quarta-feira, 3 de outubro de 2012

A Inocência dos Muçulmanos: deve-se morrer pela liberdade de expressão?


Muito se tem falado nas últimas semanas sobre a polêmica gerada pela divulgação do filmete A Inocência dos Muçulmanos, considerado ofensivo ao Islã. Talvez se o filme tivesse abordado ícones da cultura religiosa ocidental, não tivesse provocado tanta manifestação de ódio. Houve filmes polêmicos como A Última Tentação de Cristo e Je Vous Salue Marie que atiçaram os ânimos de cristãos no Ocidente, mas nada comparado à tsunami de irracionalidade e de selvageria provocada por A Inocência dos Muçulmanos. Por que isso? Porque nos países de maioria muçulmana, a questão religiosa é considerada central. É um elo de solda cultural e que está sempre presente. Se levarmos em conta que neste exato momento em que vivemos os sentimentos antiamericanos estão especialmente exacerbados, o Oriente Médio se torna um barril de pólvora. E por que esse antiamericanismo? Simples: pela guerra no Iraque, pela guerra no Afeganistão, mas não é só por isso. Em todas as revoltas da chamada "Primavera Árabe", a sensação que essas populações estão experimentando é: "Nós estamos nos auto-afirmando contra um inimigo externo". E quem é esse inimigo externo? Os Estados Unidos.

Todo esse caldo de cultura, então, estabelece uma especial animosidade em face ao poder americano e à cultura americana. Nisso, aparece esse vídeo tosco chamado A Inocência dos Muçulmanos e que foi produzido nos Estados Unidos. É um vídeo tosco e de mau gosto, mas é apenas um vídeo. Eu até poderia usar aqui a palavra "pretexto", mas eu acho que ela não seria adequada, porque diminui a importância que o episódio tem. Esse vídeo não é um pretexto, é muito diferente disso. O surgimento desse vídeo é uma possibilidade. O vídeo enseja uma possibilidade para que se crie ações coletivas que estão latentes. Se ainda levarmos em conta que o potencial revolucionário da Primavera Árabe está sendo frustrado e que existem energias de revolta extremamente ressentidas porque a população árabe está sentindo que está perdendo uma batalha que iniciou, essa frustração também encontra nesse tipo de ação a possibilidadade de se extravazar e de se realizar.

Tudo isso junto deixa mais uma vez clara a diferença de cultura política absolutamente fundamental entre aquelas sociedades e a sociedade ocidental. Nos últimos anos, os Estados Unidos bombardearam o Líbano, o Iraque, a Líbia, a Somália, o Paquistão, o Afeganistão etc. Ninguém gosta de ser bombardeado. Ninguém ama quem os bombardeia. Por isso existe um acúmulo de ódio. Em segundo lugar, devemos analisar como a política externa dos Estados Unidos joga com as divisões do Islã. O Islã não é uma religião homogênea, é muito dividida. E os Estados Unidos têm apoiado sistematicamente as facções mais extremistas, como os salafistas. Agora, por exemplo, os Estados Unidos vêm apoiando o que há de mais criminoso dentro do Islã contra o governo laico de Assad na Síria. Quem fez o ataque em Benghazi, na Líbia, que matou o embaixador Christopher Stevens, foram os mesmos aliados dos Estados Unidos de alguns meses atrás. Aquelas brigadas salafistas assassinas eram as mesmas que se mobilizaram contra Kadafi.

No centro de todo esse conflito, levanta-se algo igualmente importante: a questão da liberdade de expressão. A secretária de Estado estadunidense Hillary Clinton já declarou ter repudiado o contrúdo do vídeo, mas também disse que não pode cercear a liberdade de expressão de nenhum cidadão estadunidense, porque isso é inconstitucional. Guardando as devidas proporções, poderíamos até dizer que a divulgação do vídeo anti-Islã poderia ser comparada ao episódio do bispo Von Helde da Igreja Universal, que chutou uma estátua de uma santa católica em 1995. Na época, houve até rumores de uma "guerra santa" velada no Brasil. O que aconteceu foi mais uma "guerra fria", com provocações de ambos os lados. Mas não houve carnificinas, como costuma ocorrer no mundo islâmico quando eclodem episódios interpretados como "blasfêmia".

Desse episódio ocorrido no Brasil poderíamos até afirmar que uma sociedade que não admite que se chute a imagem de uma santa é uma sociedade comprometida sob o ponto de vista da democracia. Os símbolos religiosos só são sacramentais para quem acredita naquilo. Quem não acredita não tem a mínima obrigação de respeitar esses símbolos. E, nesse caso, é liberdade de expressão, sim. Não há nenhum problema, sob o ponto de vista da democracia, que o pastor da igreja Universal chute uma estátua que representa uma santa. É claro que ele terá que arcar com uma série de consequências derivadas desse ato, mas o ato em si está em consonância com os preceitos de uma sociedade democrática. A pessoa vai pagar por isso perante a opinião pública porque, evidentemente, chutar uma imagem de uma santa, mesmo que essa imagem seja considerada sagrada por uma significativa parcela da população, é uma bobagem, uma provocação infantil. Agora, tentar penalizar isso como algo inaceitável, tentar proibir isso ou tentar estabelecer uma punição penal para isso, é algo absurdo, tendo em vista que vivemos em uma sociedade laica e democrática.

Nakoula Basseley Nakoula, o fundamentalista cristão que realizou esse vídeo, é um idiota. A Inocência dos Muçulmanos é uma provocação irresponsável de um fanático cristão. Agora, tentar proibir alguém de fazer um vídeo, mesmo sendo esse alguém um idiota como Nakoula, é um absurdo. Proibir é um absurdo. Ele tem que ser combatido no campo das ideias, da crítica. Quem defende que deva haver restrição à liberdade de opinião alega que essa liberdade seria utilizada para pregações de ódio contra negros, índios, mulheres etc. Mas há uma diferença brutal entre vilipendiar pessoas e vilipendiar símbolos. Negros e índios são condições sociais, são portabilidades. Eu considero o valor cultural dessa agressão a Maomé, mas essa agressão tem que ser disputada no plano da opinião, no plano da formação da preferência. Eu sou contra esse filme, um filme tosco e de mau gosto. O filme é uma mera provocação política que despertou uma reação violenta em escala internacional, uma onda de atitudes brutais que provocu muitas mortes. Mas nem mesmo toda essa situação gravíssima deveria fazer com que o governo estadunidense criasse uma legislação que impedisse os seus cidadãos de se expressarem da forma que eles queiram, mesmo que aconteçam manifestações como a de um idiota como Nakoula. O que vai impedir que situações espinhosas como essa se repitam é a discussão séria, aberta e aprofundada de temas polêmicos como a contraposição da ampla liberdade proporcionada pelas democracias ocidentais e a opressão das teocracias.

A questão das caricaturas na Dinamarca é um bom exemplo de parâmetro do que está acontecendo hoje. O cartunista dinamarquês fez uma série de caricaturas insultando Maomé do ponto de vista dos islâmicos. Uma das caricaturas tinha um turbante com uma bomba. Insultar a figura de Maomé é um crime de morte na cultura muçulmana, mas seria um absurdo proibir o jornal da Dinamarca de publicar as caricaturas e condenar o cartunista porque ele fez algo que insulta os muçulmanos. Em primeiro lugar, o insulto aos muçulmanos é um problema dos muçulmanos. Em segundo lugar, quando isso se transforma em problema para alguém que não é muçulmano, é o debate que vai resolver. Na Dinamarca o jornal manteve as caricaturas e não se desculparam, porque não há por que pedir desculpas. É claro que essa atitude desperta a ira dos terroristas, e a vida do responsável pelos insultos corre perigo por isso, mas devemos lembrar também, sem ironias, que viver é perigoso. A vida é uma aventura perigosa. Tendo isso em mente, nós temos que fazer escolhas. E qual será a nossa escolha? Nós vamos agora começar a desenhar o mapa institucional de nossos países de forma a atender demandas de quem pensa diferente de nós ou vamos agir de acordo com os preceitos da democracia?

Eu sou totalmente a favor de que se deixe Maomé em paz, mas tem gente que não quer deixar Maomé em paz e eu acho que aqueles que não querem, têm todo o direito de não querer deixar Maomé em paz. Uma coisa é você respeitar a crença e o direito de crença do outro, respeitar o direito que a pessoa tem de professar a sua crença. Outra coisa é você confundir isso com com o respeito aos ícones da crença, respeito aos sacramentos da crença. Você não pode exigir isso de quem não tem essa crença. Essa exigência é totalmente ilegítima. Um pequeno exemplo: imaginem um naufrágio. Agora imagine que nesse navio que está naufragando, esteja a estátua de uma santa e um cachorro. Tendo em vista que estão em compartimentos separados, haverá tempo para salvar apenas um. Provavelmente, muita gente vai achar mais importante salvar a estátua do que salvar o cachorro. Eu posso aceitar que isso seja correto para aqueles que têm fé naquela imagem. Mas também acho ultralegítimo aqueles que não têm fé naquela santa prefiram salvar o cachorro e deixar a imagem da santa afundar. A ideia de respeitar ícone está sendo confundida com a ideia de respeitar o direito da crença de cada um. E essa diferença deve ser esclarecida.


segunda-feira, 17 de setembro de 2012

Entrevista com Marisa Lobo no Programa Notícias e Negócios, de Cuiabá.




A controversa psicóloga Marisa Lobo, que já apareceu até no CQC defendendo a absurda ideia de que homossexualidade é doença (LINK) concedeu uma entrevista ao programa Notícias e Negócios (TV Estrela, Rede Cultura, Cuiabá, Canal 17) no dia 14 de setembro, sexta-feira. Ela esteve em Cuiabá para ministrar uma palestra sobre "como votar de forma correta nas próximas eleições". Em primeiro lugar, é meio irônico alguém que apoia a famigerada "bancada evangélica" do Congresso dar palestra sobre "como votar certo". A entrevista começou com a psicóloga falando coisas óbvias a respeito das eleições. Ou seja, não votar em candidatos "ficha suja", não votar em candidatos que queiram "comprar" o seu voto, rejeitar candidatos que usam jingles plagiados de sucessos popularescos de péssimo gosto como "eu quero tchu, eu quero tcha" e outras coisas óbvias. Mas a máscara ideológica de Marisa cai a partir do momento em que ela começa com um discurso maniqueísta de "cultura de vida e cultura de morte". É o mesmo tipo de discurso rasteiro utilizado pelo fundamentalismo cristão contra Dilma Russeff durante a campanha presidencial em 2010.

O fundamentalismo cristão entende, de uma forma tosca, que os partidários de questões polêmicas como a eutanásia e o aborto defendem uma "cultura de morte". Absolutamente ninguém em sã consciência é a favor da prática de abortamento de fetos, nem mesmo os que são a favor da legalização do aborto. Ninguém faz aborto porque é sádico. Particularmente considero uma prática repugnante. Mas reduzir um problema tão sério a um discurso maniqueísta e manipulador de contraposição entre duas supostas culturas, sendo uma de "morte" e outra de "vida" é ridículo e desonesto. Tanto o aborto quanto a eutanásia são assuntos que merecem uma discussão ampla na sociedade. É mesquinho querer impor apenas um dos lados da questão, sem ouvir o lado dos que são a favor da legalização. Por isso o ciclo de discussões no Senado sobre a reforma do Código Penal é tão importante e todos devem estar atentos ao andamento dessas discussões.

Na campanha de 2010, os repórteres perguntavam a Dilma se ela era a favor do aborto. Ela, obviamente, respondia que não. Mas nenhum repórter foi inteligente o suficiente para perguntar se ela era a favor ou contra a LEGALIZAÇÃO de tal prática. É a mesma coisa com relação às drogas. Muitos imbecis "crucificaram" o presidente Fernando Henrique pelo fato do mesmo ser a favor do controle da venda da cannabis. Apesar de ser contra a legalização de qualquer droga que hoje é ilegal, considero a posição de FHC bastante sensata e racional, mesmo não concordando com ele em alguns pontos. É ERRADO afirmar que os favoráveis ao controle legal da maconha sejam necessariamente favoráveis ao USO INDISCRIMINADO da mesma.

Quando o entrevistador, o professor Haroldo Arruda, pergunta sobre ideologia, Marisa Lobo responde que "o nosso foco é o foco família mesmo". Quando ela diz "família", ela quer dizer a eisegese que o fundamentalismo cristão faz do termo. Trocando em miúdos, Marisa empunha a mesma bandeira que a "bancada evangélica" ostenta. Basta uma rápida pesquisa no Google para descobrirmos o estrago que esses parlamentares religiosos fazem (ou pelo menos tentam fazer). Na cabeça de Marisa, "votar certo" seria votar, por exemplo, em um sujeito como o deputado João Campos (PSDB-GO), que propôs um Projeto de Decreto Legislativo (PDL 234/2011) cujo objetivo é tirar do Conselho Federal de Psicologia a autonomia para vetar que os profissionais tratem a homossexualidade como transtorno. Outros, como o "bispo" Marcelo Crivella, já vociferaram no plenário (no caso de Crivella, no plenário do Senado) contra recentes decisões do STF favoráveis à comunidade LGBT. É esse tipo de fanático que Marisa defende como sendo exemplos de "bons políticos". Marisa despreza as mudanças dos tempos, se mostrando uma figura totalmente anacrônica e de mentalidade medieval. Ela prefere fechar os olhos para a realidade e fingir que o conceito de família, assim como tantos outros conceitos mudaram com os tempos. Há, SIM, famílias formadas por casais homossexuais que inclusive já adotaram filhos (LINK).

O professor Haroldo pergunta sobre compra de votos e Marisa, obviamente, diz que isso é errado, como é mesmo. Mas, na resposta, ela solta uma declaração curiosa: "o legislador legisla pelo grupo que elegeu ele". Mas isso é mais do que óbvio. Eu não consigo imaginar uma pessoa como Marisa demonstra ser, votando em um candidato com o perfil do deputado Jean Wyllis, por exemplo. Pessoas como Marisa demonstram ter um objetivo definido, que é o de empurrar os absurdos da bíblia goela abaixo de TODO MUNDO, até dos que não concordam com esse livro absurdo. Por isso, ela provavelmente votará em pessoas como João Campos, Marcos Feliciano, Marcelo Crivella etc.

Marisa começa a soltar seus absurdos verborrágicos em maior quantidade quando o professor Haroldo pergunta a ela especificamente sobre sexualidade. Ela começa falando sobre "família tradicional". Mas qual seria essa "tradição"? Obviamente, a tradição empedrada e medieval defendida pela visão fundamentalista do cristianismo, que despreza o progresso e as mudanças de comportamento de uma parcela da sociedade. Depois, ela troca o termo "tradicional" por "natural". Mas o que ela quer dizer com "natural"? É óbvio que "natural", para ela, é apenas a heterossexualidade. Com isso Marisa dá uma declaração pública de ignorância científica e envergonha toda a classe à qual ela pertence. Há vários estudos científicos que demonstram que a homossexualidade está presente em quase todo o reino animal. Quando ela afirma que algo é "natural" é porque está na natureza. A homossexualidade está na natureza, como demonstram tais estudos. Portanto, ela ataca com uma falácia unicamente para defender a sua fé tosca, que condena a homossexualidade até com pena de morte, como no livro de Levítico (Antigo Testamento).

Abaixo, um link sobre o comportamento homossexual no reino animal, mostrando que esse tipo de comportamento É, SIM, NATURAL, faz parte da natureza, e a sexualidade não tem apenas finalidade reprodutiva:

http://hypescience.com/comportamento-homossexual-e-encontrado-em-quase-todo-o-reino-animal/

E outra: o professor pergunta sobre "sexualidade" e ela começa falando em "família". Isso é de uma tosquice sem par. A sexualidade não é exercida unicamente com finalidades reprodutivas, como Marisa deve pensar em sua mentalidade tosca. E, mesmo que seja, nem sempre é exercida com a finalidade de "formar família". Talvez ela QUISESSE que fosse assim, mas, felizmente, não é. Então, ela fala coisas de acordo com os delírios religiosos dela, e não de acordo com a realidade objetiva.

Outra pérola de Marisa Lobo: "A gente luta contra o preconceito. A gente tá numa luta de aceitar as diferenças, mas primeiro quem tem que aceitar as diferenças é quem é diferente". Será que ela conseguiria dizer quantos cristãos foram assassinados no ano passado só pelo motivo de serem cristãos? E quantos homosseuxuais foram assassinados só pelo motivo de serem homossexuais? Então são os gays que têm que aceitar calados que os cristãos, os nazistas, os fascistas e tantas outras ideologias sanguinárias preguem o seu ódio contra a homossexualidade? Seria isso o que ela quis dizer com "os diferentes é que têm que aceitar a diferença"? Quem está sendo massacrado tem que aceitar a pregação de ódio e ficar calado?

Em seguida, Marisa dispara ainda mais a sua metralhadora verbal de abobrinhas. Para ela, o objetivo do casamento é ter filhos. O simples fato de um casal se amar é secundário, o importante é ter filhos. Mas ela mente quando diz que um casal de gays ou de lésbicas só pode ter filhos se adotarem. Os casos de Cássia Eller e de Elton John desmentem a psicóloga. São filhos naturais, não são adotados. No caso de Elton John, ele teve o seu filho através da "barriga de aluguel", mas é um filho biológico dele. Marisa deu um tiro no própio pé.

"A gente pode aceitar, a gente pode conviver, mas nem por isso eu tenho que fazer o que você faz e nem concordar com o que você faz." Eis mais uma frase "brilhante" da psicóloga. Em primeiro lugar, se algum homossexual pedir ou obrigar qualquer pessoa a fazer o que ele faz, ele deve ser preso. Ninguém deve obrigar ninguém a fazer algo contra a própria vontade, isso é crime. E quem é que está pedindo para concordar? Os homossexuais só querem respeito, não querem que ninguém concorde com eles.

E Marisa não se cansa da verborreia: "A gente não pode ter preconceito, mas também a gente não pode ser esquizofrênico de achar que TODA a população é homossexual". Só mesmo da cabeça de um crente poderia sair uma sentença como essa. Qual é o grupo de orientação LGBT que prega que TODOS são homossexuais? Eu DESAFIO essa psicóloga a mostrar um único grupo de defesa dos direitos de homossexuais que defenda essa ideia absurda de alastrar o seu comportamento a TODAS as pessoas, como se a homossexualidade fosse uma ideia imperialista como o comunismo ou o cristianismo. Quem está sendo esquizofrênico, então? Marisa deveria ser submetida à análise por algum colega de profissão.

Vamos prosseguindo: "A população não é homossexual, é heterossexual. Existem os homossexuais, que têm que ser respeitados, que têm que ser amados, mas nem por isso eu tenho que ser um." Novamente ela delira, dizendo que estão tentando obrigá-la a ser homossexual. E outra: ela diz que os gays têm que ser amados, mas não é isso que ela demonstra. Em uma declaração ao programa CQC veiculado no dia 7 de maio de 2012 (vejam link no primeiro parágrafo), Marisa Lobo diz que na sociedade ideal dela "não deveria existir nem gay, não deveria existir nem ladrão, nem hipócrita, nem homofóbico, não deveria existir nada". Primeiro ela diz que "ama" os gays. Depois, ela compara esse grupo aos "ladrões". Pelo visto, quem está sendo hipócrita aqui é ela. E, já que na sociedade ideal dela não deveria existir hipócritas, ela também não deveria existir. É preciso muita paciência para aguentar incoerências de crente tosco, muita paciência.

Marisa diz que cuidou de um homossexual com AIDS. Ótimo. Deveria cuidar de outras pessoas com AIDS também, pois heterossexuais também se contaminam. Mas, abruptamente, ela começa a falar de... INFÂNCIA??? WTF??? Será que aqui ela pretendeu cometer a mesma falácia da também notória homofóbica Myrian Rios? Ou será que ela qui dizer que homossexuais são produto de famílias "desestruturadas"? Aqui ela não deixa claro qual o teor de sua argumentação, mas parece que também não tem fundamento algum.



"Quem é feliz na condição que está, que seja. Quem não é feliz na condição que está, tem o direito de tentar mudar essa condição." - afirma Marisa Lobo. Aqui, a psicóloga acerta uma, finalmente. Quem não está feliz com a sua orientação sexual deve tentar mudar essa condição. É justamente por isso que um grupo de defesa dos direitos LGBT fundou uma campanha nas redes sociais intitulada "Marisa Lobo, me cura do meu heterossexualismo." Um exemplo dos vídeos feitos para essa campanha é esse:


Ivan de Cascadura na Campanha 'Marisa Lobo, me cura do meu heterossexualismo!'

Eu sou heterossexual, mas tenho amigos homossexuais e fico revoltado quando pessoas como essa psicóloga tentam disseminar o seu fanatismo religioso na perseguição a minorias. Acho que uma das melhores respostas dadas a essa mulher foi a do vlogueiro Yuri. O vídeo é curto, tem um minuto e doze segundos, mas vai direto ao assunto:

EU ATEU - RESPOSTA A MARISA LOBO

sexta-feira, 31 de agosto de 2012

Refutando Adauto Lourenço

ADAUTO LOURENÇO "EXPLICA" O BIG BANG

A experiência nos mostra que sempre que um religioso se mete a falar sobre ciência misturando conceitos científicos com fé, o resultado, invariavelmente, é desastroso. Isso acontece, por exemplo, com o criacionista Adauto Lourenço, que, neste vídeo, fala sobre o big bang. Primeiro, Adauto diz que o big bang "não é um fato, ainda é uma teoria". Portanto, é melhor que comecemos com a explicação sobre o que significa esse termo. Teoria é o grau máximo de confirmação de uma hipótese. Se a intenção de Adauto fosse desmerecer o big bang, deveria tê-lo chamado de "hipótese" (e seria mentira, pois o big bang não é uma hipótese, mas uma teoria). O que confirmaria essa hipótese? Simples: evidências. No caso do big bang, elas são a expansão cada vez mais acelerada do universo e algo chamado "red shift" (LINK). Aqui, Adauto recai no lugar-comum dos criacionistas de desmerecer o termo "teoria". Uma postura bastante estranha vindo de um cientista.

Em seguida, Adauto diz: "Imagina que tenha havido uma grande explosão alguns bilhões de anos atrás." Fica difícil acreditar que uma sentença como essa tenha saído da boca de um cientista, mas é justamente isso o que o doutor Adauto diz no vídeo. Ele recai no erro comum dos leigos em afirmar que o big bang teria sido uma explosão. Na verdade, a teoria demonstra que há 13,73 bilhões de anos houve uma determinada singularidade que deu início à expansão do universo. Adauto continua com o show de simplificações e desinformação: "Tudo o que existe no universo, inclusive eu e você, somos resultados desse big bang". Seria a mesma coisa que dizer que o povo brasileiro é resultado da chegada de Pedro Álvares Cabral ao país, ignorando todos os complexos processos históricos de formação da nação, passando por colônia e chegando à condição de República, recebendo influências de diversos países do mundo etc.

Adauto faz uma esdrúxula comparação entre a cosmologia e uma coisa que ele chama de "cosmologia criacionista". Para perceber que tudo o que ele diz sobre isso não faz o menor sentido, basta uma rápida pesquisa e descobriremos que o universo era muito mais quente no passado do que hoje em dia e que necessitou REALMENTE de bilhões de anos para chegar à temperatura média atual e não de alguns milhares de anos, como afirma o criacionista (LINK). Em seguida, Adauto continua insistindo com a mentira de que os cientistas encaram o big bang como tendo sido uma explosão, numa tentativa de enganar a plateia que vê a sua palestra, uma pura falácia do espantalho. Se Adauto tem um conhecimento teórico aprofundado sobre o big bang (coisa que é de se esperar de alguém que queira falar sobre o tema), ele está mentindo ao afirmar que foi uma explosão. Se ele não possui conhecimento aprofundado do tema, então ele está se comportando como leigo, coisa estranha para um doutor com formação em física.

Para encerrar, o professor Adauto recai na velha falácia dos criacionistas que consiste em distorcer a Segunda Lei da Termodinâmica para tentar dar um verniz científico aos delírios religiosos pseudocientíficos. Eis o que verdadeiramente afirma a Segunda Lei da Termodinâmica: (LINK). Adauto simplifica novamente um conceito científico que requer um razoável rigor acadêmico tanto para ser explicado quanto para ser apreendido. Depois, é curioso perceber que Adauto não se coaduna nem mesmo com os seus colegas criacionistas. O Answer in Genesis, maior site criacionista da internet, ceta vez já recomendou que os proselitistas não recaiam no erro de citar a Segunda Lei da Termodinâmica para tentar validar suas lendas religiosas de "criação". Em NENHUMA parte da Segunda Lei da Termodinâmica observamos que "as coisas" (um termo bastante genérico) caminham do "organizado" para o "desorganizado". Mais uma falácia que nem os próprios criacionistas aguentam mais.

No final do vídeo, ele tece algumas considerações sobre a explosão de uma estrela denominada pelos cientistas de "Super Nova 1987 A" e diz que tal corpo astronômico já havia explodido alguns séculos atrás. Sim, exatamente 1680 séculos atrás. Os dados científicos não ajudam nem um pouco o doutor Lourenço em sua tentativa desesperada de tentar "provar" que o universo tem apenas alguns poucos milhares de anos. Uma palestra como esta, do professor Adauto, é muito educativa. Sim, é muito educativa no sentido em que nos ajuda a perceber a diferença entre um cientista e um pseudocientista. Criacionismo sempre foi pseudociência. Outra coisa que esse vídeo nos ensina é que não basta ter um diploma acadêmico para ser considerado cientista. De que adianta estar dentro do meio científico e lutar contra a ciência? Na internet, a postura adotada por Lourenço neste vídeo recebe um nome: TROLLAGEM. Uma postura nada adequada para alguém que ostenta o título de doutor.

Ateus ficam em 3º lugar no ranking das religiões em Mato Grosso

Mato Grosso possui 234 mil pessoas que se consideram sem religião, ateias e agnósticas. Se comparado, o número se aproxima da quantidade de habitantes do município de Várzea Grande, que atualmente possui 252 mil residentes. A estatística ainda corresponde a 8% da população geral do Estado e à 3ª no ranking da religiosidade em Mato Grosso. Os dados fazem parte do Censo 2010 e foram divulgados no dia 29 de junho de 2012 (há pouco mais de dois meses) pelo Insituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). A ausência de religião no Estado só perde, numericamente, para o catolicismo, que possui cerca de 1,9 milhão de fiéis e para os evangélicos, que já somam 745,1 mil pessoas no âmbito estadual. Há ainda os espíritas (38 mil), seguidores dos conceitos afrobrasileiros (1,7 mil), pessoas que seguem os ensimentos orientais (5,4 mil) e também os indigenistas (5,1 mil).

Exemplo da população de Mato Grosso classificada como sem religião é o empresário André Alves, 26 anos, que se considera ateu. De família católica, o jovem ressalta que não acredita que haja possibilidade de existir um deus. Ele conta que os conceitos surgiram ainda na adolescência, após ingressar no mercado de trabalho e se interessar por leituras na área de sociologia e filosofia: "A partir do momento em que me desvinculei financeiramente dos meus pais, senti que também teria o direito de me expressar". Ele cita ainda a influência do irmão mais velho que na época era estudante de História. Entre as leituras, o empresário, que atua no ramo de design gráfico, destacava Karl Marx, Max Weber, Auguste Comte, entre outros.

André Alves conta que antes de optar pelo ateísmo frequentou a igreja católica junto com os pais. "Fui batizado, fiz a primeira comunhão e cheguei até mesmo a me crismar, conforme determina os conceitos do catolicismo. Mas após essa sequência religiosa, deixei de frequentar a igreja e a religião católica, devido ao que acreditava". Mesmo não seguindo conceitos de religiões, o jovem reforça o respeito que tem pela opção e opinião de cada indivíduo.

O professor-doutor Adilson José Francisco, que realiza pesquisas no âmbito da religiosidade e mídia, explica que mesmo o número de pessoas sem religião sendo expressivo no Estado, este tem apresentado queda nos últimos anos. Em prévia divulgada em 2009 pelo IBGE sobre o próprio Censo 2010, os gráficos já apontavam o declínio daqueles que antes não possuiam religião, eram ateus ou ainda agnósticos. "A tendência é que o número diminua com o passar dos anos, devido a concorrência existente nas religiões". O estudioso, que também é professor da Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT) em Rondonópolis (212 km ao sul de Cuiabá), destaca o número de igrejas que são criadas frequentemente como um dos fatores relacionados à diminuição dos dados.

"A evasão dos fiéis que antes eram católicos têm sido frequente e o aumento do número de instituições pentecostais e neo-pentecostais também é representativo. Dessa forma, pode-se classificar esses fenômenos como fatores primordiais para a redução daqueles denominados sem religião", destaca o professor. Segundo ele, as igrejas evangélicas estão buscando junto à população agnóstica, atéia e sem religião seus novos seguidores. O 'alvo' dos líderes tem sido mulheres, jovens e empresários.

Outro fator apontado pelo pesquisador foi em relação às pessoas que pertencem a mais de uma religião. Ele cita que em pesquisas realizadas com a população de Mato Grosso chegou a encontrar indivíduos que em apenas uma semana frequentavam cultos, missas, centros, terreiros, entre outros.

FONTE: Jornal A Gazeta, página 1B, Cuiabá, 30 de junho de 2012

Meu comentário: A notícia é um pouco "antiga", mas é interessante ressaltar alguns pontos da mesma: ateísmo não é "opção". Pelo teor do texto, não há como saber quantas dessas 234 mil pessoas que se declaram sem religião são pseudoateias ou pseudoagnósticas. Essas são presas fáceis da religiões e de proselitistas. O que eu chamo de "falsos ateus" e "falsos agnósticos" são pessoas que não possuem base teórica consistente para sustentar o seu posicionamento diante da vida. Muitos se consideram "ateus" ou "agnósticos" porque tiveram algum tipo de decepção com a igreja que frequentavam. Esse é um motivo ridículo para aderir a um modo de vida em que não se considere relevante a ideia da existência de seres invisíveis (divindades ou não). Por isso, mesmo que se declarem ateias ou agnósticas, tais pessoas nem deveriam ser consideradas como tal. Portanto, o pesquisador pode até estar certo, se existirem muitos pseudoateus e pseudoagnósticos nesse contingente de 234 mil pessoas apontadas pelo Censo.

O Ateísmo do Dr. House


House é uma das séries mais populares da TV. Um dos principais motivos do sucesso dessa empreitada televisiva reside, sem dúvida alguma, na personalidade do protagonista. House (interpretado por Hugh Laurie) tem sempre uma tirada espirituosa ou sarcástica na ponta da lingua. Um dos traços fortes de sua personalidade reside em sua ausência de crença em divindades. Uma de suas frases é a seguinte: "Fé é uma outra palavra para 'ignorância', não é mesmo?". Aqui, muito provavelmente, ele deve estar fazendo uma alusão ao "deus das lacunas" inventado pelos crentes para tentar explicar tudo o que a comunidade científica ainda não conseguiu desvendar.

Outra frase é: "Fé não é baseada na lógica e na experiência". É justamente isso o que torna o criacionismo uma pseudociência, já que as alegações dos pseudocientistas não podem passar pelo crivo do método científico. E já que não conseguem comprovar as suas hipóteses pelo método, os criacionistas não se diferem nem um pouco dos simplórios crentes que esquentam os bancos das igrejas. Nada na ciência é baseado em fé. O pesado investimento no Colisor de Hádrons mostra que as teorizações precisam passar pelo crivo da experiência.

Uma outra brilhante frase do Doutor House é a seguinte: "Religião é um sintoma da crença irracional e esperança infundada". Talvez isso seja duvidoso em relação aos que defendem que o "livro sagrado" de sua religião não seja literal (embora até estes abusem de falácias para defenderem a "não literalidade" dos "textos sagrados"), mas, sem dúvida, se encaixa perfeitamente em relação aos fundamentalistas. Peguemos o exemplo do cristianismo. Há algo de racional na lenda de Adão e Eva? Ou na lenda do "dia parado" de Josué? Ou no dogma de sacrifícios de sangue para pagar pecados? Os fundamentalistas defendem que tudo isso é literal, e essas são crenças absolutamente irracionais. O que House classifica como "esperança infundada" seja, talvez, dogmas como a da "volta do Messias".

O seriado Doctor House teve oito temporadas. Abaixo, alguns links para baixar os episódios das quatro primeiras temporadas. Os episódios estão em RMVB dublado. Alguns links podem estar quebrados, mas o seriado não é difícil de encontrar. Se algum link estiver inativo, uma boa alternativa é baixá-los através de programas peer-to-peer, como o Emule ou o Bit Torrent. Os links dos episódios da primeira e da segunda temporada são um pouco temperamentais. A dica é insistir, ficar clicando várias vezes no ícone de download até que apareça a caixa de diálogo para baixar o arquivo. O Share X é um péssimo servidor, requer paciência, mas, uma vez que você consegue baixar, a velocidade é tão boa quanto a do Mediafire. Os créditos dos links da 1ª e da 2ª temporadas são do hiper-flash.net.

DOCTOR HOUSE PRIMEIRA TEMPORADA:
http://sharex.xpg.com.br/files/3521456418/House.1.01.By_Zaraki_hiper-flash.net.rmvb
http://sharex.xpg.com.br/files/2956746223/House.1.02.By_Zaraki_hiper-flash.net.rmvb
http://sharex.xpg.com.br/files/6356057687/House.1.03.By_Zaraki_hiper-flash.net.rmvb
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DOCTOR HOUSE SEGUNDA TEMPORADA:
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Doctor House Terceira Temporada

Links do site do Nataniel Souza:

http://natanielsouza.blogspot.com.br/2009/11/e-verdade-aclamada-serie-dr-house-em.html

A FARSA DE PILTDOWN




Piltdown foi um sítio arqueológico localizado na Inglaterra onde, em 1908 e em 1912 foram encontrados fósseis símios, humanos e de outros mamíferos, todos juntos. Em 1913, em um sítio próximo foi encontrado uma mandíbula de macaco com um dente canino que foi considerado como sendo de um humano. A comunidade de paleoantropologistas da Grã Bretanha aceitou a ideia de que o fóssil pertencia a uma única criatura que tinha o crânio de um humano e a mandíbula de macaco. Em 1953, o então chamado "Homem de Piltdown" foi exposto como sendo uma farsa. Tratava-se de um crânio moderno e o dente da mandíbula havia sido implantado.

Para todos aqueles que são céticos em relação à ciência, tal como Charles Fort e os Forteanos, tais episódios como o de Piltdown são tidos como provas de que a ciência é, mais ou menos, uma farsa. Para todos aqueles que possuem um entendimento um pouco melhor acerca da natureza dos limites da ciência, o episódio do "Homem de Piltdown" nada mais é do que uma pequena tomada errada de caminho dentro de uma série de estradas que, apesar dos inúmeros desvios, eventualmente acaba nos conduzindo em direção ao destino certo.

Como tantos cientistas foram enganados? Stephen Jay Gould oferece várias razões para isso, entre elas, wishful thinking e preconceito cultural. A última, sem dúvida, imperou na falta de senso crítico entre os paleoantropologistas britânicos. Mas, acima de tudo, a farsa de Piltdown demonstra a falibilidade do conhecimento científico. Isso demonstra, também, o modo como teorias e fatos se relacionam na ciência. As teorias são os filtros através dos quais os fatos são interpretados (Popper). Teorias tentam explicar e fazer com que os fatos façam sentido. Por outro lado, fatos são usados para testar teorias. Gould nota que hoje um crânio humano com uma mandíbula de macaco pode ser considerado extremamente implausível e improvável. Mas no começo do século passado os antropólogos estavam impregnados de preconceito cultural, o qual considerava o grande cérebro humano como um bilhete para o poder, a principal característica evolutiva que tornou possível ao homem desenvolver todas as suas outras características peculiares. Desde então houve uma noção preconcebida de que o cérebro humano deve ter se desenvolvido em direção ao seu tamanho médio atual antes que outras mudanças tenham ocorrido na estrutura humana. Um crânio humano com uma mandíbula de macaco não teria despertado tanta suspeita da mesma forma como desperta hoje em dia. As descobertas de fósseis, desde Piltdown, mostram claramente uma progressão de hominídeos não-símios de cérebro pequeno e eretos até humanos eretos de cérebro grande. De acordo com Gould, os cientistas "modelaram os fatos" e confirmaram a sua teoria, "outro exemplo de que a informação sempre nos alcança através de fortes filtros de cultura, esperança e expectativa" (Gould 1982, p. 118). Uma vez formulada a teoria, nós vemos o que cabe na mesma.

O principal motivo pelo qual o "Homem de Piltdown" não foi desmascarado como uma fraude mais cedo foi que os cientistas não tiveram permissão para acessar as evidências, as quais foram mantidas seguramente confinadas no Museu Britânico. Para focar a atenção examinando os "fatos" de maneira mais minuciosa, com todos os cuidados para descobrir a fraude, os cientistas não tiveram sequer a permissão para examinar as evidências físicas! Eles tiveram que examinar moldes de gesso e ficar satisfeitos em contemplar rapidamente os originais para justificar a reivindicação de que os moldes eram fidedignos.

Outra razão pela qual alguns cientistas foram levados ao engano foi porque provavelmente não estava em sua natureza considerar que alguém pudesse ser tão malicioso ao ponto de se empenhar em tamanha trambicagem. De qualquer forma, um dos principais desdobramentos de Piltdown foi basicamente uma indústria de detetives tentando identificar quem espalhou o boato. A lista de suspeitos inclui:

Charles Dawson, um arqueólogo amador que encontrou os primeiros fragmentos de crânio em Piltdown;

Tielhard de Chardin, teólogo e cientista que acompanhou Dawson e Arthur Smith Woodward (Responsável pela Geologia no Museu Britânico [História Ntaural] em 1912) até Piltodown em expedições onde eles descobriram a mandíbula;

W. J. Sollas, professor de geologia em Oxford;

Grafton Elliot Smith, que escreveu um artigo sobre a descoberta em 1913;

Arthur Conan Doyle, o criador de Sherlock Holmes; e

Martin A. C. Hinton, um curador de zoologia na época da farsa de Piltdown. Um tronco com as iniciais de Hinton gravadas foi encontrado em um porão do Museu de História Natural de Londres. O tronco continha ossos manchados e entalhados do mesmo jeito que os fósseis de Piltdown.

A evidência em cada caso é circunstancial e não é muito forte. O que é mais altamente provável é que haverá muito mais livros especulando acerca da identidade do criador da farsa de Piltdown.

A Moral da Farsa de Piltdown

A moral sobre a Farsa de Piltdown é que o meio científico pode cometer falhas e a atividade humana nem sempre toma a direção certa no sentido de cumprir o seu objetivo de entender o funcionamento da natureza. Quando ocorre uma anomalia tal como a descoberta de um crânio humano com uma mandíbula de macaco, alguém já se apressa em tentar encaixar tal anomalia dentro de uma nova teoria, reexaminar a evidência em busca de erros ou interpretações equivocadas, ou mostrar que a assim chamada anomalia não é necessariamente uma anomalia, mas que, de fato, se encaixa na teoria em voga. Seja qual for o caminho escolhido pelo cientista, o mesmo deverá ser guiado mais por esperanças pessoais e preconceitos culturais do que por alguma objetividade mítica caracterizada pela coleção e acumulação de descoloramento, fatos impessoais para serem classificados dogmaticamente dentro de um Teoria Geral da Verdade Objetiva e do Conhecimento.

Mas antes de classificar cientistas como arrogantes fanfarrões fazendo alegações que posteriormente acabam sendo provadas como sendo falsas, e antes de fazer caricaturas da ciência porque a mesma não é infalível, é bom prestar atenção em alguns esclarecimentos acerca da natureza da ciência. Os fanfarrões são aqueles que depositam certeza absoluta onde não há certeza sobre nada; os fanfarrões são aqueles que não entendem o valor e a beleza das probabilidades na ciência. Os arrogantes são aqueles que pensam que a ciência é uma mera especulação só porque alguns cientistas cometem erros, mesmo que sejam erros egrégios, ou até mesmo cometem fraudes para tentar validar seus preconceitos. Os arrogantes são aqueles que não sabem dizer a diferença entre uma hipótese testável e uma não testável e que pensam que uma especulação é tão boa quanto outra. Os fanfarrões são aqueles que pensam que quando ambos, tanto cientistas quanto criacionistas ou quaisquer outros pseudocientistas expõe teorias, cada um está fazendo essencialmente a mesma coisa. Entretanto, todas as teorias não são empíricas, e entre aquelas que são empíricas, nem todas são igualmente especulativas. Ademais, aqueles criacionistas que pensam que a Farsa de Piltdown demonstra que cientistas não conseguem datar ossos com exatidão deveriam se lembrar que os métodos de datação de tais coisas melhoraram bastante desde 1910.  (LINK)

Por causa da natureza pública da ciência e da aplicação universal de seus métodos e por causa do fato de que a maioria dos cientistas não são cavaleiros defensores de seus próprios preconceitos não testados ou intestáveis, da mesma forma que muitos pseudocientistas, quaisquer que sejam os erros cometidos pelos cientistas, eles serão descobertos por outros cientistas. A descoberta será suficiente para colocar a ciência novamente nos trilhos. O mesmo não pode ser dito para os pseudocientistas como os criacionistas, cujos erros não podem ser detectados porque as suas alegações não podem ser testadas apropriadamente. E quando críticos identificam erros, eles são ignorados por crentes sinceros.

Nota: Um outro livro sobre a Farsa de Piltdown foi publicado desde a descoberta do Tronco de Hinton: Unraveling Piltdown: The Science Fraud of the Century and Its Solution, de John Evangelist Walsh (Random House, 1996). O livro aponta o dedo novamente em direção a Dawson.

LINKS SOBRE O ASSUNTO:

livros e artigos

Anderson, Robert B. "The Case of the Missing Link," Pacific Discovery (1996).
Feder, Kenneth L. "Piltdown, Paradigms, and the Paranormal." Skeptical Inquirer 14.4 (1990) 397-402.

Gee, Henry. "Box of Bones 'Clinches' Identity of Piltdown Paleontology Hoaxer," Nature (23 de Maio de 1996).

Gould, Stephen Jay. "Evolution as Fact and Theory," in Hen's Teeth and Horse's Toes (New York: W.W. Norton & Company, 1983).

Gould, Stephen Jay. "Piltdown Revisited," em The Panda's Thumb, (New York: W.W Norton and Company, 1982).

Johanson, Donald C. and Maitland A. Edey. Lucy, the beginnings of humankind (New York: Simon and Schuster, 1981).

Popper, Karl R. The Logic of Scientific Discovery (New York: Harper Torchbooks, 1959).

websites

O Perpetrador de Piltdown, por John Hathaway Winslow e Alfred Meyer

A Página do Homem de Piltdown, por Richard Harter - O site foca principalmente em quem deveria ter sido o responsável pela criação da fraude de Piltdown.

O Homem de Piltdown - A Brincadeira dos Ossos Falsos, por Richard Harter

Piltdown: O homem que nunca foi, por Lee Krystek

O Sítio de Piltdown

Desmascarando Três Boatos, por James Opie

sexta-feira, 25 de maio de 2012

Refutando Marcos Eberlin




Duas coisas chamam a atenção já no começo do vídeo que apresenta uma entrevista do criacionista Marcos Eberlin: trata-se de um programa da TV Mackenzie, braço televisivo da Universidade Presbiteriana Mackenzie, uma reconhecida entidade cristã fundamentalista. Um criacionista dando entrevista em um veículo proselitista é a coisa mais normal do mundo. Mas por que será que ainda não se viu esse tipo de "cientista" apresentando suas ideias em veículos midiáticos científicos notoriamente reconhecidos pela Comunidade Científica? Outra coisa é que o apresentador diz que o doutor Eberlin já teve publicados mais de 300 artigos. Restou falar em quantos desses artigos ele aborda cientificamente a questão de uma determinada entidade fantasmagórica criando o universo a partir do nada. O apresentador não informou realmente quantos artigos com revisão de pares que versam sobre criacionismo já foram publicados por Eberlin.
O apresentador Augutus Nicodemus começa a entrevista abordando um livro intitulado Por que a ciência não consegue enterrar a Deus, de autoria de John Lennox. Nem farei a clássica pergunta "de qual deus ele está falando?" (visto que a humanidade já inventou milhares de deuses ao longo de sua história) porque, obviamente, eles só podem estar falando do deus judaico-cristão, visto que a Mackenzie dificilmente abordaria um livro que tivesse Odin como objeto principal do "ódio" da ciência. Já pelo título, percebe-se que o livro de Lennox trata-se de uma grande perda de tempo. Parece reflexo do coitadismo que atinge a comunidade fundamentalista cristã frente às descobertas científicas que contradizem a sua fé. É o popular "mimimi": "BUÁ! Ciência malvada, quer acabar com a minha fé! Evolução não existe! Evolução não existe! BUÁ! BUÁ!".
Eberlin, obviamente, concorda com o título do livro. Em seguida, afirma que os pioneiros da ciência eram, em sua maioria, crentes. Isso é verdade, mas é irrelevante. A crença de um ou de outro cientista não significa absolutamente nada se ele não conseguir comprová-la através do método científico. Apesar de ser um cientista renomado, Eberlin parece não saber a diferença entre "crença" e "conhecimento". Ou parece ignorar de propósito. Newton acreditava em um deus, mas nunca conseguiu provar cientificamente a existência de tal entidade. Nem ele e nem qualquer outro cientista crente. O que não quer dizer absolutamente que cientistas ateus estejam com razão, mas que a questão da existência de entes invisíveis criadores está fora do escopo da experiência, o que já torna a "hipótese teológica" desprezível pela comunidade científica.
Eberlin cita o ano de 1859 como sendo a data de quando se operou uma certa "mudança de paradigma" dentro da ciência. Não por acaso, esse foi o ano da publicação de A Origem das Espécies, de Charles Darwin. Ele diz que, a partir desse ano, os cientistas passaram a explicar tudo através de "força, matéria e energia". Ele não deixa explícito, mas muito provavelmente, ele quis se referir mesmo ao livro de Darwin. Restou explicar o que a Teoria da Evolução tem a ver com fenômenos explicados a partir do trinômio por ele citado. Ou seja, aqui, Eberlin comete um típico erro criacionista ao misturar biologia evolutiva com física. Nenhuma novidade. Mas ele faz isso não sem propósito, mas para estabelecer a publicação da Origem das Espécies como uma possível data de nascimento do neoateísmo.
Uma pergunta importantíssima do entrevistador Augustus Nicodemus: "Há alguma incompatibilidade entre a ideia de um deus criador e o método científico?". Eberlin responde dizendo que o método científico é "capaz de detectar a ação de uma mente inteligente nesse universo". Mas ele não DEMONSTRA como isso seria possível. Aqui há uma grande chance de Eberlin estar mentindo. Como passar uma entidade fantasmagórica como esse alegado deus pela etapa da experiência, talvez a mais importante dentro do método? Para concluir que uma determinada ação partiu de uma mente inteligente superpoderosa é necessário provar pelo método a existência objetiva dessa mente. Mas como submeter esse deus invisível à etapa da experiência? Provavelmente Eberlin não deve conhecer a proposição do "dragão da garagem".
Eberlin recai na falácia de que a publicação do livro de Darwin significou uma aceitação imediata da Teoria da Evolução por parte da comunidade científica. O que aconteceu foi que as evidências PROVARAM que a Teoria estava certa. Não é uma aceitação cega, como acontece com certas doutrinas religiosas, guiadas por dogmas. Eberlin diz que os cientistas tentam explicar o universo através de força, energia e matéria, mas "não conseguem". Não conseguem, mas estão tentando, através das experiências do Colisor de Hádrons. E o que fazem os criacionistas? Ficam de braços cruzados, repetindo a cantilena "foi deus que fez". Ele não vai além das velhas e surradas "explicações" criacionistas, como por exemplo, a complexidade das informações do DNA, sem sequer sugerir fontes indexadas para estudos sobre a relação da complexidade do DNA e uma possível mente superpoderosa que "desenhou" essa estrutura.
Augustus e Eberlin tentam ridicularizar a evolução através de um espantalho criado por eles chamado "São Tempo, padroeiro da evolução". Com isso, eles parecem querer rebaixar a ciência à condição da religião, ridicularizando conceitos científicos através da comparação dos mesmos com ideias religiosas. Mas não demora para que o químico recaia em mais um típico erro criacionista. Dentro desse espantalho desenvolvido por ele, ele mistura abiogênese com evolução biológica, sendo que a Teoria da Evolução não se propõe a explicar a oigem da vida e sim os processos evolutivos que se operam nas espécies através da seleção natural. Não se sabe se Eberlin faz isso por ignorância ou por desonestidade intelectual.
Outra alegação de Eberlin: "A ciência tem limites". Mas será que isso reflete a realidade? O que teria realmente limites: A ciência ou a capacidade de cognoscibilidade do ser humano? O que teria realmente limite: a ciência ou o método científico? A ciência é o objetivo a ser provado e o meio pelo qual se chega ao conhecimento científico é a observação, a análise e a experiência. É possível submeter algo sobrenatural aos rigores do método em todas as suas etapas? Pelo que Eberlin fala neste vídeo, parece que sim. Só que se isso fosse verdade, ele já teria recebido o prêmio Nobel. Provar a existência de uma realidade sobrenatural seria algo realmente revolucionário, mas até hoje ninguém conseguiu provar. Ou seja, o químico se enrola para tentar justificar racionalmente a sua fé. E já que ele deprecia tanto a ciência, por que ele se formou em química e se tornou um cientista? Pelas declarações dele, ele dá a entender que a religião é superior.
Mais uma do químico: "Nós somos matéria, alma e espírito". Há pouco de ciência nessa afirmação. Em geral, os criacionistas gostam de se escorar na subjetividade da filosofia, sendo que a ciência trabalha com dados objetivos. Como não conseguem provar objetivamente as suas alegações, os criacionistas se apegam a argumentos filosóficos bastante questionáveis. Eberlin afirma ter uma "fé racional", alicerçada em "filosofia da mais alta qualidade". Mas essa é uma posição dele, e ele se esquece de falar de que a metafísica é irrelevante para a maioria da comunidade científica. A ciência é objetiva e conceitos metafísicos e teológicos nada têm de objetividade. Há um excelente texto escrito pelo biólogo Richard Dawkins intitulado A Inutilidade da Teologia que explicita bem a diferença entre a subjetividade de argumentos filosóficos e teológicos e a objetividade de conceitos científicos verificáveis empiricamente.
Por fim, Eberlin declara: "A percepção de que essa mente inteligente existe está em todos. Na realidade, a gente tenta negar, mas no fundo a gente sabe que essa mente existe." Essa é uma falácia de pressuposição. Ele pode, no máximo, falar por si próprio. Como ele pode provar que "todos" tem essa percepção? E a postura de negar é tão ingênua quanto a postura de afirmar que essa tal "mente inteligente" possua existência objetiva. Eberlin afirma isso como uma crença, pois não apresenta provas. Ele tem todo o direito. Mas, como cientista, ele não poderia, em tese, elevar uma simples crença à condição de conhecimento científico, o que é o erro crasso do criacionismo, que coloca tal proposição na vala das pseudociências. Sobram argumentos filosóficos e faltam provas que atestem o tal "desenhista inteligente". Como argumentos não significam nada para a comunidade científica, onde o que vale são apenas as evidências, os ataques do cientista Eberlin contra a ciência carecem de credibilidade.
Para encerrar, Marcos Eberlin afirma que há um "pacto" entre os integrantes da comunidade científica para "negar" o sobrenatural. Restou falar como é possível negar ou afirmar algo de existência duvidosa como essa alegada "realidade sobrenatural". Aqui, a falácia cometida pelo químico é a de petição de princípio, pois ele já parte da ideia de que o sobrenatural REALMENTE existe, sendo que não há provas que sustentem essa afirmação. Nem é preciso dizer que, se algum cientista realmente já tivesse provado a existência de alguma realidade que pudesse ser considerada sobrenatural, o mesmo já teria recebido o seu merecido prêmio Nobel. E outra: esse argumento do "pacto dos cientistas contra deus" parece mais uma daquelas "teorias da conspiração", sustentadas ingenuamente por fanáticos religiosos, como a hilária conspiração da "nova ordem mundial", supostamente arquitetada de forma maquiavélica por maçônicos e iluminatis. Ou seja, um comportamento pouco científico para um cientista tão renomado.

Links sobre Marcos Eberlin:
5 Criacionistas Desonestos do Brasil

http://www.paulopes.com.br/2012/04/pregacao-de-quimico-evangelico-contra.html

sexta-feira, 18 de maio de 2012

O Mistério dos Corpos Incorruptos







Em tese, um corpo incorruptível seria um corpo humano inteiro ou parte de um corpo humano que supostamente não apodreceria devido a ação de algum poder sobrenatural que proveria esse corpo com imutabilidade.

A Igreja Católica afirma que há muitos corpos incorruptos. Segundo a Igreja, os mesmos seriam sinais divinos que apontariam para a santidade das pessoas que outrora animavam esses corpos. Pode ser, mas esses casos parecem estar mais para cuidados funerais e sorte do que qualquer outra coisa. Os crentes também parecem querer ignorar certos aspectos naturais que colaboram para a queda do processo de decomposição. Alguns alegados casos de incorruptibilidade parecem beirar a fraude. Por exemplo, certa vez, um determinado programa de televisão mostrou um corpo de uma mulher com aparência bastante vívida e o narrador disse que aquele era o corpo preservado de Santa Teresa D'Ávila, que morreu em 1582. Na verdade, aquele corpo era de Santa Bernadette Soubirous, que morreu em 1879. Uma foto de seu corpo pode ser vista na capa de um livro intitulado The Incorruptibles (http://www.amazon.com/gp/reader/0895550660/ref=sib_dp_pt/102-0054562-1452949#reader-link), o qual afirma que o corpo estava sendo "preservado intacto desde 1879, sem embalsamamento ou outro processo artificial". Na verdade, o rosto e as mãos, que parecem tão reais na fotografia, foram cobertos com cera. A cera foi adicionada porque o rosto ficou "emaciado" quando o corpo foi exumado pela primeira vez (Nickell 1993: 92). Talvez fosse o caso do corpo de Santa Bernadette ser removido para o Museu de Cera de Madame Tussaud (http://en.wikipedia.org/wiki/Madame_Tussauds).

Alguns desses "corpos santos" supostamente incorruptíveis exalariam um doce odor quando são exumados. Os crédulos creditam esse fenômeno como um sinal de intervenção divina. Já os estudiosos sabem que esse odor é produto de fluidos embalsamantes e unguentos.

Somando-se aos inúmeros casos de santos cujas várias partes dos corpos são guardadas em relicários e veneradas pelos crentes como se fossem provas de vida depois da morte ou como prova da existência de algum deus ou algo parecido, também há exemplos seculares que são igualmente dramáticos. Por exemplo, a cabeça decapitada do Rei Charles I da Inglaterra que foi exumada depois de 165 anos e que, de acordo com o cirurgião real Sir Henry Halford:

"A aparência da pele estava escurecida e descolorida. A testa e as têmporas haviam perdido pouco ou nada de de suas substâncias musculares; A cartilagem do nariz já havia sido consumida; mas o olho esquerdo, no primeiro momento de exposição, estava aberto e cheio, embora tenha desvanecido quase imediatamente. E a barba pontiaguda, tão característica desse período do reinado do Rei Charles, estava perfeita. [A cabeça] estava bem molhada, e rendeu uma tonalidade vermelho-esverdeada ao papel e ao linho que entraram em contato com ela. A parte traseira do escalpo... Tinha uma marcante aparência fresca. O cabelo estava grosso... e de aparência quase preta..." (FONTE: http://www.mummytombs.com/mummylocator/famous.htm)

A cabeça do rei foi acidentalmente preservada, e a preservação tinha mais a ver com o método pelo qual ela foi sepultada na Capela de St. George, em Windsor, do que com qualquer alegação especial de santidade que o Rei Charles I poderia ter.

Em 1952 houve um caso fartamente publicado de um indiano Hindu da California cujo corpo foi considerado incorruptível. Paramahansa Yogananda (http://www.yogananda-srf.org/) foi o fundador da Irmandade da Auto-Realização (http://www.yogananda-srf.org/aboutsrf/index.html), que afirma que

"Em 7 de março de 1952 Paramahansa Yogananda entrou em mahasamadhi... Sua passagem foi marcada por um impressionante fenômeno. Uma declaração autenticada assinada pelo diretor do Parque Forest Lawn Memnorial testificou: 'Nenhuma desintegração física estava visível em seu corpo, mesmo depois de vinte dias depois de sua morte; esse estado de perfeita preservação de um corpo é, o tanto quanto sabemos a partir dos anais mortuários, um caso sem paralelos... O corpo de Yogananda estava aparentemente em um fenomenal estado de imutabilidade'." (FONTE: http://www.yogananda-srf.org/py-life/index.html)

A declaração do diretor do Forest Lawn, Harry T. Rowe, é precisa mas incompleta. O senhor Rowe também mencionou que ele observou uma mancha marrom no nariz de Yogananda depois de vinte dias do óbito, um sinal de o corpo não estava tão "perfeitamente" preservado assim. De qualquer forma, a afirmação feita pela Irmandade da Auto-Realização, de que a falta de desintegração física seria um "extraordinário fenômeno" é enganosa (Alguns podem imaginar o quanto teriam eles se aprofundado no anais mortuários. Imagino que muito pouco). O estado do corpo do hindu é sem paralelos, mas comum. Um típico corpo embalsamado não mostrará uma notável dessecação depois de um período de um a cinco meses após o sepultamento sem o uso de refrigeração ou cremes para mascarar odores. Em geral, o quanto menos pronunciada a patologia que causou a morte, menos notáveis serão os sintomas de necrose. Alguns corpos são tão bem preservados depois da morte, que podem permanecer sem se decompor por centenas e até milhares (http://www.pbs.org/wgbh/nova/chinamum/taklamakan.html) de anos.

Corpos humanos imutáveis são basicamente casos de aparente imutabilidade. Todos os corpos humanos e partes de corpos desintegrarão com o tempo, a menos que sejam preservados com fluidos embalsamadores ou ceras, ou que sejam mantidos em condições especiais tais como solo alcalino, ausência de oxigênio, bactérias, vermes, calor, luz e todo o resto. Há muitos casos de corpos incorruptos que podem ser explicados através do fenômeno da adipocere. Alguns corpos são "saponificados (no qual o enterro feito em solo impregnado de cal converte a gordura do corpo em um sabão duro que resiste à putrefação)" (http://www.infidels.org/library/modern/joe_nickell/miracles.html)



LIVROS E ARTIGOS SOBRE CORPOS INCORRUPTOS (Podem ser encontrados no site da Amazon):

Cruz, Joan Carroll. (1977). The Incorruptibles: A Study of the Incorruption of the Bodies of Various Catholic Saints and Beati. Tan Books & Publishers.


Nickell, Joe. Looking For A Miracle: Weeping Icons, Relics, Stigmata, Visions and Healing Cures (Prometheus Books, 1993).


Pringle, Heather. The Mummy Congress : Science, Obsession, and the Everlasting Dead (Hyperion, 2001).


Quigley, Christine. Modern Mummies: The Preservation of the Human Body in the Twentieth Century (McFarland & Company, 1998).


LINKS SOBRE O ASSUNTO:

Examinando Alegações de Milagres por Joe Nickell
http://www.infidels.org/library/modern/joe_nickell/miracles.html

Notícias das Múmias por James M. Deem
http://www.mummytombs.com/main.news.htm

Bog Bodies por James M. Deem
http://www.jamesmdeem.com/books.bogbodies.htm

"A Composição da Adipocere", artigo com revisão de pares escrito por R.F. Rutan e M.J. Marshall (do Departamento de Química da Universidade McGuill, Montreal, Canadá, janeiro de 1917)
http://www.jbc.org/cgi/reprint/29/2/319

Links sobre Adipocere
http://adipocere.homestead.com/links.html

O "incorruptível" Hambo Lama Itigelov por Brian Dunning
http://skepticblog.org/2008/11/13/the-incorruptible-hambo-lama-itigelov/#more-276

Dashi-Dorzho Itigilov
http://en.wikipedia.org/wiki/Hambo_Lama_Itigelov

Sokushinbutsu
http://en.wikipedia.org/wiki/Sokushinbutsu

Sokushinbutsu, ou Como Mumificar Você Mesmo em Quatro Passos Simples
http://www.geeked.info/sokushinbutsu-or-how-to-mummify-yourself-in-4-easy-steps/




sexta-feira, 30 de março de 2012

Dinheiro Público para Comunidades Cristãs?



Foi realizada no dia de ontem (29 de março, quinta-feira), no auditório Milton Figueiredo, uma audiência pública presidida pelo deputado estadual Emanuel Pinheiro que tratou do assunto das chamadas "comunidades terapêuticas" e sobre a possiblidade das mesmas receberem verba pública para o seu funcionamento. Durante a maior parte do tempo, o auditório mais pareceu uma igreja neopentecostal. Só faltou alguém cantar "PARA A NOOOOOOOOOOOOSSA ALEGRIIIIIIIIIIIIIIIIIAAAAAAAAAAAA...". Os religiosos aproveitaram para fazer proselitismo e um ou outro parlamentar aproveitou para disparar discurso demagógico para fazer uma média com os crentes presentes no local.

Em primeiro lugar, absolutamente ninguém é contra o trabalho dessas pessoas abnegadas que ajudam narcodependentes a se livrarem de seus vícios. O problema todo está em se discutir a possibilidade de se usar dinheiro público para financiar instituições que fazem proselitismo religioso. Isso ficou bem claro, por exemplo, no pronunciamento da doutora Daniela Bezerra, representante do Fórum Intersetorial de Saúde Mental. Ela deixou claro que um viciado que é tratado por essas comunidades cristãs não estão abandonando a dependência, só estão trocando uma droga por outra (ou seja, trocando o crack, a cocaína, o álcool etc. pela bíblia). Os monitores dessas comunidades, que também são pregadores religiosos, se aproveitam da condição de fragilidade psíquica dos viciados para inculcarem a doutrina religiosa nas mentes dos doentes. E isso é proselitismo religioso da forma mais perniciosa que existe, e dinheiro público financiando isso é um absurdo.

Robson Fireia, diretor da CUT, também se mostrou preocupado em deixar claro algo que deveria primeiramente ser preocupação dos representantes: dinheiro público tem que ser empregado exclusivamente em instituições públicas. Os serviços públicos que deveriam cuidar do problema dos usuários de drogas ilícitas deveriam receber a verba pública para funcionarem direito e não funcionam. Resta perguntar, com ceticismo: será que recebem o dinheiro? Robson também adotou a posição lúcida de defender a ciência em contraposição ao fanatismo religioso como forma de combate ao vício de drogas ilícitas. Essa mesma posição louvável também foi defendida pelo professor Reginaldo Araújo, da UFMT. Viciados em drogas deveriam ser tratados por profissionais de psicologia (e profissionais que também não façam proselitismo, pois hoje em dia existe até mesmo a figura nefasta do "psicólogo cristão"). Araújo ainda deixou claro que Cuiabá gasta cerca de 1 milhão de reais por dia no setor da saúde pública. Com todo esse dinheiro, a saúde não deveria, em tese, estar sucateda como está. Para onde vai todo esse dinheiro?

Mas o principal pronunciamento da audiência foi o do representante do Ministério Público, o promotor dr. Alexandre Guedes. Através de seu pronunciamento preliminar, pudemos perceber que o fato de que pessoas às voltas com problemas de drogadependência só procuram os parlamentares e as comunidades cristãs porque o serviço público realmente não está funcionando. Portanto, a discussão de dirigir verba pública às comunidades terapêuticas parece ser apenas um desvio de foco, pois trata-se de um absurdo. O foco principal deveria ser por que não há uma melhoria no serviço público de saúde, pois se os avanços nesse setor ocorressem de fato, não haveria a necessidade de se recorrer a essas muletas de terapias religiosas. Guedes encerrou o seu pronunciamento de forma brilhante, com uma defesa lúcida e direta da laicidade do Estado. Abaixo, trancrevo um trecho do pronunciamento do promotor:

"Quando se fala em recursos públicos para comunidades terapêuticas, nós estamos falando da mesma forma de recursos públicos para hospitais filantrópicos, e muitos deles são confessionais, são de igrejas. Então assim como uma pessoa que entra em um hospital que pertença a qualquer igreja, ela não é obrigada a receber sermões, mas ela tem que ser curada da sua apendicite, de qualquer problema que ela tenha, não se pode dar dinheiro público a quem usa proselitismo religioso. Isso tem que ser uma opção, isso tem que ser uma escolha. Não pode ser método e não pode ser condicionamento. Por quê? Porque os recursos públicos - agora eu estou falando como representante do Ministério Público do Estado brasileiro -, os recursos públicos, eles são pagos, os impostos são pagos por cristãos de suas várias denominações, são pagos por judeus, muçulmanos, umbandistas e ATEUS. E o dinheiro dos impostos, ele é todo misturado, e ele não pode ser usado para proselitismo religioso. Então essa é uma coisa que tem que ficar muito clara. Então as comunidades terapêuticas têm que aceitar as pessoas, homossexuais, ateus, umbandistas, do mesmo jeito que um hospital confessional recebe as pessoas. Quer dizer, tem que ajudar, ajudar a elas, mas não pode impor a sua religião, até por que o dinheiro dos impostos não pode ser usado, a Constituição proíbe que o dinheiro de impostos seja usado para fazer proselitismo religioso de qualquer religião. Isso vamos deixar muito claro."

Ninguém é contra o trabalho das comunidades cristãs. Sempre digo que é menos pior ver um bobalhão com uma bíblia debaixo do braço do que um bandido com um revólver na mão. Essas comunidades transformam bandidos perigosos em cordeirinhos pacíficos. Como afirmou Daniela Bezerra, os viciados, nesse caso, só trocam uma droga por outra. Mesmo assim, menos mal. O problema, como brilhantemente demonstrou o promotor Alexandre Guedes, é a possibilidade de uso do dinheiro público nessas comunidades. Ao invés de choramingar em audiências públicas, os líderes dessas comunidades deveriam pedir ajuda diretamente para Deus, e não para políticos. Como bem disse o promotor, não são apenas os cristãos que pagam impostos. Outros grupos sociais também são contribuintes e deveriam ser respeitados, pelo bem do Estado laico.

quarta-feira, 28 de março de 2012

Em Questão: A Violabilidade da Urna Eletrônica



Um grupo de técnicos em informática conseguiu decifrar os códigos de proteção da urna eletrônica em testes encomendados pelo TSE. A notícia foi divulgada na última sexta-feira (23 de março de 2012) e pode ser conferida em detalhes no seguinte link:

http://g1.globo.com/tecnologia/noticia/2012/03/unb-diz-que-descobriu-fragilidade-na-seguranca-da-urna-eletronica.html

Desde que as urnas eletrônicas entraram em funcionamento no Brasil, eu sempre me mantive cético em relação a esses aparatos tecnológicos. Em primeiro lugar, se analisarmos o cenário político internacional, seria ingenuidade de nossa parte considerar que alemães, japoneses, suecos, estadunidenses etc. sejam idiotas e que saibam menos de informática do que nós, brasileiros. Nem a Alemanha, nem o Japão, nem os Estados Unidos e nem outro país de destaque no cenário internacional adotou o modelo da urna eletrônica. Por que, hem? A resposta mais plausível seria a de que nesses países as autoridades talvez não considerem que haja realmente a possibilidade de instaurar um sistema informatizado de votação que seja plenamente confiável no que diz respeito à questão da inviolabilidade.

Mas o que estaria acontecendo com a nossa urna eletrônica? Bem, para começar, toda essa conversa do TSE de que não é possível saber a ordem de votação dos eleitores nas diversas zonas eleitorais simplesmente não é verdade. Primeiro, há uma máquina que marca a ordem cronológica em que o eleitor chega. Quando o eleitor chega ao local de votação, há um mesário que aperta o botão para liberar a urna, e esse botão está ligado a essa urna por um fio. Essa ligação física permite saber a ordem em que cada eleitor votou, porque ela não segue uma ordem alfabética e sim cronológica. O eleitor chegou lá e vota, não interessa se o primeiro nome dele começa com A ou com Z. Ou seja, o mesário sabe a ordem em que eu votei, se eu fui o primeiro a votar naquela sessão, ou se fui o último ou qualquer outra ordem.

Os técnicos da UnB conseguiram quebrar o algoritmo, mas eles não têm a lista dos nomes dos eleitores. Mesmo assim, a lista não seria tão necessária. A partir do momento em que você desvenda a sequência lógica dos dados criptografados e também existe um fio que liga a urna à mesa, teremos, em consequência, a quebra do sigilo do voto. Isso é sério! O sigilo do voto do eleitor está seriamente ameaçado no Brasil. Quem pode garantir que quem quer que seja não esteja a par de como os brasileiros votam? Seria leviandade afirmar com precisão que aconteça fraudes. Mesmo porque isso é tecnicamente muito difícil de fazer. Mas de que é possível saber como o eleitor está votando, disso eu não tenho a menor dúvida. Em relação a isso eu não sou cético.

O sigilo do voto é uma questão fundamental, porque isso é uma proteção para o eleitor e para as instituições. Se não haver essa correlação entre voto e indivíduo, a opinião do indivíduo estará preservada. O eleitor é absolutamente livre para dar a opinião que ele quiser na hora do voto. Com a violação do sigilo, há a possibilidade de se fazer antecipações através de estudos apurados de como os brasileiros votam. Isso abre um precedente preocupante, pois já sabem quase tudo sobre o cidadão, e agora também podem saber como o cidadão vota. Isso abre uma possibilidade muito grande de controle da sociedade. Por isso o sigilo é importante. O sigilo do voto é muito importante para a democracia e para a sociedade, e a urna eletrônica (como ela atualmente se apresenta) nunca garantiu isso para nós.

Se há problemas sobre a questão da inviolabilidade do voto, como foi devidamente detectado pelos técnicos da UnB, é preciso urgentemente introduzir meios de evitar com que aconteça a violação do sigilo. Se, por um lado, a urna eletrônica nunca nos deu uma garantia plena de inviolabilidade do sigilo do voto, por outro, nem devemos pensar na possibilidade de retrocesso, de voltar aos tempos do voto no papel. Todos conhecemos a realidade brasileira. A apuração dos votos no papel cria dois impasses: torna viável a possiblidade da incorrência em fraudes e cria instabilidade política devido ao processo de demora na apuração. Outro perigo disso tudo é entrar na paranoia de imaginar um cenário distópico orwelliano, tiranizando a urna eletrônica como se ela fosse instrumento de um possível "Grande Irmão".

A incomensurável improbabilidade do conspiratório controle eletrônico da sociedade, porém, também não pode abrir um precedente para imaginarmos que NÃO HAJA conspirações. Se, por um lado, a posição de crédito total às teorias conspiratórias é ingênua, o posicionamento contrário é igualmente pueril. O que não falta nos bastidores do poder é conspiração (grandes reportagens esporadicamente veiculadas pelos meios de comunicação evidenciam isso). O que torna absurda a teoria da conspiração é atribuir TUDO às atitudes conspiratórias, como se fosse possível não existir situações que não sejam conspiratórias. Por que só agora estão provando que a urna realmente é violável? Por que isso não foi feito antes? Por que o TSE resistiu tanto tempo em colocar a urna à prova?

Que se criem mecanismos mais rígidos de segurança. Mas que esses novos mecanismos de segurança não passem necessariamente pela via do retrocesso. Voltar ao período do voto no papel seria uma derrota para a democracia. Mas que os eleitores também não se iludam com teorias conpiratórias tolas. Há uma ameaça ao sigilo? Sim, há. E ela deve ser encarada com a maior seriedade. Deve ser encarada sem apelo a medidas retrógradas e sem paranoias conspiracionistas. Tudo para o bem da democracia.

Havia Dois Grampos no Meio do Caminho de Demóstenes Torres



Nas últimas semanas pipocaram na imprensa denúncias contra o senador Demóstenes Torres sobre um possível envolvimento dele com o bicheiro Carlinhos Cachoeira. No link abaixo, pode-se conferir o teor de algumas denúncias:

http://g1.globo.com/videos/goias/bom-dia-go/t/edicoes/v/suposta-relacao-de-demostenes-torres-com-carlos-cachoeira-podera-ser-investigada-pelo-stf/1877480/

As denúncias não podem servir de veredito final para afirmarmos que Demóstenes tenha vínculos profundos com a contravenção. Por enquanto, ele é apenas um suspeito. Todas essas denúncias não podem ser consideradas, em hipótese alguma, como prova. Mas é bom lembrarmos que o referido senador protagonizou um outro caso igualmente controverso. Em 2008, ainda sob o baque da Operação Satiagraha, aquela famosa operação da Polícia Federal que fez um teatrinho para prender o suspeitíssimo banqueiro Daniel Dantas e mais uma turminha de "gente da melhor qualidade", foi publicada na revista Veja a informação de que o ministro do STF Gilmar Mendes e Demóstenes Torres haviam sido grampeados pela ABIN.

Mendes concedeu dois hábeas corpus para Dantas e a suspeita da existência dos grampos foi ficando cada vez mais forte. Nessa mesma época, Mendes foi até o Palácio do Planalto para "conversar" com o então presidente Lula. Até hoje não se sabe o teor dessas "conversas" e tampouco o conteúdo dos grampos veio a público. E, por falar nisso, trata-se de um grampo bastante raro na história da espionagem brasileira, pois se trata de um grampo a favor. Conta-se que nesse grampo Mendes e Demóstenes se sobressaíam como "mocinhos da história". Nada constava que desabonasse ambos. Em 2010, a PF afirmou oficialmente que não havia encontrado quaisquer indícios de grampo nesse caso, e muito menos de que teriam sido feitos pela ABIN. Ou seja, a Veja teria dado um tiro no escuro sem acertar o alvo.

Mas o agora mitológico grampo parece ter cumprido a sua missão. Foi aí que a Operação Satiagraha começou a ser sepultada. Com a denúncia do grampo foi encerrada a carreira de Paulo Lacerda, então chefe da ABIN. A quem interessava que Paulo Lacerda saísse de cena? Logo ele, um eficientíssimo delegado que, desde a prisão de PC Farias, havia enjaulado diversos bandidos de colarinho branco. Todos sabem o final da história: Lacerda foi para Portugal, no que muitos poderiam interpretar como uma alegórica emulação de degredo, e Demóstenes Torres continuou por aqui, como um bom paladino das virtudes.
Nessa época, Demóstenes experimentou o Olimpo. Agora, dois anos depois, está amargando o Tártaro.

Mas a surpresa é que ele não está sozinho nessa parada. Segundo reportagem do jornal Folha de S. Paulo (http://www.ibgf.org.br/index.php?data%5Bid_secao%5D=2&data%5Bid_materia%5D=2726), uma enteada do ministro Gilmar Mendes é assessora parlamentar do gabinete do senador Demóstenes Torres. Na qualidade de senador, Demóstenes só pode ser julgado pelo STF, instituição da qual Gilmar Mendes é ministro, como todos sabem. É claro que, enquanto não houver provas, o senador não pode ser considerado culpado de coisa alguma. Mas não deixa de ser curioso que a situação política de Demóstenes tenha se complicado tanto justamente devido a uma prática de espionagem que, dois anos antes, ajudou a exaltá-lo.

Resposta a um Ufólatra



No fórum do blog Ceticismo Aberto, um certo defensor do chamado "fenômeno UFO" objetou algumas de minhas colocações acerca de algumas revelações sobre a "Operação Prato", que teria sido efetivada pelo Exército brasileiro na década de 1970 no norte do país. Aqui eu tomo a liberdade de reproduzir a objeção do ufófilo (que também se chama William) entre aspas. Abaixo das objeções dele, as minhas respostas:

"Vale lembrar que nossa tecnologia evolui passo a passo."

E daí?

"Lembre-se que por volta de 150 anos atrás, acreditávamos na abiogênese."

Ainda bem que em ciência não há espaço para crenças. Se você se preocupasse em pesquisar um pouco saberia que as pesquisas em torno da abiogênese são abundantes. Há uma grande quantidade de artigos científcos que tratam desse assunto. Por exemplo, a ureia já foi sintetizada em laboratório, em experiência conduzida por Friedrich Wöhler, o que prova que o orgânico pode muito bem ter sido originado pelo inorgânico.

"Que em mais ou menos 300 anos atrás, a terra era o centro do universo."

Acreditavam que a Terra era o centro do universo, mas não sabiam que não era, só para você saber a diferença entre crença e conhecimento. A ciência não trabalha com crenças. Qualquer hipótese precisa passar pelo crivo do método científico para ser considerada. Novamente você demonstra não só ignorância científica como também da História. O geocentrismo vigorou principalmente durante a Idade Média, época em que cientistas morriam queimados na fogueira da Inquisição. Ou seja, os cientistas não podiam, através de seus estudos, contradizer a tese de que a Terra era o centro do universo, defendida pela Igreja.

"E que até o ano passado, era improvável a criação de um computador quântico."

Não, não era. Há mais de uma década já se comenta que a sucessora da Era Digital seria a Era Quântica, com todos os seus gadgets. Basta pesquisar pelo assunto na internet.

"Para todas essas suas perguntas existe uma resposta verdadeira e científica, mas provavelmente não temos conhecimento científico o suficiente para respondê-las."

Nós não temos, mas quem sabe um ET teria, não é mesmo? Já que eles têm uma tecnologia tão avançada que permite que eles vençam distâncias inimagináveis com as suas naves, essas perguntas feitas por mim ao ET de Urano supostamente seriam fáceis de responder. Mas veja que o "ET" deu uma enrolada básica e não respondeu, o que me deixa com uma séria desconfiança de que não seja um ET e sim mais um desses palhaços do maravilhoso reino da internet.

"Quem sabe daqui um ano, 150 anos ou 300 anos?"

Quem viver, verá.

"Retire essas vendas dos olhos que só lhe deixam enxergar o que está a frente e, por vezes, tente olhar para os lados."

VENDAS??? Quer dizer agora que ser exigente e querer provas de alegações aparentemente absurdas é ter os olhos fechados? Eu olho para os lados, sim, e não vejo nada de extraordinário acontecendo, apenas ufólatras e ufófilos alegando coisas que não conseguem provar.

"Nossa história nos ensina que a informação é um bem que deve ser mantido para poucos, com isso, se mantém o controle da civilização."
 
Isso certamente poderia funcionar na Idade Média e até algum tempo depois. Talvez funcione hoje em dia. Mas não podemos ter certeza absoluta de que essa tua alegação seja 100% verdadeira. Por isso a teoria da conspiração é tonta: frases categoricamente afirmativas como "a informação está nas mãos de poucos para que se mantenha o controle da civilização" induzem à ideia de que TUDO é produto de uma mega-conspiração internacional, o que definitivamente não corresponde à realidade.

"Imagine só como ficaria o mundo após uma revelação governamental sobre alienígenas (supondo que são pacíficos):"

Primeiro você precisaria PROVAR que os governos escondem alienígenas, o que seria extremamente difícil. Provando, seria lógico que as autoridades se veriam obrigadas a revelar tudo. Novamente, fica fácil recair no lengalenga conspiracionista de sempre, afirmando que os governos escondem naves e corpos de ETs, mas prova que é bom, nada.

"1 – Grupos religiosos e até mesmo pessoas de pouca informação, cometeriam suicídio em massa. (Jim Jones conseguiu isso por muito menos)"

Isso não seria absurdo, visto que uma seita de ufólatras cometeu suicídio coletivo em 1998. Porém altas autoridades não deveriam se guiar por paranoias de suicídios coletivos de grupos de fanáticos. Deveriam, isso sim, colocar o bem do progresso científico em primeiro lugar. Depois, essas seitas ufólatras são insignificantes e casos como o de Jim Jones não são tão frequentes. Esse argumento do "medo de ondas de suicídio", tanto do ponto de vista dos governantes quanto de pessoas mais esclarecidas parece ser irrelevante.

"2 – Com fins pacíficos, haveriam trocas de tecnologia. (imagine que eles falem assim: não precisa queimar petróleo e poluir com essa energia infinita e não-poluente). A economia global entraria em colapso. África ficaria ainda pior. O Oriente Médio se afundaria de vez."

Como é possível afirmar com certeza que "haveria troca de tecnologia", mesmo que fossem pacíficos? E será que seres tão evoluídos estariam interessados em fazer "trocas" com uma civilização de tecnologia tão defasada como a nossa? Como alguns ufólogos poderiam provar que os ETs usam uma fonte de energia "infinita e não poluente"? Além disso, crises econômicas são cíclicas e dependem de diversos e complexos fatores, tanto para eclodir quanto para serem erradicadas. Segundo argumento meramente especulativo.

"3 – Várias religiões deixariam de existir. (Quer queira ou não, o mundo está sob controle devido à religião). O homem tende à maldade. Se ele não tem medo de morrer e ir para o inferno, purgatório, umbral, o que seja… ele não terá medo de cometer vários crimes."

A erradicação de religiões realmente seria um benefício. Mas penso ser isso utópico demais. Sua suposição parece afirmar a religião como um "mal necessário" para impor medo e converter pelo medo do "após-vida". Mas é bom lembrar que tanto durante o socialismo totalitário quanto nas teocracias (e principalmente nas teocracias) as pessoas não deixaram - e provavelmente não deixarão - de cometer atrocidades. A tendência ao crime e à brutalidade parece independer do fato de ser ateu ou religioso. Esse terceiro argumento é furado.

"4 – Creio que metade da população mundial já viu ou vivenciou algo estranho ou inexplicável. Ninguém cria histórias, ainda mais sobre ET´s para não os julgarem como loucos e dar motivo para chacotas."

De onde você tirou essa estatística? Tudo bem, conheço pessoas que contam histórias "misteriosas" que supostamente aconteceram com elas, mas sempre sem provas. Como dizem: as histórias contadas sempre são mais extraordinárias do que as histórias documentadas. Comigo já aconteceram fatos que, se eu tivesse a ingenuidade mística da maioria das pessoas, eu interpretaria pelo viés esotérico. Já vivenciei algo semelhante ao que os místicos chamam de "projeção astral", mas hoje sei que a neurologia pode oferecer explicações bem plausíveis para esse fenômeno, sem precisar recorrer a explicações místicas. Quanto ao argumento do "medo das chacotas" é bem fraco, pois esse medo não terá razão de ser a partir do momento em que você apresente PROVAS que corroborem as suas alegações. Simples relatos de avistamento não provam absolutamente nada, por maior que seja a credibilidade da testemunha.

"5 – Seia muita estupidez dizer que somos únicos no universo. Assim como foi estupidez dizer que não existia microrganismos a 150 anos atrás e que a 300 anos somos únicos e o centro do universo."

Da mesma forma que seria muita estupidez afirmar que não somos os únicos no universo sem apresentar provas. No passado as pessoas "afirmavam" coisas como o geocentrismo e outras bobagens porque a ciência não era tão avançada como nos dias atuais. Elas ACREDITAVAM que a Terra era o centro do universo, hoje SABEMOS que a Terra não é o centro sequer do sistema solar. Por mais que os crentes esperneiem, foi a CIÊNCIA que possiblitou um grande salto no conhecimento humano, e não as crendices místico-religiosas. O que a ciência não sabe, ela se cala. Existe vida em outros planetas? A resposta mais honesta é NÃO SEI. Aceitar a existência de ETs somente com relatos muito duvidosos como o do casal Hill, de Antônio Villas-Boas, de Adamski etc. é muita ingenuidade. Nõ estou afirmando que os referidos relatos sejam falsos, mas que são bastante duvidosos. Talvez tenha ocorrido algo de estranho com essas pessoas, mas afirmar que os casos sejam de origem extraterrestre é algo impreciso. A existência de vida em outros planetas não é IMPOSSÍVEL, mas é IMPROVÁVEL. Talvez venha a ser provável no futuro. Ou talvez não. Por enquanto, esse assunto continua sendo CRENÇA para os ufólatras e POSSIBILIDADE para os céticos.