segunda-feira, 25 de março de 2013

MALAFAIA É HUMILHADO POR ELI VIEIRA E RESPONDE COM FALÁCIAS




Sob o título de "Silas Malafaia refuta as afirmações de geneticista", o website vigiai.net publicou uma matéria replicada do Gospel Prime em que o pastor Silas Malafaia tenta (sem sucesso) refutar as afirmações científicas do geneticista Eli Vieira, que, por sua vez, refuta as bobagens pseudocientíficas proferidas pelo referido pastor no programa de entrevistas da jornalista Marília Gabriela no SBT, veiculado no dia 3 de fevereiro de 2013.

A matéria do Vigiai já começa mal, afirmando que Eli "tenta" refutar as falas do pastor. Eli Vieira REFUTA incontestavelmente as abobrinhas fundamentalistas do pastor. Em primeiro lugar, nem precisaria que um mestre e doutorando em genética se desse a esse trabalho. As afirmações de Silas Malafaia são tão incongruentes que um simples estudante de ensino médio que tenha recebido uma boa educação na área de biologia consegue refutar tudo o que o referido pastor afirmou na tão polêmica entrevista veiculada pelo canal de Senor Abravanel.

A "refutação" de Silas Malafaia já começa com uma falácia ad hominem:

“Minha resposta ao doutorando em Genética, que me parece estar defendendo a sua causa na questão da homossexualidade:"

Em nenhum momento do vídeo Eli afirmou que estava defendendo a homossexualidade em causa prórpria. Ele apenas apresentou estudos científicos que escancararam a ignorância de Silas.

"Toda a argumentação que ele apresenta é apenas suposição científica, sem prova real, e tremendamente questionada pela própria Genética. É igual à Teoria da Evolução, uma argumentação científica que não pode ser provada."

Silas dá atestado de analfabeto científico com esta sentença, além de cometer falácia non causae ut causae (falsa proclamação de vitória). Os referees, em tese, jamais aprovariam artigos científicos baseados em suposições. O que seria a "prova real" é justamente aquilo que vai nortear a pesquisa científica explanada no artigo. O analfabetismo científico de Silas se mostra novamente quando ele chama a Teoria da Evolução de "argumentação". Nem sabe o que significa teoria e quer tentar refutar um geneticista.

"Não existe ordem cromossômica homossexual, só de macho e fêmea. Então, pseudodoutor, não existe uma prova científica de que alguém nasce homossexual, apenas conjecturas."

Homossexualidade não é "terceiro sexo". E o ato sexual não é feito apenas por necessidade reprodutiva ("macho e fêmea"). Na obra Hanbook of Behavior Genetics (procurem o PDF no Google), os autores (Khytam Dawood, J. Michael Baley e Nicholas G. Martin) demonstram, no capítulo 19, que há, sim, influência genética na orientação sexual do indivíduo. Portanto, não são conjecturas. Ciência se desmente com ciência. Ao invés de emitir opiniões, Silas Malafaia deveria publicar um artigo com peer review em periódico indexado que desminta esses estudos. Além disso, como o pastor explicaria a existência de pessoas hermafroditas? E mais: Malafaia continua com os seus ataques de falácia, desta vez um ad hominem básico, chamando Eli de "pseudodoutor", sendo que Eli sequer se apresentou como doutor e sim como doutorando.

"86% dos homens homossexuais já se apaixonaram ou tiveram relação com mulheres; 66% das mulheres homossexuais já se apaixonaram ou tiveram relações com homens. Como alguém nasce homossexual se já teve relação heterossexual? Isso é uma piada!"

Além de cometer falácia cum hoc ad propter hoc (com isso, portanto, devido a isso), Malafaia não cita a fonte dessa pesquisa, mas vamos considerá-la válida. A conjunção alternativa utilizada por Silas Malafaia em sua afirmação diz muito sobre os resultados da pesquisa. A paixão é um sentimento subjetivo e assuntos subjetivos são prato cheio para "achismos". Não fica claro quantas pessoas dentro da porcentagem apresentada apenas se apaixonou e quantas apenas tiveram relações com o sexo oposto, o que faz muita diferença. A Escala Kinsey de Classificação de Comportamento Sexual apresenta diversas gradações dentro do comportamento sexual humano, indo desde o exclusivamente heterossexual até o exclusivamente homossexual. O fato de alguém supostamente homossexual já ter tido relações heterossexuais não invalida a influência genética no comportamento. Piada é a ignorância do pastor.

"46% dos homens homossexuais já sofreram abuso por homens. A pesquisa é mais estarrecedora ao mostrar que 68% dos homens homossexuais só se identificaram com o homossexualismo após o abuso."

Nesta "resposta", o pastor continua incorrendo no mesmo erro desmascarado por Eli Vieira em seu vídeo. O estudo (Comparative Data of Childhood and Adolescence Molestation in Heterosexual and Homosexual Persons) citado por Malafaia não diz que determinada porcentagem de homossexuais "escolheu" ser homossexual. E o estudo citado por Malafaia não diz em lugar algum que o abuso foi fator determinante para o "desenvolvimento" da homossexualidade, como o próprio Eli afirma no vídeo. Em uma entrevista, o cantor Elton John respondeu, quando perguntado se já havia sido abusado sexualmente na infância: "Não, mas adoraria ter sido". Bastante questionável essa conclusão do pastor, tendo em vista que as estatísticas apontam uma relação mais estreita entre o abuso sexual na infância e o cometimento de crimes sexuais como o estupro na idade adulta (estupro contra o sexo oposto). E mesmo que esses números correspondessem à realidade, ainda não invalidariam a questão da influência genética. Como o pastor poderia provar que mesmo que essas pessoas não tivessem sido abusadas teriam convergido à heterossexualidade?

"Se o rapaz metido a doutor em Genética quiser saber mais, leia o livro Nascido gay?, do Dr. John S. H. Tay, que tem mestrado em Pediatria e dois doutorados: um em Genética e outro em Filosofia, e analisou 20 anos de pesquisas sobre o assunto."

"Metido a doutor em genética": mais um ad hominem que comprova o destempero e a instabilidade emocional do pastor. Em seguida, outra falácia, desta vez de apelo à autoridade: enfileira os títulos de John S. H. Tay como artimanha para demonstrar que o mesmo tem razão em suas afirmações. Os argumentos determinam a certeza e não o argumentador. Estudos já demonstraram que um possível gene da homossexualidade pode estar presente inclusive em heterossexuais (Fonte: Adams, H. E., L. W. Wright Jr. and B. A. Lohr, 1996. Is homophobia associated with homosexual arousal? Journal of Abnormal Psychology 105(3): 440-445.). Nesses estudos, homens heterossexuais homofóbicos (que têm repulsa e ódio a homossexuais) foram expostos a imagens de relações sexuais entre dois homens e mostraram excitação sexual diante dessas imagens. Homens heterossexuais não homofóbicos não sentiram nada diante dessas mesmas imagens.

"Mais uma para o pseudodoutor sobre os gêmeos monozigóticos, que são idênticos geneticamente: 35% desse tipo de gêmeo que é homossexual, o seu irmão gêmeo é heterossexual. Logo, conclui-se que geneticamente não se nasce homossexual, e o fator externo, do ambiente, é fundamental para determinar isso. Preferência aprendida ou imposta. Ou todos teriam de ser homossexuais ou todos teriam de ser heterossexuais no caso de gêmeos monozigóticos."

Aqui, Silas Malafaia incorre em falácia ad nauseam (além de ad hominem). Ele insiste em ofender Eli Vieira com termos como "pseudodoutor", incorrendo em ad nauseam, mesma técnica usada pela propaganda nazista ("Uma mentira repetida muitas vezes acaba se tornando uma verdade"). É uma artimanha bastante utilizada por pastores religiosos para adestrar o seu rebanho de seguidores. Como o público que segue e admira Malafaia deve ser provavelmente formado em sua maioria por pessoas homofóbicas como ele, essa técnica suja e nazista costuma surtir bastante efeito, como forma de minar a credibilidade do "oponente". Quanto ao enunciado sobre o tema em debate, a estatística parece também apontar para a influência da genética na determinação do comportamento sexual do indivíduo. Com base em quais estudos o pastor afirma que o fator ambiental é FUNDAMENTAL para determinar o comportamento sexual do indivíduo? Ele não apresenta referências.

"A verdade é esta: ninguém nasce gay. Não existe prova científica, apenas teorias científicas.”

Uma teoria é construída com base em que mesmo?

Malafaia não refutou sequer uma única linha dos diversos estudos científicos mostrados por Eli Vieira no vídeo publicado no Youtube. A resposta do pastor foi pífia e só os seus admiradores dos sites gospel consideraram essa "resposta" como refutação. É preocupante como o fundamentalismo religioso vem se infiltrando em áreas que não lhe dizem respeito, como a representatividade política e, agora, a área científica. Não se trata aqui de fazer "apologia da homossexualidade" (isso seria ridículo), mas de uma defesa da ciência, sempre atacada e distorcida pelo fundamentalismo religioso. Não há nenhum estudo científico que corrobore os arroubos do pastor. O fundamentalismo religioso afirma que a homossexualidade é coisa do "demônio". A ciência demonstra que é uma condição natural, existente até entre diversas espécies diferentes de animais, não apenas no ser humano. Inclusive, entre os cavalos marinhos, o macho é quem fica grávido. Nada na natureza é assim tão determinista como o quer a visão de mundo petrificada que o pastor quer vender a quem o vê vociferando seu fundamentalismo. É preciso que os religiosos respeitem a ciência e os conceitos científicos.


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