segunda-feira, 17 de setembro de 2012

Entrevista com Marisa Lobo no Programa Notícias e Negócios, de Cuiabá.




A controversa psicóloga Marisa Lobo, que já apareceu até no CQC defendendo a absurda ideia de que homossexualidade é doença (LINK) concedeu uma entrevista ao programa Notícias e Negócios (TV Estrela, Rede Cultura, Cuiabá, Canal 17) no dia 14 de setembro, sexta-feira. Ela esteve em Cuiabá para ministrar uma palestra sobre "como votar de forma correta nas próximas eleições". Em primeiro lugar, é meio irônico alguém que apoia a famigerada "bancada evangélica" do Congresso dar palestra sobre "como votar certo". A entrevista começou com a psicóloga falando coisas óbvias a respeito das eleições. Ou seja, não votar em candidatos "ficha suja", não votar em candidatos que queiram "comprar" o seu voto, rejeitar candidatos que usam jingles plagiados de sucessos popularescos de péssimo gosto como "eu quero tchu, eu quero tcha" e outras coisas óbvias. Mas a máscara ideológica de Marisa cai a partir do momento em que ela começa com um discurso maniqueísta de "cultura de vida e cultura de morte". É o mesmo tipo de discurso rasteiro utilizado pelo fundamentalismo cristão contra Dilma Russeff durante a campanha presidencial em 2010.

O fundamentalismo cristão entende, de uma forma tosca, que os partidários de questões polêmicas como a eutanásia e o aborto defendem uma "cultura de morte". Absolutamente ninguém em sã consciência é a favor da prática de abortamento de fetos, nem mesmo os que são a favor da legalização do aborto. Ninguém faz aborto porque é sádico. Particularmente considero uma prática repugnante. Mas reduzir um problema tão sério a um discurso maniqueísta e manipulador de contraposição entre duas supostas culturas, sendo uma de "morte" e outra de "vida" é ridículo e desonesto. Tanto o aborto quanto a eutanásia são assuntos que merecem uma discussão ampla na sociedade. É mesquinho querer impor apenas um dos lados da questão, sem ouvir o lado dos que são a favor da legalização. Por isso o ciclo de discussões no Senado sobre a reforma do Código Penal é tão importante e todos devem estar atentos ao andamento dessas discussões.

Na campanha de 2010, os repórteres perguntavam a Dilma se ela era a favor do aborto. Ela, obviamente, respondia que não. Mas nenhum repórter foi inteligente o suficiente para perguntar se ela era a favor ou contra a LEGALIZAÇÃO de tal prática. É a mesma coisa com relação às drogas. Muitos imbecis "crucificaram" o presidente Fernando Henrique pelo fato do mesmo ser a favor do controle da venda da cannabis. Apesar de ser contra a legalização de qualquer droga que hoje é ilegal, considero a posição de FHC bastante sensata e racional, mesmo não concordando com ele em alguns pontos. É ERRADO afirmar que os favoráveis ao controle legal da maconha sejam necessariamente favoráveis ao USO INDISCRIMINADO da mesma.

Quando o entrevistador, o professor Haroldo Arruda, pergunta sobre ideologia, Marisa Lobo responde que "o nosso foco é o foco família mesmo". Quando ela diz "família", ela quer dizer a eisegese que o fundamentalismo cristão faz do termo. Trocando em miúdos, Marisa empunha a mesma bandeira que a "bancada evangélica" ostenta. Basta uma rápida pesquisa no Google para descobrirmos o estrago que esses parlamentares religiosos fazem (ou pelo menos tentam fazer). Na cabeça de Marisa, "votar certo" seria votar, por exemplo, em um sujeito como o deputado João Campos (PSDB-GO), que propôs um Projeto de Decreto Legislativo (PDL 234/2011) cujo objetivo é tirar do Conselho Federal de Psicologia a autonomia para vetar que os profissionais tratem a homossexualidade como transtorno. Outros, como o "bispo" Marcelo Crivella, já vociferaram no plenário (no caso de Crivella, no plenário do Senado) contra recentes decisões do STF favoráveis à comunidade LGBT. É esse tipo de fanático que Marisa defende como sendo exemplos de "bons políticos". Marisa despreza as mudanças dos tempos, se mostrando uma figura totalmente anacrônica e de mentalidade medieval. Ela prefere fechar os olhos para a realidade e fingir que o conceito de família, assim como tantos outros conceitos mudaram com os tempos. Há, SIM, famílias formadas por casais homossexuais que inclusive já adotaram filhos (LINK).

O professor Haroldo pergunta sobre compra de votos e Marisa, obviamente, diz que isso é errado, como é mesmo. Mas, na resposta, ela solta uma declaração curiosa: "o legislador legisla pelo grupo que elegeu ele". Mas isso é mais do que óbvio. Eu não consigo imaginar uma pessoa como Marisa demonstra ser, votando em um candidato com o perfil do deputado Jean Wyllis, por exemplo. Pessoas como Marisa demonstram ter um objetivo definido, que é o de empurrar os absurdos da bíblia goela abaixo de TODO MUNDO, até dos que não concordam com esse livro absurdo. Por isso, ela provavelmente votará em pessoas como João Campos, Marcos Feliciano, Marcelo Crivella etc.

Marisa começa a soltar seus absurdos verborrágicos em maior quantidade quando o professor Haroldo pergunta a ela especificamente sobre sexualidade. Ela começa falando sobre "família tradicional". Mas qual seria essa "tradição"? Obviamente, a tradição empedrada e medieval defendida pela visão fundamentalista do cristianismo, que despreza o progresso e as mudanças de comportamento de uma parcela da sociedade. Depois, ela troca o termo "tradicional" por "natural". Mas o que ela quer dizer com "natural"? É óbvio que "natural", para ela, é apenas a heterossexualidade. Com isso Marisa dá uma declaração pública de ignorância científica e envergonha toda a classe à qual ela pertence. Há vários estudos científicos que demonstram que a homossexualidade está presente em quase todo o reino animal. Quando ela afirma que algo é "natural" é porque está na natureza. A homossexualidade está na natureza, como demonstram tais estudos. Portanto, ela ataca com uma falácia unicamente para defender a sua fé tosca, que condena a homossexualidade até com pena de morte, como no livro de Levítico (Antigo Testamento).

Abaixo, um link sobre o comportamento homossexual no reino animal, mostrando que esse tipo de comportamento É, SIM, NATURAL, faz parte da natureza, e a sexualidade não tem apenas finalidade reprodutiva:

http://hypescience.com/comportamento-homossexual-e-encontrado-em-quase-todo-o-reino-animal/

E outra: o professor pergunta sobre "sexualidade" e ela começa falando em "família". Isso é de uma tosquice sem par. A sexualidade não é exercida unicamente com finalidades reprodutivas, como Marisa deve pensar em sua mentalidade tosca. E, mesmo que seja, nem sempre é exercida com a finalidade de "formar família". Talvez ela QUISESSE que fosse assim, mas, felizmente, não é. Então, ela fala coisas de acordo com os delírios religiosos dela, e não de acordo com a realidade objetiva.

Outra pérola de Marisa Lobo: "A gente luta contra o preconceito. A gente tá numa luta de aceitar as diferenças, mas primeiro quem tem que aceitar as diferenças é quem é diferente". Será que ela conseguiria dizer quantos cristãos foram assassinados no ano passado só pelo motivo de serem cristãos? E quantos homosseuxuais foram assassinados só pelo motivo de serem homossexuais? Então são os gays que têm que aceitar calados que os cristãos, os nazistas, os fascistas e tantas outras ideologias sanguinárias preguem o seu ódio contra a homossexualidade? Seria isso o que ela quis dizer com "os diferentes é que têm que aceitar a diferença"? Quem está sendo massacrado tem que aceitar a pregação de ódio e ficar calado?

Em seguida, Marisa dispara ainda mais a sua metralhadora verbal de abobrinhas. Para ela, o objetivo do casamento é ter filhos. O simples fato de um casal se amar é secundário, o importante é ter filhos. Mas ela mente quando diz que um casal de gays ou de lésbicas só pode ter filhos se adotarem. Os casos de Cássia Eller e de Elton John desmentem a psicóloga. São filhos naturais, não são adotados. No caso de Elton John, ele teve o seu filho através da "barriga de aluguel", mas é um filho biológico dele. Marisa deu um tiro no própio pé.

"A gente pode aceitar, a gente pode conviver, mas nem por isso eu tenho que fazer o que você faz e nem concordar com o que você faz." Eis mais uma frase "brilhante" da psicóloga. Em primeiro lugar, se algum homossexual pedir ou obrigar qualquer pessoa a fazer o que ele faz, ele deve ser preso. Ninguém deve obrigar ninguém a fazer algo contra a própria vontade, isso é crime. E quem é que está pedindo para concordar? Os homossexuais só querem respeito, não querem que ninguém concorde com eles.

E Marisa não se cansa da verborreia: "A gente não pode ter preconceito, mas também a gente não pode ser esquizofrênico de achar que TODA a população é homossexual". Só mesmo da cabeça de um crente poderia sair uma sentença como essa. Qual é o grupo de orientação LGBT que prega que TODOS são homossexuais? Eu DESAFIO essa psicóloga a mostrar um único grupo de defesa dos direitos de homossexuais que defenda essa ideia absurda de alastrar o seu comportamento a TODAS as pessoas, como se a homossexualidade fosse uma ideia imperialista como o comunismo ou o cristianismo. Quem está sendo esquizofrênico, então? Marisa deveria ser submetida à análise por algum colega de profissão.

Vamos prosseguindo: "A população não é homossexual, é heterossexual. Existem os homossexuais, que têm que ser respeitados, que têm que ser amados, mas nem por isso eu tenho que ser um." Novamente ela delira, dizendo que estão tentando obrigá-la a ser homossexual. E outra: ela diz que os gays têm que ser amados, mas não é isso que ela demonstra. Em uma declaração ao programa CQC veiculado no dia 7 de maio de 2012 (vejam link no primeiro parágrafo), Marisa Lobo diz que na sociedade ideal dela "não deveria existir nem gay, não deveria existir nem ladrão, nem hipócrita, nem homofóbico, não deveria existir nada". Primeiro ela diz que "ama" os gays. Depois, ela compara esse grupo aos "ladrões". Pelo visto, quem está sendo hipócrita aqui é ela. E, já que na sociedade ideal dela não deveria existir hipócritas, ela também não deveria existir. É preciso muita paciência para aguentar incoerências de crente tosco, muita paciência.

Marisa diz que cuidou de um homossexual com AIDS. Ótimo. Deveria cuidar de outras pessoas com AIDS também, pois heterossexuais também se contaminam. Mas, abruptamente, ela começa a falar de... INFÂNCIA??? WTF??? Será que aqui ela pretendeu cometer a mesma falácia da também notória homofóbica Myrian Rios? Ou será que ela qui dizer que homossexuais são produto de famílias "desestruturadas"? Aqui ela não deixa claro qual o teor de sua argumentação, mas parece que também não tem fundamento algum.



"Quem é feliz na condição que está, que seja. Quem não é feliz na condição que está, tem o direito de tentar mudar essa condição." - afirma Marisa Lobo. Aqui, a psicóloga acerta uma, finalmente. Quem não está feliz com a sua orientação sexual deve tentar mudar essa condição. É justamente por isso que um grupo de defesa dos direitos LGBT fundou uma campanha nas redes sociais intitulada "Marisa Lobo, me cura do meu heterossexualismo." Um exemplo dos vídeos feitos para essa campanha é esse:


Ivan de Cascadura na Campanha 'Marisa Lobo, me cura do meu heterossexualismo!'

Eu sou heterossexual, mas tenho amigos homossexuais e fico revoltado quando pessoas como essa psicóloga tentam disseminar o seu fanatismo religioso na perseguição a minorias. Acho que uma das melhores respostas dadas a essa mulher foi a do vlogueiro Yuri. O vídeo é curto, tem um minuto e doze segundos, mas vai direto ao assunto:

EU ATEU - RESPOSTA A MARISA LOBO

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