segunda-feira, 22 de julho de 2013

A Crise da Representatividade no Brasil e no Mundo




O status quo da política no Brasil só vai mudar se a pressão das ruas continuar, ainda que não continue com a mesma frequência, porque esses movimentos são sempre sazonais. Mas essas evidências internas de tendência à acomodação depois da pressão inicial podem nos levar a não considerar o fato de que essas movimentações que aconteceram no Brasil são coisas que têm relação com uma crise que é mundial. Esta é um crise mundial de representatividade. A representação exercida por profissionais é que está em crise aqui, na Espanha, no Egito. É essa crise que vem se alinhavando. E as respostas que vem sendo dadas internamente são respostas dadas pelos políticos profissionais.

Na verdade, os políticos não estão dando uma resposta, eles estão é se preparando para dar o troco, porque as reivindicações do povo não vão se sedimentar enquanto não houver um questionamento efetivo da ordem no Brasil, da ordem burocrático-profissional da política brasileira, que é semelhante à realidade de outros países. A situação não vai se resolver com pequenas reformas. Aliás, é curioso, porque em países que possuem o voto majoritário distrital, eles veem os impasses e ficam pensando que seria melhor o voto proporcional com lista aberta, como tem no Brasil. E, no Brasil, como temos os mesmos impasses, eles ficam pensando que seria melhor o voto distrital, como tem em outros países.

Isso é sinal de que o problema não está aí, e, portanto, o problema não está na ordem que os políticos profissionais podem nos dar, na resposta que eles podem nos dar. Não. A resposta está num plano muito diferente, que é o de questionar o fato da representação, não a gestão ou o judiciário, mas a representação, o fato da representação ser exercida por políticos profissionais que têm a possibilidade de se reeleger infinitamente. A quebra desse paradigma, desse fenômeno infeliz gerado pela representatividade, que é o carreirismo político, é que teria que ser o alvo principal dessa possível reforma política. E esse tipo de questão está nas mãos de quem não tem o menor interesse em que isso seja efetivado.

Vejamos o caso de Renan Calheiros. Renan diz que é representante e que o avião pode ser usado para o exercício da representação. Mas em um casamento de um correligionário? Eles estão absolutamente misturando a dimensão da representação, que eles incorporaram como uma profissão em qualquer atividade que eles tenham que desenvolver e nas quais eles empreguem o tempo deles. É evidente que essas quantias como a que foi gasta por Renan são irrisórias. O gasto do Renan foi o que apareceu, mas o que tem de viagem dá uma soma grande. Essa soma pode dar, provavelmente, alguns milhões. Esses alguns milhões não tapam sequer um buraco de cárie. Então por que isso tem importância? Não é pela razão econômica, é pela razão simbólica.

Uma postura como a do senador Renan Calheiros mostra o divórcio que há entre os políticos profissionais e o tipo de representante que o povo gostaria que estivesse lá. A representação é um fluxo da sociedade no sentido em que a sociedade se manifesta e precisa se reconhecer em seus representantes. Não é como no Executivo, onde o representante não é necessariamente um representante, mas um gestor. Ele não precisa ouvir a sociedade o tempo inteiro, mas o legislativo, sim. A sociedade é fluxo, mudança, e políticos como Renan transformaram isso numa rotina, numa estrutura própria totalmente separada. O bom desses privilégios é que a imprensa pode iluminar essa distância, essa ausência de fluxo.

A imprensa realmente explicita a existência de rotinas absolutamente cristalizadas que mostram como os políticos profissionais estão de costas para nós. Quando a repórter pergunta ao Renan Calheiros se é ético usar dinheiro público em viagens particulares, ele dá uma resposta absurda para ver se cola e, quando percebe que não cola, se vê obrigado a voltar atrás. Um político voltar atrás significa que nós, o povo, estamos ganhando terreno? Duvido muito. Os políticos é que estão tentando ganhar tempo, porque na hora em que houver um recuo nos protestos, políticos profissionais como o senador Renan Calheiros voltarão a desfrutar dos mesmos privilégios espúrios que desfrutam exatamente neste momento.

O primeiro impacto das manifestações não foi eleitoral, e sim de imagem pública (vide a popularidade da Dilma, que despencou vertiginosamente após os protestos), mas isso não conta para a eleição, onde o que vale é uma imagem que também é rotinizada. Se não houver desdobramentos das manifestações até 2014, poderemos ter uma regressão nos avanços. Discute-se muito sobre o plebiscito, mas deveria haver plebiscito E referendo. As duas coisas, pois há demandas que só o plebiscito poderá resolver, e o referendo servirá para a aprovação ou não do que foi decidido no plebiscito. O fato dos políticos profissionais se mostrarem interessados nessa discussão parece ser mais uma artimanha para empurrar as coisas com a barriga e fazer as pressões por mudança esfriarem.

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