segunda-feira, 22 de julho de 2013

A Questão dos Médicos Estrangeiros no Brasil



A reclamação dos médicos com relação aos vetos da presidente Dilma ao Ato Médico não é simplesmente uma questão corporativista, mas há aí também um interesse de mercado. O governo errou em não ouvir mais a Federação Nacional dos Médicos, mas não apenas essa entidade. Quando você permite que a situação se estruture de um modo que tenha o Estado de um lado e essas entidades de outro, a coisa fica complicada. Essas entidades estão por aí há muito tempo e a representatividade das mesmas, muitas vezes, é discutível. Nesse cenário, a situação para impasses é muito clara quando o governo pretende realmente estabelecer mudanças, porque qualquer mudança vinda de cima para baixo mexe em situações acomodadas. E essas entidades, por definição, são representantes de situações acomodadas.

O governo quer uma transformação, quer uma mudança, e ele não pôs em prática o método mais razoável, que seria o de ouvir, mas não o de ouvir essas entidades em si, não apenas elas. A questão de trazer os médicos estrangeiros para trabalharem no Brasil acarreta problemas que ainda não estão sendo abordados. O problema principal, no qual até podem ser notados traços de corporativismo, é que trazer médicos de fora significa aumentar a ideia de que a medicina é quem governa a relação médico-paciente porque a barreira da língua vai transformar essa relação em uma relação ainda mais muda por parte do paciente. A anamnese, que é aquele momento em que o médico ouve o paciente, que tem o repertório da história do seu corpo, do seu sofrimento, das suas dores, da memória da sua trajetória clínica, vai ficar comprometida em nome de uma "ciência" que se aplica indistintamente sobre todo mundo que está doente, padecendo de uma doença específica. Não é assim.

Nós sabemos que a doença aterrissa no indivíduo, ela "nasce" no indivíduo, ele tem uma história. E ninguém fala disso. Ninguém está valorizando a discrepância que vai haver entre o exercício da ciência médica e o paciente como porta-voz de sua própria dor.

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