará morreu por causa de uma bomba da polícia, e também porque ela era hipertensa, a bomba explodiu perto dela, ela tomou um susto com a explosão e morreu. Há vândalos no meio do movimento, mas ainda não é possível conhecer o percentual exato de vândalos que existem no movimento. Porque há outros que não são vândalos, são manifestantes violentos, o que é totalmente diferente. Por exemplo, o estudante de arquitetura que depredou a fachada da prefeitura de São Paulo, ele não é vândalo. Ele é um estudante de arquitetura que trabalha ao lado do pai. Ele não é alguém que está solto no mundo e aproveita o movimento para vandalizar. Ele não é alguém que está ali sem propósito.

Em Porto Alegre há um grupo anarquista que pensa que tem que quebrar tudo por posição política. Isso acontece porque eles acham que é só quebrando tudo que eles vão chamar atenção para o movimento. Aquele que acelerou o carro e matou o estudante em Ribeirão Preto não é um vândalo, é um bandido; porque ele não era manifestante. Por outro lado, temos que reconhecer também que o uso da violência por parte de alguns manifestantes abre uma brecha para o uso da violência de outro lado. A manifestação em si é uma interrupção da ordem político-social que, pela extensão e pela quantidade que revelou, significa uma crise de representação política que se impôs como um problema de pauta nas relações sociais e políticas. Agora, as manifestações de violência, seja de um cara que pegou carona nessa onda e quer descolar um i-phone de graça, seja de um anarquista ou seja lá o que for, a extensão da supressão da ordem pública, abre espaço, ao longo do tempo, necessariamente, para aumentar a violência.

quarta-feira, 10 de julho de 2013

A Fúria de Um Crente Retardado


Certa vez, lendo uma matéria em um blog no qual o autor detonava (sem sentido algum) o André do site Ceticismo.net, deparei-me logo de cara com um comentário esdrúxulo e raivoso de um crente retardado. O comentário era o seguinte:

"A bibaiada ateísta realmente enche o saco. Nada contra quem é ateu. Se a cabecinha deles é tão pequena que pode explodir ao tentar entender algo que eles não vêem, eu não ligo… O que realmente enche o saco são esses ateus militantes que ficam querendo fazer o mundo acreditar nas merdinhas deles e ficam ainda com isso se achar 'homens lógicos, da ciência e outros bla bla blas dos ateus'."

E depois essa corja ainda têm a cara-de-pau de dizer que não é homofóbica. Com o crânio cheio não de miolos mas de bosta de cachorro, eles têm a postura imbecil de afirmar que quem defende os direitos civis de homossexuais também são homossexuais. O mongolóide ainda se contradiz, dizendo que não tem nada contra ateus e depois chama-os de "bibaiada". O crente é tão tosco que, na mente retardada dele, o mesmo pensa que o ateísmo é resultado de uma ausência de experiência visual de algo ("tentar entender algo que eles não vêem"), quando, na verdade, é resultado da TOTAL ausência de evidências de que exista algo de sobrenatural por trás dos fenômenos naturais. É claro que os absurdos, a falta de lógica, a inverossimilhança, a desumanidade e as incoerências dos livros sagrados (não apenas da bíblia) ajudam muito a chegar à conclusão de que, se existe algum deus (MUITO improvável) ele não deve ser algum dos descritos nos livros ditos "sagrados" (bíblia inclusa).

Peguemos como exemplo o deus que odeia vogais, o deus hebraico YHWH. O Velho Testamento é um verdadeiro show de horrores, além de possuir muitas incoerências e contradições que os vendedores de ilusão apologistas tentam infrutiferamente refutar com malabarismos hediondos. Não há como defender uma ideia indefensável, mas na cabeça torta de um crente tosco, há. E outra: é MUITA cara-de-pau desse retardado dizer que ateus militantes querem "fazer o mundo acreditar nas merdinhas deles". Quem faz isso são os fanáticos religiosos, esses fundamentalistas raivosos débeis mentais que acreditam em historinhas idiotas como a da cobra falante, do dia parado de Josué, do dilúvio global e outras bobagens. Ateus cuidam da própria vida, não fazem proselitismo. Eu, particularmente, quero que o resto de mundo se exploda. Não me preocupo se outras pessoas acreditam em A ou em B. Respeito o direito das pessoas acreditarem no que quiserem, até nas merdas que estão na bíblia. Débeis mentais como esse crente retardado dificilmente entenderão, de tão idiotas que são, que o ateísmo militante é simplesmente uma reação contra o fundamentalismo raivoso e totalitário e o proselitismo imbecil. Quando retardados como esse pararem de encher o saco de outras pessoas, tentando convencê-las a se converter a essa religiãozinha de bosta que é o cristianismo, aí o ateísmo militante acaba. Simples.