segunda-feira, 29 de julho de 2013

O Crente Que Urubuzou O Jornalista Paulo Lopes


Como é de conhecimento público, o jornalista Paulo Lopes sofreu um infarto. Ele, que mantém há anos um blog onde denuncia as atrocidades cometidas por fundamentalistas religiosos e a irracionalidade das religiões. Como não poderia deixar de ser, os urubus do fundamentalismo se aproveitaram desse lamentável fato para tentar converter o jornalista. Num texto bisonho, o leitor Claudecir começa dizendo que ficou comovido com o triste acontecimento. Até aí, tudo bem.

Em seguida, ele diz que, para um ateu, a doutrina cristã da "salvação" é ofensiva. Não, não é. É apenas idiota. Não existe NENHUMA comprovação científica de que exista vida depois da morte. E, mesmo que existisse, caberia ao crente PROVAR àquele que ele está a fim de "converter" de que a "realidade sobrenatural" por ele defendida é mais "verdadeira" do que a "realidade sobrenatural" defendida, por exemplo, pelos kardecistas. Caberia ao crente cristão provar que, ao invés de "evolução espiritual através de sucessivas reencarnações", o "espírito" passaria pelo que está descrito literalmente na bíblia.

Para o leitor em questão, quem não entende o primitivo texto do NT está com o "coração armado". Típico argumento falacioso de apelo à emoção. Céticos e ateus são racionais, coisa que a maioria dos fundamentalistas parece desconhecer. Tanto é, que ele sugere que o jornalista "desligue" o intelecto para poder "entender" a mensagem da bíblia. Só assim para um crente rebaixar um cético ou um ateu à condição do esgoto intelectual do fundamentalismo. Pura falácia ad hoc na frase: "as coisas espirituais não podem ser discernidas intelectualmente."

A falta de respeito começa no terceiro parágrafo. O crente afirma que a perspectiva do jornalista acerca da vida é "pobre". E o que seria, na visão do crente, uma perspectiva "rica"? Viver confiando em uma mitologia ancestral, que nem um esquizofrênico? Comportar-se igual um retardado que confia em uma ilusão? Depois de se julgar superior ao jornalista, o crente faz as costumeiras ameaças de crédulo desesperado e sem argumentos racionais. Ele parece delirar e diz que o jornalista será "prisioneiro das consequências de suas escolhas."

Em seguida, vem a "aula" de cosmologia e biologia: "Acha mesmo que um universo tão complexo surgiu do nada e evoluiu até a existência do homem no único planeta do sistema solar em condições exatas para a vida? Se estudar o cosmo, verá uma imensidão de galáxias, se estudar os seres vivos encontrará uma complexidade de tipos e tamanhos (do macro ao micro) e o que dizer da flora?!!". Sabe o que isso quer dizer? NADA! Ele pergunta "acha", mas ateus não acham nada, ateus estudam, pesquisam e duvidam. Quem costuma "achar" é fundamentalista, achando chifre em cabeça de gato e desprezando a Navalha de Ockham ao formular ideias idiotas como essa de "criacionismo", adicionando complexidades sem resolvê-las.

Se o crente REALMENTE estudasse cosmologia para valer, saberia que buracos negros (os objetos mais monstruosos do universo) engolem tudo num raio de alguns trilhões de quilômetros; saberia que galáxias colidem; saberia que supernovas explodem liberando quantidades absurdas de energia devastadoramente destruidora; saberia que planetas saem de suas órbitas e colidem com outros (a nossa lua foi formada assim); saberia que, na natureza, predadores estraçalham suas presas, fisicamente inferiores e vítimas fáceis de um ciclo cruel de morte que mantém a vida; saberia que a vida humana é tão frágil que pode ser aniquilada por uma simples bactéria. Se tudo isso é obra de um "planejador inteligente", parece que ele não é tão inteligente assim... Ou deve ser um sádico de marca maior.

Em seguida, o crente não se conforma com a realidade de que tudo acaba. Pobre ser humano... Se agarra a ilusões tão débeis... Mas o pior é o tipo fundamentalista, que, além de se alienar no mar da ilusão religiosa, ainda tenta arrastar outros para essa cadeia de delusão, nessa hedionda godelusion. Que tipo de doença mental é essa em que a vítima ainda deseja que outros sofram do mesmo mal, que fiquem delirando que existe uma "outra realidade" (coisa de esquizofrênico), que sigam mitos ancestrais inventados por povos sanguinários e genocidas?

Prosseguindo, o crente dispara a sua máquina de achismos: "Tem que existir um criador que tem um plano para tudo isso e nós somos seu foco principal. Tem que existir uma eternidade, caso contrário essa vida temporal não teria sentido." Como vemos, a vida TEM que ser como o crente quer, ele não aceita a realidade e adota uma "realidade alternativa". E novamente o papo furado de que para tudo TEM que ter um sentido. É curioso ver a falta de sofisticação de alguns crentes em adotar ideias ingênuas e tentar moldar a realidade de acordo com os seus desejos íntimos. Nem vou me aprofundar muito nesse assunto porque não sou psiquiatra...

No final, uma tirada que eu não sei se é ironia ou ingenuidade... Acho que a segunda opção é a certa: "ter fé em Deus é uma questão de pura inteligência". Obviamente ele se refere ao personagem bíblico. Mas, obviamente, se esquece de que a humanidade já inventou milhares de outros deuses e que esse deusinho hebraico YHVW é apenas um dentre todos eles. Ou seja, ter fé nesse deus que ele escolheu não é uma questão de inteligência, é uma questão geográfica. Se ele tivesse nascido na Índia, provavelmente estaria rezando para Shiva. Ou Ganesha. Ou Krishna. Ou todos eles.

A cereja do bolo fecal evangélico vem bem no final. Deve ser a milionésima vez que eu vejo um crente disparar a imbecil "aposta de Pascal". Além de ser uma aposta que privilegia uma única religião (existe UMA religião certa? Ou TODAS? Ou NENHUMA?), ainda lança uma falsa dicotomia ("céu e inferno"). Depois de tantas falácias, mais uma para finalizar, desta vez um ad baculum: "Pense nisso pois ainda dá tempo de fazer a escolha certa." Mas quem disse ao crente que ELE PRÓPRIO fez isso que ele chama de "escolha certa"? Algum crente diria que é a "voz de deus" e eu diria que já ouvi isso antes em algum filme ("i see dead people...").

O que mais choca é essa coisa de ficar urubuzando um ser humano que está passando por uma situação delicada em sua vida. E eu não deveria ficar chocado, pois já estive hospitalizado e já tive a chance de testemunhar crentes fanáticos entrando no quarto dos pacientes não para ajudar, mas para tentar empurrar abobrinhas bíblicas para pessoas que passam por situações nada fáceis. É um comportamento nem um pouco ético, mas é impossível fazer com que um fanático religioso entenda o quanto está sendo inconveniente. De minha parte, desejo melhoras ao jornalista Paulo Lopes.

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