segunda-feira, 25 de março de 2013

A HOMOFOBIA DOS FUNDAMENTALISTAS

Atualmente, no Brasil, assistimos ao avanço cada vez mais ameaçador do fundamentalismo. Desde a verborragia dos televangelistas até as famigeradas "marchas" em homenagem a um certo mito palestino. Uma das consequências desse comportamento derivado de uma mentalidade medieval e embrutecedora é a homofobia. Em resposta à entrevista de Silas Malafaia ao programa de Marília Gabriela no SBT, o deputado federal Jean Wyllys (PSOL-RJ) afirmou que o pastor em questão não passa de um "semeador de ódio" e "falso profeta". A notícia foi replicada no blog do jornalista Paulo Lopes e gerou alguns comentários insanos por parte de fundamentalistas. Nesses comentários, podemos perceber o nível de ódio e irracionalidade cultivados por esse tipo de gente.

Uma das mais alucinadas em seus arroubos fundamentalistas foi uma comentarista denominada como "J. Cristã". Abaixo, alguns trechos de seus comentários, seguidos por observações feitas por mim:

"Os homossexuais estão tentando proibir os cristãos de manifestarem suas opiniões contra essa prática errada. Nós temos direito de religião, no art. 5º, inciso VI, diz:'é inviolável a liberdade de consciência e de crença, sendo assegurado o livre exercício dos cultos religiosos e garantida, na forma da lei, a proteção aos locais de culto e a suas liturgias' e temos liberdade de expressão. Eles estão restringindo o trabalho dos psicólogos (quer dizer que eles não podem considerar o homossexualismo como desvio sexual porque um grupo de pessoas não aceita?) e querem obrigar a população a aceitar esse comportamento como se fosse normal sendo que nem eles o consideram pois a maioria esconde que é gay."

O que define o que é certo e o que é errado em uma sociedade laicizada? Um livro repleto de mitos ancestrais da Idade do Bronze escrito por um povo ignorante e sanguinário? E quem está proibindo alguém de ter direitos civis garantidos? Direito de religião não é a mesma coisa de "direito ao fundamentalismo". O fundamentalismo é característica de estados totalitários e teocráticos, conhecidos por impor seus dogmas a TODOS os seus cidadãos através de coerção e violência. E o que a comentarista cita como "liberdade de expressão" poderia servir também para neonazistas expressarem o seu ódio e seu desejo de morte a judeus, nordestinos e outros grupos. A liberdade de expressão garante que você pode falar o que você quiser, livremente, mas não garante impunidade no que tange às pregações de ódio. No que diz respeito ao "trabalho" de pseudocientistas que se intitulam como "psicólogos", até mesmo eles já admitiram publicamente que a homossexualidade não é doença. Se não admitissem o engano, estariam dando atestado de burrice e, pelo menos nesse caso, foram bastante sensatos. "Homossexualismo" é um termo pejorativo, o termo correto é "homossexualidade", pois tal é uma condição comportamental. E o "grupo de pessoas" ao qual alude a comentarista é simplesmente a Organização Mundial de Saúde, autoridade máxima em emitir pareceres amplamente baseados em dados científicos. Ninguém quer que a população aceite nada, apenas que respeite, coisa que não acontece atualmente, visto os índices de assassinatos de homossexuais. Não é à toa que um dos grupos que mais aplaude esse discurso intolerante por parte dos fundamentalistas é o de neonazistas, grupo reconhecido por seu notório ódio contra homossexuais. E se a "maioria" esconde que é gay, é justamente por esse comportamento canhestro e medieval de pessoas como a referida comentarista do blog do Paulo Lopes. Talvez, se a mentalidade das pessoas fosse menos intolerante, houvesse mais pessoas "saindo do armário".

"Eu comparo o homossexualismo com as drogas (ou seja, é viciante e causa traumas psicológicos) e quanto mais eles alimentarem esse desejo errôneo mais escravo ficarão e mais difícil de se libertarem enquanto não fizerem um esforço para sair desse precipício. Os homossexuais precisam ter amor próprio, se nasceu homem tem que se aceitar e se comportar como tal e a mulher também."

Novamente devemos observar que "homossexualismo" é um termo pejorativo usado apenas por crentes mais toscos. Comparar um determinado comportamento com o uso de drogas é bastante questionável. E mais questionável ainda é quando a comentarista afirma isso sem apresentar estudos científicos confiáveis. Será que ela afirma isso por experiência própria? Mesmo que fosse, não serviria como prova, pois não passou por escrutínio científico rigoroso. Os termos "desejo errôneo" e "precipício" só encontram eco em outras mentes doentias, deformadas pelo fundamentalismo. A pregação de dogmas em comunidade religiosa é aceitável, faz parte da democracia. Agora, quando essa pregação irracional é extendida a outros que não fazem e não querem fazer parte dessa comunidade religiosa, já temos um problema. Temos que lembrar que democracia não significa a mesma coisa que "ditadura da maioria". A democracia existe para garantir os direitos até mesmo das minorias. Quando a comentarista escreve que "os homossexuais precisam ter amor próprio", ela não está criticando a prática (como os fundamentalistas gostam de alardear), mas sim a pessoa do homossexual. Caso contrário, teria escrito "a homossexualidade tira o amor próprio de quem aceita para si tal comportamento" (o que também é bastante questionável, mas pelo menos é mais coerente com o que afirmam). Prefiro pensar que a comentarista não age dessa forma por hipocrisia e sim por total ignorância, já que o fundamentalismo é um cancro que cauteriza o cérebro, destrói o senso crítico, estraçalha o raciocínio.

"O mundo nos oferece uma liberdade falsa, em Jesus temos liberdade completa e verdadeira das correntes do erro. A grande dificuldade que vejo de um pecador vir para Jesus aceitando toda verdade que consta na sua palavra é o fato deste pecador não conseguir se desprender dos prazeres do mundo. O pecador olha tudo que está a sua volta, já com uma mente cauterizada pelas mentiras que lhe foram colocadas, e não crê que Jesus é real e verdadeiro. No início da minha caminhada com Jesus, eu duvidava que poderia deixar as práticas homossexuais. Minha mente estava impregnada, acostumada, habituada com a condição homossexual em que me encontrava. Ao permitir o trabalhar do Espírito Santo de Deus em minha vida, pude ver mudanças em minha forma de pensar, onde comecei a entender meu real papel masculino. (Depoimento do ex-gay Saulo Adelino Navarro)"

Pessoas perturbadas existem em todas as condições. A perturbação mental desse suposto "ex-gay" pode ter sido derivada de outros fatores que não necessariamente a sua condição homossexual. E, é claro, uma pessoa nessas condições é presa fácil de uma doutrina como o cristianismo-paulinismo. O comportamento sexual é algo de foro íntimo, pertence somente à pessoa. Nada garante que esse "ex-gay" seja, agora, depois de sua "conversão", 100% heterossexual. Nada garante que ele esteja enganando a si mesmo. Também nada garante que ele continue homossexual. Enfim, a mente humana é bastante imprevisível. É justamente em áreas como essa, onde nada é certo 100%, que a religião e o fundamentalismo se garantem. Aí entram as "verdades absolutas", os dogmas embrutecedores que cauterizam as mentes mais suscetíveis. E a decisão é totalmente individual. É nessas horas que o ceticismo nos defende das armadilhas do fundamentalismo.

A comentarista J. Cristã apresenta, em seguida, uma lista enorme de supostos "crimes" cometidos pela militância homossexual. Não tenho conhecimento se foram abertos processos contra tais "crimes" (se é que se podem ser considerados "crimes" coisas como a parada gay), mas, ao invés de protestar na internet, não seria mais coerente processar tais pessoa por supostos desvios? E, caso confirmada realmente a conduta criminosa, como a comentarista poderia provar que tais condutas se derivaram NECESSARIAMENTE da condição sexual? Por acaso não há heterossexuais que cometem atos obscenos em público, como bem podemos constatar nas famigeradas "micaretas" e festividades similares?

"Quais são os órgãos sexuais? Vagina e pênis. O ânus foi criado para outra função (expelir fezes e gases). De acordo com pesquisas cientificas o sexo anal pode causar câncer no reto e atrapalha a retenção de fezes e gases. Cuidado com as consequências. Tudo o que Deus considera pecado é exatamente aquilo que causa o sofrimento dos humanos. DEUS é um pai amoroso. ELE nos ama muito!"

Realmente somente um fundamentalista poderia defecar verbalmente algo como "o ânus foi criado". A ciência demonstra que a anatomia foi moldada por milhões, talvez bilhões de anos de evolução biológica, e não que determinada parte do corpo foi "criada" ou "projetada". Quem afirma sandices de criação são pseudocientistas e fanáticos religiosos que falam "amém" para as bobagens pseudocientíficas defecadas por fundamentalistas com diploma universitário que se julgam "cientistas". A comentarista pretende dissertar cientificamente contra o sexo anal, mas não apresenta referências das "pesquisas científicas" por ela referidas. Depois, o que se segue é a habitual pregação chata e modorrenta, típica de todo fundamentalista acéfalo.

"Quero ver a ciência convencer a tua consciência que Deus não existe! Impossível! Desista! Fomos projetados para crer em Deus e por isso nunca conseguirá ter a certeza da sua inexistência. "

Em primeiro lugar, a ciência não procura "convencer" ninguém de nada. Quem faz isso, mediante ameaças e coerção, são as religiões, os dogmas doutrinários e os pregadores do ódio. Cientistas apenas estudam, pesquisam e divulgam os resultados de seus estudos e pesquisas, que poderão ser contestados por outros cientistas mediante evidências contrárias. Assim funciona a ciência, diferente das igrejas, onde as ovelhinhas são impedidas de possuirem senso crítico, impedidas de contestar dogmas irracionais por medo de serem mandadas a um lugar de tormentos que nem sequer conseguem provar que existe. E a crente comete falácia de pressuposição, tentando adivinhar o que se passa na consciência alheia, ignorando a questão da individualidade. Deve ser difícil para alguém acostumado com a irracionalidade do fundamentalismo tentar compreender as coisas sob um prisma racional. E realmente, é impossível provar a inexistência de certas coisas, tais como deuses, gnomos, sacis, mulas sem cabeça etc. E o que devemos fazer mediante as incertezas da vida? A ciência tem uma boa resposta: desprezá-las. Se você não pode provar a existência ou a inexistência de algo, simplesmente despreze. Não há por que perder tempo discutindo "sexo dos anjos". A ciência é objetiva, não tem tempo a perder com subjetividades. Isso recai para o campo da filosofia. Quem gosta da filosofia são os fundamentalistas mais "intelectualizados", pois, devido a falta de objetividade, podem "enrolar" ao máximo as suas presas nos sofismas e na subjetividade do teísmo.

"Vcs (ateus) dizem que só acreditam naquilo que é provado, então não deveriam dizer que Deus não existe porque ainda não conseguiram provar a sua inexistência."

Querem ver como é fácil criar uma armadilha como essa? Vejam só: "Vcs (crentes) dizem que só acreditam naquilo que está na bíblia, então não deveriam dizer que dragões existem (Salmo 44:19, Isaías 27:01) porque ainda não conseguiram provar a sua existência."

"Vcs estão tão cegos espiritualmente que não perceberam ainda que os cientistas criaram as teorias sobre a origem da vida como hipóteses e eles não tinham certeza do que afirmaram."

A sentença acima é uma prova do por quê o fundamentalismo é tão nocivo. A comentarista expõe publicamente todo o seu analfabetismo científico sem o menor pudor. Ela nem sabe a diferença entre "hipótese" e "teoria". Uma teoria surge a partir de uma hipótese e não é criada, como se fosse uma peça de ficção. A bíblia, sim, é uma criação literária, mas as teorias científicas são formulações construídas a partir de evidências, e são moldáveis a partir das descobertas de evidências subsequentes. E não existem "teorias sobre a origem da vida". O que existem são experiências como as de Urey-Miller, que tentam reproduzir as condições da Terra primitiva para tentar compreender como se formaram os fundamentos da vida.

"Acho plausível a iniciativa deles em ajudar a humanidade a entender a sua origem, mas as teorias que criaram sobre a origem da vida(Big Bang) não condizem com a realidade e deixam muitas lacunas a serem preenchidas. A única teoria digna de confiança está descrita na Bíblia Sagrada."

Novamente, devido ao analfabetismo científico, a crente afirma que "teorias são criadas". E o pior absurdo: afirma que o Big Bang explica a origem da vida. Sobre as lacunas da ciência, ela, obviamente, quer que sejam preechidas com os dogmas que ela cultiva. Ela, como todo fundamentalista, parece pretender dogmatizar o conhecimento científico. E ela encerra com mais um excremento fundamentalista, afirmando que a "única teoria digna de confiança está descrita na Bíblia Sagrada". A bíblia "sagrada" não apresenta teoria alguma, é apenas uma colcha de retalhos de mitos ancestrais. Chamá-la de "teoria", além de demonstrar analfabetismo científico, é uma artimanha de retórica para convencer ovelhinhas.

"Sei que os ateus gostam de criticar a forma como o ser humano foi formado descrita na Bíblia Sagrada mas uma coisa vc não percebeu ainda é que a ´própria ciência confirma isso . E formou o Senhor Deus o homem do pó da terra (Gênesis 2.7)."

Fiquei curioso para ver o artigo científico no qual a crente se baseou para afirmar que "a própria ciência confirma isso". Como eu já afirmei, não há teoria sobre a origem da vida, quem afirma dizer que sabe como se formou o primeiro organismo na Terra são os criacionistas. Mas, como sempre, não apresentam provas de suas alegações. Na ciência, a questão da origem da vida aponta para algumas hipóteses fortíssimas baseadas na abiogênese, mas ainda há muito o que se progredir nessa área.

"Veja o que Benjamin Franklin disse: 'Achar que o mundo não tem um criador é o mesmo que afirmar que um dicionário é o resultado de uma explosão numa tipografia'."

"Achar" é coisa de crente. Cientistas não "acham" nada. Apenas estudam, pesquisam e divulgam o resultado de seu trabalho. E também não estão se importando muito com o que leigos vão "achar" ou deixar de "achar".

Em seguida, a comentarista mergulha numa pregação enfadonha e dispensável que só surte efeito nas cabeças de ovelhinhas desprovidas de senso crítico. Comentar dogmas é "chover no molhado" e também uma grande perda de tempo. O que todos de bom senso devem fazer é ignorar pregações de crentes toscos. Ela não poderia deixar de cometer a habitual falácia ad baculum para finalizar. Há uma série de artigos muito boa sobre o mito do inferno intitulada "O Inferno Desmascarado", do site Ceticismo.net. Só essa série de artigos já coloca esgoto abaixo toda a verborreia fundamentalista da crente em questão.

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