segunda-feira, 29 de julho de 2013

O Papa Francisco e o Anacronismo da Igreja Católica


Eu não sei se a Igreja Católica tem que se modernizar, porque esse é um problema exclusivamente da instituição e daqueles que seguem a Igreja Católica e que ficam sempre com essa dúvida, se ela deve se modernizar ou não. O anacronismo da presença do Papa tem várias dimensões, e nós estamos vendo isso todos os dias. Por exemplo, o Papa fez uma pregação em que conclamou os jovens a se engajarem numa luta contra a corrupção (o que é muito correto, diga-se de passagem). Ele também tem um discurso de valorização da velhice, da infância, da juventude, da inclusão dos pobres etc. Mas, em momento algum ele incentivou os jovens católicos a vigiarem a própria Igreja Católica em seu atos de corrupção. A Igreja Católica está atravessada de corrupção, todo mundo sabe.

Em momento algum o Papa Francisco disse aos jovens da JMJ para ajudarem o Papa a combater a corrupção que emana da própria igreja. Em momento algum ele disse aos jovens para ficarem alertas em relação aos maus tratos da igreja com relação às crianças. Os casos de abuso sexual de padres contra crianças são notórios e conhecidos por todos. Ele tem que se manifestar SEMPRE contra isso e não apenas quando toma posse do cargo. Ele não pode simplesmente chegar em um país e se dirigir a multidões como se não estivesse acontecendo nada de grave nos bastidores da Igreja Católica. Ele tem por obrigação se dirigir a esses jovens e pedir que os mesmos ajudem a vigiar e combater as mazelas internas da própria Igreja Católica, vigiar a própria hierarquia da igreja nesse sentido.

O discurso do Papa Francisco é populista porque tenta ignorar toda a dimensão complexa e contraditória da própria instituição da Igreja Católica. Quando Bergoglio assumiu o Papado, ele até se comprometeu em combater a corrupção e os escândalos sexuais da igreja, mas o que ele não fez (e perdeu a chance de fazer durante a JMJ no Rio de Janeiro) foi conclamar a juventude católica a vigiar e combater esses males. Ele quer tratar esses problemas como sempre se tratou na igreja, como assunto que deve ser tratado internamente, sem uma partilha de responsabilidades com a própria comunidade eclesial. Talvez ele não tenha feito isso porque essas máculas ferem a imagem da igreja e mostram que essa instituição não é assim tão diferente de outras instituições humanas.

Todos esses problemas enfrentados pelo atual Papa (problemas que supostamente levaram o anterior a renunciar) mostram não apenas que a Igreja Católica é uma instituição falível, humana, que não tem absolutamente NADA de transcendente, mas também que, por ser MUITO hermética, muito fechada, os problemas internos podem ser até mais graves do que os de outras instituições humanas. Esse hermetismo da ordem eclesial mostra-se também como uma das faces que revela o gritante anacronismo dessa instituição medieval. Uma coisa é preservar os dogmas, que, por definição, são imutáveis. Outra coisa é tentar conciliar um discurso que tenta ser progressista com a manutenção desses mesmos dogmas ancestrais. Esse, talvez, seja o maior desafio que esse Papa possa enfrentar.

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